Para contrariar o que aconteceu com o desenvolvimento do 4G, em que grande parte da monetização acabou por ser absorvida pela “app economy”, Nuno Roso diz que a Ericsson está a apostar no desenvolvimento de casos de uso para o 5G que ajudem os operadores a monetizar o investimento nas redes de nova geração. Algumas das soluções e ideias estiveram no Ericsson Imagine Live, mas há muito potencial para o que pode ser desenvolvido pelas empresas na criação de um ecossistema de tecnologias para as áreas de consumo e empresas.

“Tentamos com estes eventos estimular a imaginação de operadores e de quem desenvolve soluções, para criação de ecossistema de casos que possam beneficiar as indústrias, que têm conhecimento profundo da sua atividade. Estas demos acabam por dar uma visão do que pode ser o potencial e como pode ser utilizado para melhorar os seus negócios”, explica o responsável pela área de produtos digitais na Ericsson Portugal.

Apesar da atribuição das licenças de 5G já ter acontecido há mais de dois anos em Portugal, o desenvolvimento das soluções mais avançadas da quinta geração móvel ainda está atrasado, à semelhança do que acontece na Europa.

“Na Europa estamos atrasados na implementação do 5G, nomeadamente no 5G SA e mid-bands, que são o verdadeiro 5G”, explica Nuno Roso que detalha vários casos de utilização que tiram partido do potencial de baixa latência e alta capacidade, com flexibilidade para gerir a melhoria do serviço através de modelos fáceis para os utilizadores e de implementação rápida. Apesar deste atraso reconhecido, o responsável da área de negócio digital acredita que “estamos a tempo de implementar muitos casos de uso benéficos para empresas e sociedade”.

Na Ásia os operadores estão mais avançados nestas áreas e Nuno Roso aponta exemplos de combate ao crime, melhoria da experiência em eventos e até apoio a momentos de culinária com realidade imersiva. Entre os casos refere o de Taiwan, onde um carro patrulha combina câmaras de alta definição com slicing de rede para detetar em tempo real as matriculas dos carros e verificar se foram roubados ou têm infrações, no combate ao crime. Em Singapura já são comercializados serviços premium para eventos desportivos, como a fórmula 1, para oferecer experiências diferenciadoras de conteúdos, e na Alemanha com a ajuda de óculos de realidade aumentada é possível ter a ajuda de um chef para seguir uma receita passo a passo.

No Ericsson Imagine Live as demonstrações passavam também por modelos de formação em realidade virtual, com experiências imersivas, ou criação de gémeos digitais (digital twin) com mistura de mundos físicos e digitais, assim como a utilização de hologramas fotorealistas para comunicar.

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“Existem muitos casos que podem ser monetizados no 5G, queremos que seja diferente do que aconteceu com o 4G, onde a monetização não foi tão grande nos operadores e acabou por ir para a app economy […] o 5G tem um potencial que pode ser aplicado na área de consumo e nas empresas com características únicas que nenhuma tecnologia consegue ter”, justifica Nuno Roso.

Para já é importante que os operadores avancem com o 5G SA (stand alone) e mid-band, na faixa dos 1,7GHz a 2,5GHz, adaptando também os portais de serviço para que os clientes possam definir rapidamente se querem ter mais largura de banda e melhorar a qualidade de serviço. Nuno Roso explica que podem ser adaptadas soluções em que os clientes peçam esse upgrade quando estão a jogar um jogo ou a ver um vídeo e refere que há situações que as aplicações bancárias têm acesso direto à rede para aumentar a segurança nas transações.

Entretanto, e já depois da entrevista a Nuno Roso, em Portugal a NOS avançou com a versão 5G SA e a Altice e Vodafone também estão a trabalhar nesta atualização da rede móvel, com soluções mais avançadas noutras localizações do Grupo Altice, como a SFR.

Redes privadas para casos específicos, entre os quais o novo aeroporto

O desenvolvimento de redes 5G privadas é outra das áreas que está ainda “em fase de exploração em Portugal, embora Nuno Roso admita que existe interesse por parte das empresas e da indústria. “Temos algumas indústrias que podem beneficiar das redes privadas”, explica, justificando que a segurança e privacidade adicionais aliada às vantagens do 5G, com coberturas específicas e direcionadas, podem resultar em casos relevantes para melhoria do negócio.

“Em termos económicos pode ser muito interessante e com instalação mais rápida comparada com um modelo Wi-Fi”, defende, dizendo que a isso se soma também a maior robustez e resiliência.

Ainda assim, admite que é preciso pensar no modelo de negócio. “Para as empresas e indústrias que têm redes a funcionar é preciso que faça sentido economicamente […] Se tiver sido eito investimento numa rede wi-fi há pouco tempo vai ser difícil investir numa rede privada, mas justifica-se em situações novas, como o aeroporto que há de vir”, sublinha.