Por Aníbal Calçada (*)
Nesta Quarta Revolução Industrial foi alterado o paradigma de como as organizações utilizam a inovação para aumentar a sua competitividade. O poder das organizações, que nas revoluções anteriores era obtido essencialmente por grandes investimentos em tecnologia, já não é suficiente para prosperar. Agora, o aumento do poder competitivo é baseado também na forma como se obtém e utiliza o conhecimento. Quem melhor montar e utilizar sistemas de informação que interliguem toda a cadeia de valor para criar formas disruptivas de trabalhar e pensar, vai tornar-se muito mais poderoso.
As novas tecnologias permitem interligar pessoas, máquinas, produtos ou outro qualquer objeto do mundo real com o propósito de digitalizar completamente as cadeias de valor. Conhecidas como “Digital Twins”, são agora criadas cópias, o mais fiéis possíveis, do mundo real no mundo digital, disponibilizando assim uma grande quantidade de informação, que contribui para aumentar a transparência e o conhecimento sobre toda a cadeia de valor. Isto permite exponenciar a velocidade com que se procede à melhoria contínua e à tomada de decisões, fulcrais para um mundo complexo e volátil. Esta visibilidade sobre toda a cadeia de valor, desde o fornecedor ao cliente final, é um fator essencial para a reindustrialização da Europa, uma vez que permitirá aumentar eficiência e produtividade industrial, criando inovação e disrupção nos processos, produtos e serviços, e respondendo de forma ágil e rápida às necessidades dos consumidores.
Existe bastante informação disponível sobre a Indústria 4.0, mas a questão principal que deve ser colocada consiste em saber como deve ser planeada e implementada de uma forma disruptiva e eficaz, maximizando o valor acrescentado para a organização. Quando se pensa na implementação de um programa de 4.0 é necessário ter em atenção quatro vetores essenciais: a convergência da estratégia e objetivos da digitalização com os da organização, a necessária disrupção dos processos existentes, a escolha de tecnologias que melhor sirvam o propósito da organização e, o que é chamado de novo petróleo do séc. XXI - os dados - informação essencial para a obtenção de conhecimento.
Para primeiro passo, importa ter noção que um programa de Indústria 4.0 nunca será eficaz sem que exista um alinhamento claro e efetivo com o plano estratégico da organização e um seguimento constante desse alinhamento, uma vez que esse programa deve ser capaz de reagir de forma rápida e eficaz a qualquer alteração nos mercados, seja da tecnologia ou da própria estratégia. Só desta forma se consegue continuar a maximizar valor para a organização.
Em segundo lugar, devem ser clarificados os processos existentes antes de serem criados novos, promovendo o envolvimento não só de todos os intervenientes, mas também de todas as partes interessadas, internas e externas, nos processos a serem digitalizados. Os novos processos devem ser desenhados como uma evolução dos atuais e de forma a serem disruptivos, evitando silos funcionais e maximizando a eficiência e produtividade em toda a cadeia de valor. Para serem disruptivos existem dois fatores essenciais: a organização deve perceber e escolher muito bem quais as tecnologias disponíveis no mercado que melhor possam suportar essa disrupção, e eliminar todas as ineficiências nos novos processos, muitas vezes existentes por resistência organizacional à mudança.
Planeando e escolhendo bem a tecnologia, os custos para a organização serão muito menores e o valor acrescentado muito maior. A variedade e disponibilidade de novas tecnologias é enorme e vai, por exemplo, da Realidade Aumentada - uma das mais promissoras para o aumento da competitividade porque traz o conhecimento para junto das operações -, à Robótica, Impressão 3D, Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA), Blockchain, 5G, RFID, AGVs e Segurança Digital, entre outras. Contudo, recorrendo a fornecedores de sistemas cloud é agora possível montar um sistema de informação completo a um custo muito mais reduzido do que no passado, e muitas vezes sem qualquer investimento de capital inicial.
Todos estes sistemas vão gerar algo que hoje em dia é muito precioso para o negócio: dados. Os dados estão para a digitalização como os alicerces para a sustentação de um edifício. É necessário implementar uma pipeline de dados, desde o fornecedor até ao consumidor, que permita obter esses dados em maior volume, velocidade, veracidade e variedade, retirando também muito mais valor dos mesmos. A IA terá um papel fulcral na utilização dos dados, gerando mais conhecimento a partir dos dados para suportar os processos de decisão, e possibilitando também que os sistemas comuniquem e se otimizem de forma autónoma, a uma grande velocidade.
Por último, é fundamental que exista uma excelente orquestração de todos estes novos sistemas de informação, de modo que tudo funcione como um único ecossistema, sendo por isso imprescindível que se proceda a uma convergência e redução de complexidade dos sistemas de informação que controlam os processos operacionais no chão de fábrica, OT (Operational Technology), com os dos processos de negócio, IT (Information Technology).
Na indústria não será mais competitivo quem apenas tiver mais e melhor tecnologia, mas sim quem melhor a souber aplicar para a obtenção de conhecimento em toda a cadeia de valor e, utilize esse conhecimento para a criação de processos disruptivos e resilientes.
(*) Consultor Indústria 4.0 Bosch Industry Consulting
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