Por Pankaj Sharma (*)

Desde o streaming e transportes partilhados até às fábricas inteligentes e assistentes virtuais, o mundo moderno tem sido definido pelo rápido desenvolvimento de tecnologias conectadas.

Na base desta mudança para uma sociedade ‘digital-first’ estão os Data Centers. Repletos de hardware, estas potências do século XXI processam e armazenam vastas quantidades de informação diariamente. De forma simples, os Data Centers são cruciais para o bom funcionamento da vida moderna. Sem eles, os produtos e serviços que damos por garantidos – como serviços bancários, trabalho remoto ou gaming – não funcionariam.

Esta importância é frequentemente refletida nas notícias, quando problemas afetam as operações diárias – por exemplo, sempre que há interrupções que afetem os utilizadores de redes sociais como o Facebook, Instagram e WhatsApp. No entanto, as consequências de algo correr mal estendem-se muito além do domínio das redes sociais: no verão passado, dois Data Centers em Londres sofreram falhas causadas por ondas de calor, e o incidente afetou sistemas críticos de TI de diversos hospitais.

Assim, a importância da fiabilidade está bem clara para quem está nesta indústria. Os Data Centers tornaram-se um aspeto muito importante para a execução de modelos de negócios, e até mesmo nas nossas vidas quotidianas – precisam de ser resilientes.

Os riscos são, então, incrivelmente elevados. Perder a informação processada pelos Data Centers seria prejudicial não apenas para empresas e indivíduos, mas também para os governos e a sociedade como um todo.

Um mercado cada vez maior e em mudança

Atualmente, estima-se que 5.3 mil milhões de pessoas utilizam a internet, em comparação com mil milhões em 2005 – e não apenas há mais utilizadores, como a forma como consumimos conteúdo também está a mudar radicalmente. Por exemplo, milhões de pessoas a fazer streaming em direto do Super Bowl colocam uma pressão muito maior nos servidores do que milhões de pessoas a ler textos em websites de notícias, coisa que era muito comum em meados dos anos 2000.

Em paralelo à mudança de hábitos, estamos também a utilizar os nossos dispositivos durante mais tempo. Segundo um estudo da agência TEAM LEWIS, em Portugal o tempo médio de ecrã foi de 7h57 diárias em 2022 – tendo aumentado significativamente em relação a 2019 (6h42) e 2020 (7h17).

Adicionemos a isto a crescente popularidade de novas ferramentas como a IA generativa – que tem uma variedade de aplicações em diversos setores –, e a necessidade de mais Data Centers com mais capacidade torna-se ainda mais urgente.

De facto, a McKinsey prevê que nos EUA a procura de Data Centers aumentará 10% por ano até 2030, e uma imagem semelhante está a formar-se em economias como a União Europeia e o Reino Unido.

O desafio das alterações climáticas

Esta procura está a aumentar num momento em que as preocupações com as alterações climáticas estão também no auge. Os países estão a esforçar-se por alcançar metas de redução das emissões, bem como os objetivos do Acordo de Paris, e por isso não é suficiente que os Data Centers sejam fiáveis ​​– eles têm também de ser sustentáveis.

Isto coloca as empresas que desenvolvem e operam Data Centers numa posição complicada, porque as instalações de hoje consomem muitos recursos. Para além de espaço, necessitam de água e eletricidade, que utilizam em grandes quantidades, consumindo muita energia e gerando muito calor – por exemplo, um Data Center típico de 1 megawatt consome quase 380 mil litros de água por dia, apenas para os sistemas de refrigeração.

Dada esta necessidade de garantir fiabilidade operacional e manter uma pegada ambiental tão reduzida quanto possível, as empresas de Data Centers precisam de encontrar um ponto de equilíbrio.

Uma solução para o problema tem sido integrar redundância nos Data Centers – ou seja, dispor de cópias do equipamento essencial para as operações de uma instalação. A ideia é que, se houver uma falha no sistema principal, os duplicados possam entrar em ação, evitando interrupções. No entanto, mais redundância significa também maior consumo de energia e mais emissões.

Resolver este dilema não será simples, mas o setor está preparado para o desafio. A sustentabilidade e a resiliência podem e devem trabalhar de mãos dadas de agora em diante.

Ações a tomar

Dentro da própria indústria dos Data Centers, estão já a ser tomadas medidas que podem ajudar muito nesta questão da sustentabilidade. Mais de 100 operadores de Data Centers e associações do setor aderiram ao Climate Neutral Data Centre Pact, que pretende tornar os Data Centers na Europa climaticamente neutros até 2030, e conta com poderosos apoiantes como a Comissão Europeia e empresas como a Amazon Web Services, Google e IBM.

Ter ambição para efetuar mudanças é uma coisa, mas também vão ser necessárias soluções tecnológicas. As empresas podem implementar uma variedade de inovações para colocar estas métricas no cerne dos Data Centers do futuro, utilizando as melhores tecnologias já disponíveis. Por exemplo, a integração de sistemas de energia adaptativos nas operações de Data Centers pode ser transformadora; e, utilizando IA, controlos inteligentes e software, é possível incorporar tecnologias como painéis solares, armazenamento de baterias e células de combustível de hidrogénio.

Por outro lado, a desvinculação parcial da rede de eletricidade, que pode sofrer interrupções e continua fortemente dependente de combustíveis fósseis em detrimento de fontes mais limpas, poderia ser de enorme importância para a operação fiável dos Data Centers do futuro. Se uma instalação produzir e a armazenar a sua própria eletricidade, garante a segurança do fornecimento e a capacidade de manter as operações, mesmo se uma falha de energia afetar a sociedade em geral.

Também é importante pensar na otimização da refrigeração e na implementação de software de gestão de infraestrutura de Data Center (DCIM), que permite monitorizar e controlar as operações numa instalação e identificar problemas que possam levar a interrupções. Entre outros pontos, o software DCIM fornece insights em tempo real sobre parâmetros como a eficácia da utilização de energia (PUE). Uma melhor utilização significa menos energia consumida e mais resultados.

Em suma, os Data Centers atuais têm uma pegada ambiental significativa, mas são também fundamentais para conseguirmos um planeta neutro em carbono, alicerçando as tecnologias — como medidores inteligentes, painéis solares e sistemas de gestão de energia — que vão reduzir a nossa dependência de combustíveis fósseis e diminuir as contas de energia.

O futuro depende dos Data Centers, e é urgente que estes sejam vistos como facilitadores de um futuro net-zero, em vez de grandes consumidores de energia. Eles são o alicerce da sustentabilidade e podem ajudar na transição energética, e é da nossa responsabilidade — de todos nós! — construir um futuro sustentável do qual façam parte.

(*) Executive Vice President, Secure Power Division, Schneider Electric