Nos últimos cinco anos, Portugal consolidou a sua estratégia espacial, com avanços significativos e uma visão mais clara para o futuro. O ecossistema antes incipiente está a ser transformado numa rede robusta de empresas, projetos e infraestruturas que têm dado reconhecimento internacional ao país.
O presidente da Agência Espacial Portuguesa fez um balanço otimista ao SAPO TEK, destacando as conquistas dos últimos anos e os objetivos traçados para 2025. Para Ricardo Conde, os progressos não são apenas técnicos ou económicos, mas representam um ponto de viragem na forma como Portugal é visto internacionalmente.
Desde 2018, Portugal duplicou o número de empresas ligadas ao sector espacial e atraiu talentos e investimento estrangeiro. O espaço tornou-se uma área estratégica para o país, inserindo-se na diplomacia e na transformação tecnológica nacional.
“Portugal ficou mais atrativo e vê-se pelo número de empresas externas que vêm para cá fazer negócios na área do espaço. [...] O espaço entrou na nossa diplomacia e não é à toa que estamos presentes em todas as latitudes, com protocolos a nível global”, afirmou Ricardo Conde.
Os programas da Agência Espacial Europeia foram cruciais para este avanço, mas a ambição da Agência Espacial Portuguesa vai mais além. “Queremos um programa nacional de financiamento estável, público-privado, que permita traçar caminhos de longo prazo e garantir previsibilidade”, explicou o presidente.
O centro tecnológico espacial de Santa Maria, nos Açores, emerge como um dos projetos mais emblemáticos do sector. Após a conclusão da fase de desenho, está agora na fase de implementação das infraestruturas.
As obras deverão começar no segundo semestre de 2025. Antes disso, há a expectativa de que as primeiras empresas submetam licenças para lançamentos suborbitais e orbitais, nos primeiros três meses do ano.
Ricardo Conde destaca que o objetivo vai além de criar um simples “porto espacial”. “Sempre quisemos um ecossistema ligado ao acesso e retorno do espaço. Pensámos em algo mais abrangente, porque o futuro da exploração espacial é a reutilização. Portugal pode ser um ponto estratégico na Europa para missões que retornem do espaço”.
Um marco importante deste projeto será a aterragem do Space Rider, veículo reutilizável da ESA, em Santa Maria.
Esta missão inaugural não só abrirá novas oportunidades para o país como consolidará o arquipélago como um nó essencial no retorno de missões espaciais.
Clique nas imagens para mais detalhes sobre o projeto Space Rider
Portugal desempenhou um papel ativo na sua conceção, com várias empresas nacionais envolvidas no desenvolvimento do veículo. Além disso, o país embarcará uma experiência científica no primeiro voo, um monitor de radiação com potencial aplicação aeronáutica, desenvolvido pelo Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP).
“O futuro da exploração espacial é aquilo que volta e pode ser reutilizado. Ao apostar no Space Rider, Portugal está a posicionar-se como um ponto estratégico para a Europa”, sublinhou Ricardo Conde.
A ESA explica o que está previsto para o Space Rider em vídeo
Santa Maria foi escolhida como um dos locais privilegiados para o retorno devido às condições técnicas e de segurança. A implementação de infraestruturas específicas, como um landing site e uma nova estação de telemetria, reforçam o compromisso português em tornar este projeto uma realidade.
Preparar novos "voos"
Olhando para o futuro, a agência planeia realizar um estudo socioeconómico para avaliar o impacto do sector espacial em Portugal. “É um estudo para nós sabermos onde é que estamos, para perspetivarmos os próximos passos”. Servirá de base para a revisão da Estratégia Nacional para o Espaço, traçando novos pilares, possivelmente incluindo a defesa como uma prioridade.
A nível interno, a Portugal Space vai apostar na criação de comités de especialidade, que abrangem vários temas, como telecomunicações, segurança, indústria ou ciência. São comités que irão contar com a participação da sociedade civil e que servirão “para definir em também as orientações da agência para no seu plano de ação”.
Além disso, iniciativas como os programas nacionais de ciência e inovação e parcerias com entidades como a Marinha Portuguesa - que está a usar submarinos como locais análogos para conduzir investigações, com o objetivo de otimizar futuras missões espaciais tripuladas - visam consolidar a capacidade de Portugal em áreas como a exploração humana e tecnologias avançadas.
Com um crescimento exponencial no sector espacial, a meta é clara: fazer de Portugal um player de nicho em áreas estratégicas da economia espacial.
“Precisamos de nos especializar. Se tivermos sucesso, colocamos Portugal num caminho diferente, onde nunca esteve nestas tecnologias”, defende Ricardo Conde.
Também falta um quadro estável de financiamento e de previsibilidade, insistiu. “Isto é uma política pública para transformar o país, que não se pense que é o contrário. É uma parte da transformação tecnológica do país”.
Se não criarmos uma dinâmica industrial e tecnológica, possivelmente não vamos conseguir reter o talento que temos. “O espaço pode ser a resposta a este desafio”, afirmou Ricardo Conde.
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