Durante a sua intervenção no evento que assinalou mais um aniversário da Altice Labs, Alexandre Fonseca já tinha criticado as decisões erráticas em Portugal que prejudicam o investimento, apelando a um quadro mais favorável para as empresas que criam valor, ao nível da fiscalidade, regulação e também das leis de trabalho, que possam trazer mais previsibilidade.
À margem da conferência explicou aos jornalistas a avaliação que faz, e que resulta agora da sua posição no Grupo Altice. "Quando olho para Portugal, aquilo que eu vejo hoje, e tenho pena como português, é que a rentabilidade dos capitais que colocamos é inferior à das outras operações do grupo". De uma forma simples, Alexandre Fonseca explica que "por cada euro que invisto em Portugal a rentabilidade é mais baixa do que em Franca, nos Estados Unidos e do que em Israel. É isso que um accionista tem de estar preocupado".
O Co-CEO, que já liderou a Altice Portugal, onde continua a ser chaiman, diz que a falta de rentabilidade em Portugal "não é culpa da equipa de gestão", que afirma que "faz um extraordinário trabalho", mas sim devido às condições estruturais do mercado que não permitem. Recordando o processo do leilão 5G diz que é um exemplo de como não deve ser conduzido um processo, adicionando as decisões regulatórias ao leque de fatores negativos, assim como as decisões que não têm sido tomadas na área laboral e na área fiscal, que penalizam as empresas.
"Defendo uma maior flexibilidade do mercado de trabalho, e não é salários mais baixos, isso é demagogia. Estamos a falar de criar mecanismos que incentivem a flexibilidade do mercado de trabalho, a meritocracia e premiar quem trabalha e quem é produtivo, são estas as transformações que o mercado necessita", sublinha Alexandre Fonseca
O gestor afirma que "não podemos dar-nos ao luxo, de forma direta e indireta, de termos uma das cargas fiscais mais elevadas da Europa".
Apesar das criticas à rentabilidade, Alexandre Fonseca afasta a ideia de que o grupo poderá repensar a operação em Portugal. "Estamos satisfeitos com a operação em Portugal, é a que tem melhores indicadores de desempenho do ponto de vista de qualidade de serviço, é uma referência dentro do grupo Altice em todos os indicadores de qualidade aos clientes", justifica, dizendo que usa o exemplo de Portugal em todas as operações que ainda não estão tão maduras.
"Portugal é uma referência para nós e é um ex-incumbente onde tirámos muitas ilações e ensinamentos de como gerir um operador incumbente", sublinha, acrescentando que os rumores que se falaram de uma potencial venda "não fazem qualquer sentido".
"Estamos de pedra e cal em Portugal", defende Alexandre Fonseca
Em relação às críticas de que Portugal não é um mercado concorrencial, e que é preciso adicionar mais operadores, Alexandre Fonseca diz que isso são "afirmações de quem não conhece o mercado e está fechado num casulo", indicando que é preciso olhar para o mercado como um todo. "Portugal é dos mercados mais maduros que tenho sob minha responsabilidade e daqueles em que a concorrência é mais forte e os preços têm de ser vistos à luz dos serviços que oferecemos", afirma, dizendo que é isso que precisamos de ter presente.
Alexandre Fonseca admite que a entrada de um novo operador, que pelo histórico e operações noutros países, tem uma postura muito agressiva em termos de preços, preocupa no grupo, mas a resposta caberá à equipa portuguesa. A referência era feita à Digi, um dos operadores que ganhou uma licença no concurso do 5G, até porque a NOWO está neste momento em processo de aquisição com uma proposta da Vodafone Portugal que está a ser avaliada pela Autoridade da Concorrência.
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