Por Eduardo Oliveira (*)

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No seu aclamado livro, The World is Flat, Tom Friedman explicou-nos de forma muito simples a dinâmica demolidora que está por detrás das principais mudanças nos negócios e na concorrência entre empresas, permitidas pela evolução tecnológica, nos últimos anos. Um dos temas mais explorados tem a ver com os modelos de sourcing que as empresas têm utilizado com o objetivo de se tornarem mais competitivas, diminuírem custos e em particular, diminuírem o time to market dos seus produtos e serviços.

Em resumo, a concorrência global leva a que a maior parte dos negócios sintam necessidade de baixarem custos e venderem os produtos aos seus clientes de uma forma mais rápida, mantendo obviamente a sustentabilidade.

O offshoring tem sido uma prática constante para muitas empresas, em particular na vertente de TI e SI, com a enorme capacidade de largura de banda e recursos computacionais (e outros) que foi criada, segundo Tom Friedman, deve-se a dois fatores: as necessidades provocadas pelas mudanças do millenium bug e também a bolha da Internet, no final do séc. XX.

Sendo um facto incontestável, e com sucesso global, o offshoring tem conhecido também algumas desvantagens, sendo a mais vulgarmente referida a de diferenças culturais e de perceção de conceitos.

Um outro conceito tem vindo a ter sucesso, em particular na Europa, com o entendimento de que existem soluções alternativas de sourcing com maior proximidade e, logicamente, afinidades culturais e linguísticas. O nearshoring subentende que o prestador de serviços está fisicamente mais próximo dos seus clientes, deslocando-se até eles em poucas horas, em caso de necessidade, possuindo caraterísticas culturais e vivências comuns.

Este modelo parece ter sido desenhado à medida de um país como o nosso, em diversos áreas de negócio, e principalmente na prestação de serviços de integração de soluções informáticas.

Com efeito existe um conjunto de fatores diferenciadores e que colocam Portugal numa posição claramente vantajosa para ser um nearshore para o resto dos países da Europa. Agrupamos esses fatores em duas classes distintas, de acordo com a sua origem:


  • Técnicas
    • Disponibilidade de recursos humanos qualificados nas áreas de tecnologia. Portugal tem uma elevada percentagem de profissionais nestas áreas, sendo reconhecido globalmente por várias empresas que competem no mercado global.
    • Capacidade de formação. Possuímos uma rede de ensino superior universitário e politécnico com qualidade, que cobre o país de norte a sul, com inúmeros cursos ligados às tecnologias de informação e comunicação.
    • Proficiência no entendimento e conversação noutros idiomas e em particular no Inglês, fruto da vivência cultural e da formação.

  • Sociais e de contexto
    • Enorme capacidade de adaptação e pré-disposição dos portugueses para trabalhar em ambientes multiculturais. Não fomos nós, segundo Martin Page, The First Global Village?
    • Inexistência de um grande número de projetos de dimensão no universo da integração de soluções. Os profissionais portugueses não possuem, infelizmente, um tão grande número de oportunidades em termos de projetos e de carreira internacional como seria desejável.
    • Apetência pelas tecnologias de informação. Os portugueses são amplamente reconhecido pela sua capacidade de adaptação e utilização de novas tecnologias. Já para não mencionar o espírito inovador e a capacidade criativa que nos são atribuídos.
    • Proximidade de um grande número de países desenvolvidos, com escassez de recursos qualificados em tecnologias para o volume de trabalho existente e previsto.

Estes são alguns dos fatores que levaram a Bizdirect a investir na criação de um novo Centro de Competências na cidade de Viseu, numa convergência de interesses com o Instituto Politécnico de Viseu e a Autarquia Local.

O Centro permitirá alavancar os serviços profissionais da Bizdirect, numa perspetiva internacional, inteiramente focados em tecnologias Microsoft, em particular nas plataformas Dynamics CRM, SharePoint e BizTalk.

Não se pretende disponibilizar recursos em modelo de outsourcing tradicional a clientes europeus, aliás consideramos que essa vertente está já bem desenvolvida e ativa em Portugal. Pretende-se sim promover as competências e desenvolver projetos em vários países da Europa, a partir de Portugal, e com uma grande preocupação na fixação do capital humano local, apoiando ainda o desenvolvimento regional.

Cremos ser este um caminho para o desenvolvimento de Portugal e para a criação de empregos qualificados e com capacidade de acrescentar valor. Simultaneamente promovem-se as qualificações escolares e profissionais dos portugueses e criam-se oportunidades e desafios internacionais a jovens recém-licenciados.

(*) Responsável pelo Centro de Competências da Bizdirect