O número de críticas à proposa CSAR, sigla para Child Sexual Abuse Regulation, têm vindo a subir de tom e na semana passada 11 organizações portuguesas escreveram uma carta aberta ao Primeiro ministro e à ministra da Justiça a alertar para a questão. A iniciativa é semelhante à de 81 organizações europeias sem fins lucrativos que também estão contra a regulamentação proposta.

Hoje é lançada uma campanha de sensibilização em Portugal, a ChatControl.pt, que tem como mote a frase "Não me escutes as conversas" e que adianta que "a privacidade fortalece-nos, a vigilância enfraquece-nos".

"Todos beneficiamos da liberdade e privacidade que temos para explorar a nossa identidade e construir comunidades. Todos precisamos de espaços seguros, especialmente em situações de fragilidade", pode ler-se no site promovido pelas associações portuguesas, a Associação D3 - Defesa dos Direitos Digitais, a Associação Nacional para o Software Livre (ANSOL), o Capítulo Português da Internet Society (ISOC PT), a Associação Portuguesa para a Promoção da Segurança da Informação (AP2SI), e a Associação de Empresas de Software Open Source Portuguesas (ESOP).

As organizações dizem que "Do ponto de vista tecnológico, esta proposta é inviável e altamente problemática" e indicam que no regulamento constam medidas que "obrigariam as plataformas, incluindo as que usam encriptação nos seus serviços como o Whatsapp, Messenger, Telegram, ou como outras redes sociais, a instalar software nos dispositivos de todos os cidadãos, com o objetivo de monitorizar todas as comunicações realizadas".

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Caso este sistema avance, as imagens seriam verificadas com uma base de dados secreta e as mensagens instantâneas seriam analisadas em busca de padrões suspeitos, alerta o documento. "Isto significaria que a criptografia extremo-a-extremo dessas comunicações teria de ser ultrapassada. O processo seria monitorizado por uma entidade central, que decidiria como e com que critérios as pesquisas seriam realizadas", sublinham.

"Uma proposta que diminui a segurança de todas as pessoas, inclusivamente das pessoas que pretende proteger, não pode ser solução", avisam as associações.

regulamento CSAR (na sigla em ingês para Child Sexual Abuse Regulation) foi proposto em maio de 2022 e está em discussão no Parlamento Europeu e Conselho da União Europeia mas tem gerado preocupação pelo impacto que pode ter na privacidade. Um documento partilhado pela European Digital Rights (EDRI) indica que mais de 500 cientistas e investigadores já revelaram a sua preocupação com o regulamento e que alertaram para o facto da proposta ser tecnicamente perigosa e uma ameaça severa à encriptação das comunicações. 

"Observámos que a Comissão tem exercido uma pressão excessiva sobre os Estados-Membros para que adoptem esta posição, incluindo alegações enganosas de que, sem a aprovação desta lei, as crianças ficarão sem qualquer protecção online", explica um comunicado da EDRI.

A reunião final do grupo de trabalho encarregado de fazer com que os ministros dos Assuntos Internos assinem o texto do Conselho está agendada para 28 de Setembro, com os últimos rumores a sugerirem que tentarão pelo menos uma abordagem geral parcial, com uma posição conjunta. No Parlamento Europeu, a proposta está a ser avaliada na Comissão LIBE (Liberdades e Garantias), da qual fazem parte os eurodeputados portugueses Isabel Santos, Paulo Rangel, Nuno Melo, e José Gusmão, prevendo-se que a opinião desta comissão seja votada a 9 de outubro.

Alguns países têm-se oposto a estas medidas e por isso o Conselho ainda não chegou a uma decisão final. A posição de Portugal continua sem ser conhecida, mesmo depois de pedidos da sociedade civil para que o Governo seja transparente sobre as posições que assume na União Europeia.