O veículo robótico Perseverance está prestes a passar pela sua maior prova de fogo até agora: pousar com sucesso em solo marciano. Neste momento a “queimar” os últimos quilómetros de distância - dos cerca de 400 milhões que o separaram inicialmente do seu destino -, a chegada ao solo do Planeta Vermelho está prevista para as 20h55 (hora em Portugal) desta quinta-feira, com a transmissão online das últimas horas da missão a iniciar-se às 19h15.

O lançamento da missão Mars 2020 Perseverance aconteceu em julho de 2020, desde Cabo Canaveral, mas os preparativos da viagem até Marte e dos vários instrumentos científicos a bordo remontam a muito antes.

Enquanto esteve a ser preparado para as exigências da missão todo o terreno que o espera, o veículo robótico de dimensão próxima à de um automóvel ganhou pernas e rodasum braço até um helicóptero. Também teve de “treinar alguns “moves”, de passar em testes de condução e, mais recentemente, de aprender a manter o equilíbrio.

Nestes e em vários outros instrumentos e tecnologias assentam as capacidades que vão permitir ao rover da NASA cumprir o seu principal objetivo de procurar por sinais de vida em Marte. Enquanto isso, vai tentar compreender melhor a geologia do planeta vermelho, recolhendo e armazenando, com a ajuda de uma broca, amostras de rocha e solo que poderão ser devolvidas à Terra posteriormente.

Também vai testar novas tecnologias e realizar experiências que pretendem contribuir para criar as fundações das futuras viagens espaciais com humanos, a Marte e a outros corpos celestes.

Entre os vários recursos que o apetrecham, o Perseverance “guarda” um scanner de ambientes habitáveis e ferramentas para análise da composição química de corpos rochosos ou para mapeamento contextual da geologia e do clima do planeta vermelho, tentando perceber a evolução dos mesmos. Também integra uma unidade que será capaz de produzir oxigénio a partir da atmosfera de dióxido de carbono de Marte.

Além disso, o rover “marciano” tem várias câmaras ao seu serviço, com capacidades de curta e de longa distância, que servirão para identificar e mapear diferentes elementos e além de uma tecnologia similar a um radar, que lhe permite “desencantar” elementos enterrados.

Há um todo o terreno, mas também há um helicóptero

Perseverance é, sem dúvida, o protagonista na missão Mars 2020 da NASA, mas também há lugar para a contracena com um outro “ator”: um mini helicóptero. De nome Ingenuity, o pequeno veículo servirá para perceber se é possível voar em Marte, recolhendo dados sobre o comportamento de uma aeronave noutro planeta.

Missão da NASA a Marte tem a bordo um mini-helicóptero que se vai estrear no Planeta Vermelho
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A tarefa não se antevê fácil: a atmosfera fina de Marte dificulta a sustentação de qualquer objeto. Como a atmosfera do planeta vermelho é 99% menos densa que a da Terra, o Ingenuity precisa de ser leve, com pás de rotor muito maiores e que giram muito mais rápido do que seria necessário para um helicóptero com a mesma massa na Terra.

O frio será outro dos obstáculos a enfrentar pelas peças do Ingenuity, uma vez que a cratera de Jezero, onde o rover Perseverance irá "amarrar" com o Ingenuity anexado à sua base, pode atingir temperaturas de 130 graus Fahrenheit negativos (90 graus Celsius negativos) durante a noite.

O mini-helicóptero pesa apenas 1,8 kg e é composto por quatro pés, um corpo e duas hélices sobrepostas, medindo apenas 1,2 metros de uma ponta à outra de uma hélice. As hélices giram a uma velocidade de 2.400 rpm (rotações por minuto), cerca de cinco vezes mais rápido do que um helicóptero normal.

Para recarregar as baterias, o Ingenuity está equipado com painéis solares, sendo grande parte da sua energia utilizada para se manter quente na temperatura negativa de Marte, e também pode captar fotografias e vídeos.

China e Emirados Árabes Unidos já "lá" estão

A chegada de uma nova missão da agência espacial dos Estados Unidos ao planeta vermelho acontece depois da China e dos Emirados Árabes Unidos terem sido bem-sucedidas com lançamentos idênticos. As agências espaciais dos três países tinham aproveitado uma janela de lançamento Terra-Marte que ocorre apenas a cada dois anos, enviando as suas missões em julho de 2020, motivo pelo qual as respetivas chegadas são próximas.

A primeira missão a "chegar" a Marte foi a dos Emirados Árabes Unidos, com o objetivo de fazer algumas pesquisas inovadoras sobre a atmosfera do planeta vermelho, "do alto" da sua órbita. Menos de 24 horas depois foi a vez da sonda chinesa, neste caso tocando, efetivamente, solo marciano. Uma e outra já começaram a dar provas das suas capacidades.

Agora é a vez Perseverance pousar em Marte, mais precisamente em Cratera Jezero. Antes vai acontecer aquilo que a comunidade cientifica apelida de “sete minutos de terror”: o tempo "terrestre” que a nave vai levar a sair da órbita de Marte e tocar solo marciano.

O sensível processo é autónomo, já que é impossível controlar remotamente a descida em tempo real. Isto porque a distância entre os dois planetas faz com que qualquer sinal enviado da Terra leve entre três a 22 minutos para chegar a Marte, e vice-versa. Tal quer dizer que quando a NASA estiver a receber a informação de que foi iniciado o processo de descida, se tudo correr bem, o Perseverance já terá pousado, tal como na simulação em vídeo.

De acordo com o descrito, durante a aterragem a sonda vai cair na atmosfera marciana, com um escudo de calor primeiro, a cerca de 20.000 quilómetros por hora. Um conjunto de propulsores invertidos vai ajudar a manter a sonda na sua trajetória e, a uma altura de sete quilómetros, será ativado um para-quedas supersónico para assegurar uma descida suave, no mesmo momento que o escudo de calor se separa.

No final do processo entra em ação uma espécie de grua aérea que vai pousar a sonda com recurso a um conjunto de cabos. O mini helicóptero Ingenuity só será lançado mais tarde.

Os momentos que antecedem a chegada da missão Mars 2020 vão ser transmitidos online pela NASA, numa emissão que, em Portugal, pode ser acompanhada a partir das 19h15 .