Por Joao Rodrigues (*)

A história da humanidade oferece-nos uma conclusão clara: somos definitivamente uns eternos sonhadores. Alimentamo-nos do entusiasmo e abrimos as asas à nossa imaginação para colocar tudo ao nosso alcance. Queremo-nos integrar e sentir que representamos um papel fundamental na sociedade. Mas, o que é que o Metaverso tem a ver com isso?

Grande parte da nossa sociedade tem tendência para exigir mais do que a simples realidade oferece, pelos mais diversos motivos. Cada vez mais usamos os telemóveis, televisões, consolas de jogos e óculos de realidade virtual como ferramentas para expandir a realidade. Necessitamos constantemente de estimular os nossos sentidos e a tecnologia surge como um catalisador de novas oportunidades. Podemos, então, considerar o Metaverso como o clímax dessa estimulação.

O Metaverso é um nome que se tornou popular recentemente e tem um enorme potencial para albergar todos os outros nomes de tecnologias que ouvimos falar (blockchain, IoT, inteligência artificial, realidade virtual, realidade aumentada, etc.). É muito provável que quase toda a tecnologia digital que usamos seja também utilizada usada no Metaverso para oferecer melhores experiências e mais valor ao utilizador.

Pense no Metaverso como o seguinte:

Da mesma forma que liga o computador para entrar nas páginas de internet, olhando para um ecrã, será necessário ligar uns óculos de realidade mista para entrar numa internet imersiva com páginas não em duas, mas em três dimensões. Estas novas tecnologias possibilitarão que uma página de internet não seja apenas constituída por texto, imagem, áudio ou vídeo, mas abrirá as portas a novas experiências em mundos com três dimensões, acompanhadas, em simultâneo, com a presença digital de outros utilizadores.

Seremos capazes de assistir a concertos holográficos das nossas bandas favoritas; de colaborar com equipas numa sala virtual em que cada um tem o seu avatar, webcam ou até captura volumétrica; seremos capazes de viajar pelo mundo e de ter conversas com figuras históricas de cada região; explorar as ruas de outros locais do mundo que foram digitalizados em 3D; interagir com as nossas casas através da aliança entre o IoT e a realidade mista, em que podemos estar no aeroporto e entrar nas nossas casas para desligar aquela luz que fica sempre esquecida. Resumidamente, seremos capazes de estar verdadeiramente presentes a qualquer hora e em qualquer lugar.

Para tal, deseja-se um Metaverso mais humano e, por isso, são necessárias funcionalidades que nos façam sentir realmente lá. Funcionalidades como a interação entre os objetos 3D e o ambiente 3D que terão de se comportar tal como acontece na realidade, assim como a expressão humana que deverá ficar exposta em avatares credíveis e as interações humanas que deverão ocorrer em tempo real com outros utilizadores através da voz e do toque, entre outros.

Todas estas tecnologias evoluem todos os dias, por isso o termo Metaverso precisava de nascer para abranger e oficializar o caminho que se tem procurado para abranger vários estes temas.

Numa visão futurista o Metaverso vai permitir a criação de uma (quase) segunda vida, um certo alter-ego, que procurará satisfazer a necessidade inerentemente humana de vivenciar novas experiências enriquecedoras e emocionantes, muito próximas da realidade. Novas experiências desencadeiam reações químicas no nosso corpo que nos fazem sentir vivos, é por isso que todos nos sentimos entusiasmados em relação à promessa que estas tecnologias oferecem.

Podemos escolher ser quem nós quisermos graças ao Metaverso.

Isto tem aspetos bons e menos bons. O Facebook, agora com o novo nome de Meta, escreve que o Metaverso não significa necessariamente gastar ainda mais tempo na internet e no digital, mas sim passar esse tempo de uma forma mais valiosa. É quase inevitável não gastar ainda mais tempo no Metaverso uma vez conectados e em constante interação com o digital.

É, também, fundamental salvaguardar a privacidade e a proteção de dados. Apesar do aumento da pressão exercida pela Comunidade nas gigantes tecnológicas relativamente à conscientização da utilização de dados de forma mais fiável e segura, o Metaverso ainda se encontra numa zona muito cinzenta relativamente a essa questão. Imagine que as suas informações pessoais como o nome, número fiscal, morada, etc., eram transformadas num NFT (non-fungable token) por outra pessoa, como é que isto se resolveria?

Muitas perguntas e muitas ideias ficam no ar, é um novo mundo cheio de possibilidades e problemas para resolver, e é por isso que o Metaverso está rapidamente a tornar-se num mercado que pode vir a valer triliões de dólares.

(*) Diretor Executivo - Dotesfera