A Sword Health existe desde 2015, mas foi nos últimos anos que o unicórnio de origem portuguesa começou a dar nas vistas e a valorização de mais de 2.000 milhões de dólares, depois da última ronda de investimento, foi uma das razões. Visto de fora parece que a empresa “ligou o turbo” e descobriu a receita para avançar à velocidade de um fórmula 1. Visto de dentro, lembram-nos que este foi um caminho construído passo a passo, num mercado altamente regulado, embora reconhecendo que a máquina está montada para continuar a crescer e acelerar a missão: ajudar 2 mil milhões de pessoas a livrarem-se da dor.
“A fisioterapia tradicional nos últimos anos não tem evoluído nada e em nada se tem beneficiado da evolução da tecnologia para fazer um melhor trabalho”, frisa Jorge Meireles, Chief Technology Officer da Sword. Ao mesmo tempo, a falta de tempo e de terapeutas foram dificultando cada vez mais o acesso a este tipo de cuidados no modelo tradicional de um para um, presencial.
“Aquilo que a Sword veio trazer de novo para o mercado foi um fácil acesso às soluções, porque é um acesso remoto, num modelo em que usamos várias técnicas de IA para ajudar os nossos fisioterapeutas a fazer um melhor trabalho de maneira mais eficiente”.
O Thrive, que até recentemente tinha a designação Digital Physical Therapy (DPT) foi o primeiro produto da Sword. É uma combinação de inteligência artificial e experiência das equipas clínicas para oferecer terapia de qualidade e alta intensidade a quem está em processos de recuperação de problemas músculo-esqueléticos, em casa e no seu tempo.
Dados internos e estudos clínicos mostram que 62% dos utilizadores terminam o programa sem dor. O recurso a medicação para controlar a dor cai até 47% e o impacto no aumento da produtividade (68%) e na diminuição do sinais de depressão (64%) são significativos.
Na comparação com os tratamentos convencionais, os números mostram que a terapia da Sword consegue obter 30% melhores resultados na recuperação de cirurgias para próteses de anca e joelho e consegue resultados equivalentes na população com doença músculo-esquelética crónica (como dor lombar e dor no ombro), mas com taxas de desistência mais baixas.
Nos últimos dois anos, a empresa focou-se no desenvolvimento de uma plataforma com ferramentas para prever, prevenir e tratar a dor, que está disponível através de mais de 10 mil empresas e é nessa estratégia de três pilares que no último ano passou de um, para mais de uma mão cheia de produtos. “Fomos evoluindo para novos produtos de uma forma muito orgânica porque a missão da Sword nunca mudou, sempre foi a mesma: libertar 2 mil milhões de pessoas da dor”.
Os novos produtos cobrem desde a saúde pélvica da mulher, à promoção de hábitos de exercício, passando pela capacidade de prever e prevenir futuras cirurgias. Neste pilar da prevenção, a Sword bebe do histórico de dados que foi acumulando, que permitiu criar modelos de IA para prever que determinado paciente vai precisar de uma cirurgia num período de seis a nove meses, por comparação com a história clínica de pacientes anteriores. “Antecipando o desfecho podemos tentar evitá-lo e já temos muitos casos em que isso foi possível”, sublinha Jorge Meireles.
Novos produtos a caminho
Em breve vão ser lançadas mais duas novas soluções, que para já a empresa não revela. Só explica o processo: “começamos a desenvolver novos produtos e quando chegam a um ponto de maturidade que, a nível clínico percebemos que começam a dar melhores outcomes que as terapias tradicionais, avançamos para a nova solução”.
A tecnologia e a inovação são peças centrais na operação da Sword. Jorge Meireles reconhece que este novo boom de inovação na área da inteligência artificial veio ajudar a companhia a ganhar velocidade. Uma parte dos processos de inovação que eram feitos em casa podem agora ser automatizados.
“Este novo boom de IA e dos LLM (large language models) trouxe-nos velocidade porque permite avançar diretamente para a implementação no produto, sem ter de investir tanto tempo na componente de I&D. Claro que não deixamos de investigar, como mostram as patentes, mas acelera processos e isso é bom para nós e para todo o ecossistema”. Desde a fundação, a Sword Health registou 37 patentes. Só no ano passado submeteu 13 novos pedidos, posicionando-se no top 3 nacional.
A equipa de tecnologia é uma das maiores da Sword e a maior parte (80%) trabalha a partir de Portugal. “É o talento português que tem dado o grande sucesso que a empresa tem”, acredita Jorge Meireles.
“Os portugueses são muito trabalhadores e inovadores. Por vezes temos o hábito de valorizar o que está fora e não notamos. Somos um país com muitos engenheiros que são muito bons naquilo que fazem e isso para nós é uma grande vantagem, porque estamos a competir com grandes multinacionais”.
Nos últimos meses a Sword anunciou dezenas de novas vagas. A nível global a empresa tem cerca de 800 colaboradores, em Portugal estão mais de 300 pessoas. A equipa de tecnologia que Jorge Meireles lidera é uma das que mais está a ser reforçada. Nos últimos anos passou de 25 pessoas para cerca de 300 e vai agora voltar a crescer, com as 120 contratações que a companhia prevê fazer em todo o mundo, para diferentes áreas. “A tecnologia não ajuda só o produto, ajuda a empresa também. Todos os nossos processos internos e equipas precisam de tecnologia”. Para que a empresa seja escalável é preciso ir otimizando a “máquina central”, lembra o responsável.
“Esse é um problema que vemos muitas vezes em startups que estão a crescer de forma muito rápida. Só se focam no produto e a máquina central da empresa continua muito manual. Acabam por falhar porque a empresa tem de ser boa no seu todo”.
No caso da Sword, a prioridade neste momento vai para o reforço na área de IA “de forma transversal a toda a empresa, desde os recursos humanos ao produto”, automatizando o mais possível todos os processos para ganhar eficiência e eliminar hipóteses de erro humano, preparando melhor a empresa para crescer e para continuar a lançar novos produtos.
Foco no crescimento e nos mercados atuais
Em Portugal, a Sword tem clientes pontuais, como a Tranquilidade, ou uma iniciativa no âmbito do Centro para a IA Responsável com o São João, que vai adaptar a solução principal da empresa para ser usada na recuperação pós-cirurgica de doentes daquele hospital do Porto, em casa. A empresa começou por abordar o mercado norte-americano e é lá que continua a apostar boa parte das fichas, até porque já lá tem montada toda a máquina necessária para suportar os serviços clínicos que fornece, desde licenças legais a equipas técnicas credenciadas, equipas legais, operações locais e toda uma cadeia logística. Está também no Canadá, na Austrália e no Reino Unido. No portfólio de clientes tem grandes multinacionais de vários sectores e seguradoras, como a Pepsi, Cisco, ou Domino's.
Para muitos clientes, os produtos da Sword tornaram-se uma forma mais eficiente e mais barata de entregar benefícios de saúde aos colaboradores. Esse tem sido um dos grandes vetores de crescimento da empresa e uma das áreas que no último ano também reforçou ainda mais. com uma nova oferta.
O Atlas é a primeira solução da Sword lançada em 150 países em simultâneo porque é uma proposta mais “light” e sem a exigência de rigor científico das restantes, como explica Jorge Meireles. Foi desenhada precisamente para ajudar “as empresas aumentarem a equidade geográfica no acesso a benefícios de saúde” e o acesso a recursos para combater a dor e prevenir problemas.
Para já a Sword só trabalha neste modelo B2B2C e não tem planos para lançar uma oferta direta para utilizadores finais. “O B2C ainda é muito complexo. Ainda existe muito tabu das pessoas em pagarem por algo digital”, admite Jorge Meireles, para além de exigir uma máquina diferente em termos de marketing e abordagem ao mercado.
O futuro próximo continuará por isso a passar pela mesma estratégia e pelas mesmas geografias. A Europa é um objetivo a prazo, mas avançar agora para um mercado tão fragmentado, com regras diferentes em cada país, consumiria recursos que a empresa quer concentrar na inovação. "Neste momento não faz sentido para nós focar em áreas que nos demorem e atrasem queremos é velocidade para termos sempre o melhor pdoduto", reconhece Jorge Meireles. “Estamos focados nos mercados onde já temos operações e entidade legal. Nos Estados Unidos ainda há muito para crescer”, lembra o CTO da Sword, e nas outras geografias onde a Sword já está também", como mostram os números. No ano passado as receitas da Sword triplicaram.
Este artigo faz parte do especial Ideias que podem mudar vidas: 5 projetos de startups portuguesas para mudar a saúde que vale a pena conhecer
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