A influência das redes sociais e dispositivos móveis na vida das crianças e jovens tem estado no centro de debates e decisões um pouco por todo o mundo, e Portugal não é exceção.  Numa altura em que medidas como a proibição de telemóveis em escolas mostram resultados mistos, a série britânica "Adolescência" veio “ilustrar” as consequências das pressões online.

Estudos recentes na Austrália e noutros países reforçam a complexidade do problema, apontando tanto melhorias no comportamento escolar, embora os impactos académicos sejam mais difíceis de medir.

Um ano após a implementação de uma proibição generalizada de telemóveis nas escolas públicas, o governo australiano celebrou resultados positivos em termos de comportamento dos estudantes. De acordo com uma pesquisa realizada em Nova Gales do Sul, 87% dos estudantes relatam menos distrações em sala de aula e 81% percebem melhorias na aprendizagem. Em paralelo, na Austrália do Sul, registou-se uma redução de 63% nos incidentes críticos relacionados com redes sociais e uma diminuição de 54% nos problemas comportamentais.

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A ministra da Educação, Jason Clare, destacou como estas medidas estão a criar um ambiente mais saudável e produtivo nas escolas. “As crianças estão a ser crianças novamente”, afirmou, referindo-se ao regresso de brincadeiras no recreio e ao aumento da concentração em sala de aula.

Os resultados académicos, contudo, não acompanharam estas melhorias comportamentais, segundo dados do exame nacional de literacia realizado anualmente no país.

Estudos feitos noutras regiões oferecem uma perspetiva mais ampla e revelam que a proibição de telemóveis, embora benéfica em muitos aspetos, não é uma solução única para os problemas educativos e sociais enfrentados pelos jovens.

No Reino Unido, uma pesquisa conduzida pela Universidade de Birmingham concluiu que a simples proibição de dispositivos nas escolas não é suficiente para melhorar significativamente o desempenho académico ou a saúde mental dos estudantes. A investigação, publicada no jornal The Lancet, sublinha que jovens que passam muitas horas em telemóveis apresentam piores indicadores de bem-estar, mas alerta que políticas mais abrangentes são necessárias para alcançar mudanças substanciais.

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Um relatório da UNESCO também defende a redução do uso de dispositivos nas escolas, apontando que a medida pode melhorar a concentração, autoestima e combater o bullying. No entanto, o relatório enfatiza que a tecnologia deve ser usada de forma equilibrada e acompanhada de orientações educativas sobre os seus riscos e oportunidades.

"Adolescência", a série que espelha a realidade e alimenta o debate global

Num contexto de crescente preocupação com a saúde mental das crianças e jovens e os efeitos das redes sociais, a série britânica "Adolescência", da Netflix, tem gerado discussões significativas em todo o mundo. A produção explora as consequências devastadoras da pressão online e da violência juvenil, representando o caso fictício de Jamie Miller, um jovem de 13 anos acusado de homicídio.

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A série foi mencionada no Parlamento britânico, onde o primeiro-ministro Keir Starmer a destacou como uma ferramenta importante para compreender os desafios enfrentados pelos jovens hoje. Starmer afirmou que a violência associada a subculturas online é um problema real que precisa de ser enfrentado com urgência.

Especialistas elogiam a produção por abordar a masculinidade tóxica e os perigos das redes sociais, temas que também têm servido de alerta para pais e educadores. Ao mesmo tempo, a vice-líder do Partido Trabalhista sugeriu que a série fosse exibida em escolas como recurso educativo para sensibilizar jovens sobre os riscos associados à tecnologia.