Por Bruno Amaral (*) 

Muito se tem falado sobre o ChatGPT – quase todos os dias aparece nas notícias, com diversos ângulos e exemplos –, mas como é que esta ferramenta impacta, na realidade, as nossas empresas e profissionais?

Para contextualizar quem possa ter andado mais distraído nos últimos meses, o ChatGPT é uma iniciativa da OpenAI que veio revolucionar a forma como vemos a Inteligência Artificial (IA), demonstrando ser capaz de interpretar mensagens e pedidos, responder-lhes e manter um diálogo em texto de forma bastante natural e enriquecedora. Podemos dizer que provou que a IA é cada vez mais capaz de assumir um papel ativo em muitas atividades do nosso dia a dia.

O ChatGPT já revelou ser capaz de tomar decisões médicas com um bom grau de confiança, ser aprovado em avaliações de universidades exigentes, escrever artigos e demais conteúdos com bastante qualidade, e substituir diversas atividades e funções que normalmente apenas um humano deveria ser capaz de fazer. Está, inclusive, a ser apontado como um possível substituto do motor de pesquisa Google como a nossa normal fonte de informação.

As capacidades desta tecnologia demonstram uma maturidade capaz de saltar o campo lógico e passar para uma vertente de criatividade, ensino, raciocínio e humanização, com derivações que permitem criar telas e imagens a partir de um simples pedido.

Ameaça? Oportunidade?

Na verdade, o ChatGPT não é um tópico central apenas pela sua capacidade tecnológica, mas sim porque foi capaz de tornar a IA acessível, com um formato simples e fácil de explorar, massificando a sua utilização. Em apenas dois meses, alcançou mais de 100 milhões de utilizadores e o número continua a subir – um feito notável.

A Automação e a Inteligência Artificial já são uma realidade em muitas áreas, com casos bastante conhecidos como os assistentes virtuais, como a Siri ou a Alexa, e os motores de pesquisa atuais; mas existem muitas outras soluções que recorrem a Processamento de Linguagem Natural (NLP), para entender e responder a mensagens; a Automação, para acelerar processos repetitivos; ou mesmo ao Machine Learning, para criar modelos inteligentes de aprendizagem, entre outras aplicações que há vários anos têm ajudado a transformar o nosso dia a dia. Sabemos que estas tecnologias são o futuro e farão parte do nosso quotidiano – e, sim, também sabemos que vão automatizar muitas atividades e substituir os humanos em muitas funções e tarefas.

Assim sendo, o ChatGPT tem preocupado muitas vozes do setor tecnológico, que temem que esta possa ser a primeira de várias ferramentas que vêm desvirtuar a necessidade do toque humano e ocupar “o nosso lugar”. Será mesmo assim?

A evolução constante da sociedade e do ser humano já nos trouxe revoluções industriais, transformações culturais e todo um processo de digitalização que continua em curso ao dia de hoje. Acredito que agora mesmo estamos a um passo de entrar numa nova era, que já se prepara há alguns anos, em que certas áreas e funções vão deixar de existir – mas mantenhamos em mente que novas surgirão, tal como têm surgido nos últimos anos.

O futuro

A oportunidade do amanhã passará pelo valor acrescentado que nós, como humanos, trazemos para cada desafio que a tecnologia nos ajuda a ultrapassar. A forma como pensamos de forma divergente, como nos preocupamos, e o nosso bom senso são atributos que as máquinas ainda vão levar tempo a adquirir (se alguma vez o fizerem),  e que nem os humanos aprenderam ainda a explorar totalmente.

O nosso futuro passa pela forma como vamos adotar a presença das máquinas nas nossas tarefas diárias e como vamos reinventar a nossa existência. A IA e a Automação são certezas – mesmo que mais numas áreas do que noutras – e a oportunidade reside, então, na forma como tiraremos partido delas para servir melhor os nossos clientes, tornar mais eficientes os nossos serviços e facilitar a vida de todos à nossa volta.

Quem está a reequacionar algum serviço ou produto deverá ter em conta como estas tecnologias podem melhorar a eficiência, a experiência e o impacto no negócio, mas também como ajudam as empresas a diferenciar-se do mercado e a ser melhores. Seja na criação de uma nova área de clientes, uma experiência e-commerce inovadora ou uma ferramenta de produtividade indispensável, haverá processos a automatizar, sistemas de chat e ajuda automática a oferecer, mas também melhores processos de suporte humano, de antecipação e de relação que nunca poderão faltar.

Uma nova revolução está a chegar, trazendo consigo a dúvida e a incerteza, mas este é o momento certo para repensar o futuro e focar naquilo que faz a diferença: a forma como nos relacionamos e como podemos fazer melhor todos os dias. A aposta certa será, então, ver estas ferramentas como aliados para fazerem de nós melhores humanos e melhores profissionais e conseguir, juntos, antecipar e criar o futuro.

(*) Director and Head of Devoteam Creative Tech