A Inteligência Artificial, e em especial a Inteligência Artificial generativa, é vista como a maior transformação tecnológica, económica e social desde a revolução industrial e o futurista Gerd Leonhard defende que desta vez temos de estar mais preparados para os impactos e as consequências, mas também assumir o controle da forma como a tecnologia é desenvolvida. O autor do livro Technology vs. Humanity” e CEO da The Futures Agency deixou no palco do AIVolut1on alertas para a necessidade de sermos mais humanos, garantindo a diferenciação em relação às máquinas, e conselhos para os líderes sobre a forma como devem encarar a IA e a mudança tecnológica.

A conferência que decorreu no dia 29 de maio no MEO Arena, e da qual o SAPO TEK foi parceiro de Media, juntou em palco mais de uma dezena de oradores especialistas em liderança e em tecnologia e a visão comum do potencial da Inteligência Artificial para se tornar um assistente pessoal foi equilibrada com os avisos para a necessidade de sermos mais humanos e não deixar ninguém para trás.

Essa foi mesmo a mensagem inicial de Luisa Ribeiro Lopes, presidente do .PT, que lembrou que existem áreas em que as máquinas são melhores do que os humanos, e outras em que os humanos são melhores do que as máquinas, mas que o que é importante é decidirmos o que podemos fazer em conjunto, e que isso é que vai melhorar o mundo. “Vamos fazer muito mais e melhor com as máquinas, em conjunto”, defendeu a gestora.

A preocupação é agora com as pessoas que ainda não desenvolveram as suas competências digitais e não têm capacidade para lidar com este novo mundo, e que são ainda quase 2 em cada 10 dos cidadãos portugueses, o que faz com que se corra o risco de aprofundar as diferenças e barreiras. “Não podemos deixar ninguém para trás”, defendeu Luisa Ribeiro Lopes, sublinhando que “somos todos embaixadores do que a IA pode fazer para melhorar a nossa vida”.

Para Gerd Leonhard uma das questões mais importantes é mesmo que a humanidade possa definir um bom futuro com a IA, ultrapassando a utilização perigosa. O futurista assume que já usa a Inteligência Artificial no seu dia a dia e que tem tirado partido das ferramentas como uma inspiração, um apoio, e ajuda para novos projetos. Um deles foi a criação de um avatar realista com o qual fez vídeos falando em várias línguas que não domina. Sem câmaras, sem edição e em modo poliglota. Ainda não é perfeito mas “é melhor do que não ter nada”.

Mas o futurista avisa que não podemos pensar que a tecnologia pode resolver todas as questões. “Não vai acontecer. É uma máquina, é informação binária”, afirma. São os humanos que têm de decidir o que querem fazer. “Se substituirmos dados por propósito vamos ter problemas”.

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Apesar da revolução da IA ser liderada pela China e os Estados Unidos, Gerd Leonhard acredita que há áreas onde países como Portugal podem tirar partido desta evolução, olhando para a fusão entre a revolução digital e de sustentabilidade, a “revolução do propósito” que é importante para as novas gerações.

O novo modelo económico e social que pode sair daqui deve ser sustentável, e seguir os ideais humanistas. As pessoas estão preocupadas com os empregos que podem ser “roubados” pela tecnologia, e o futurista diz que há espaço para os humanos, mas avisa que as máquinas vão passar a fazer o trabalho rotineiro e todas as indústrias vão ser digitais. “Se o seu trabalho é mais de 90% rotina vai ter problemas. Se trabalha como um robot, um robot vai ficar com o seu emprego”, lembra.

Através da IA, todas as pessoas vão ter uma assistente inteligente, adaptada às suas necessidades e personalizada, que vai marcar as viagens, gerir a agenda e fazer as encomendas no supermercado. “Vão libertar-nos do trabalho de macaco”, admite, mas há riscos a considerar. “Não queremos que a Inteligência Artificial seja social e criativa. Não pode ser sem existência”, é uma cópia e não é tão boa como o original.

O futurista deixou críticas a Sam Altman e à ideia de que a IA pode criar e perceber intenções. “Não queremos ser 2ª espécie mais inteligente do planeta, não vai acabar bem para nós”, defende.

Para Gert Leonhard não podemos deixa as empresas decidir sozinhas o futuro da IA, sem controle, é algo que a humanidade deve fazer em conjunto. “Com IA podemos ser um pouco mais superhumanos, podemos resolver problemas de cancro e de clima, mas temos de ter cuidado com o sintoma do Rei Midas”, afirma.

Construir um bom futuro com a IA e as máquinas passa por sermos mais humanos, pensar, sentir, usar a intuição e imaginar, tudo o que as máquinas não podem fazer. E para os líderes deixou alguns conselhos, que devem orientar o pensamento e a ação.

“Tomem atenção, observem. Abracem a tecnologia mas recusem-se a ser tomados por ela. Recusem-se a trabalhar para empresas ou a comprar produtos e serviços de empresas que ponham a tecnologia à frente dos propósitos”, defende Gert Leonhard.

Gert Leonhard diz que é preciso que os líderes usem as ferramentas da forma certa e persigam o conhecimento, e que procurem escalar a pirâmide de competências com mais formação, mas que mantenham o humano sempre no circuito.

A ideia de que podemos reduzir a quantidade de trabalho com a automatização da IA para nos dedicarmos mais a tarefas com mais valor foi também defendida no painel que juntou Ricardo Parreira, CEO da PHC, e João Ribeiro da Costa, Head of Digital Transformation and Program Director da Católica Lisbon School of Business and Economics.

Ricardo Parreira avisa que quem não abraçar esta tecnologia vai ficar rapidamente obsoleto, e que é preciso vencer a inércia das pessoas, mas sem esquecer a felicidade no trabalho e o propósito. São os líderes das empresas que têm de fazer esse esforço de transformação e conseguir a adaptação das equipas e ultrapassas as resistências.

“Está ao alcance de todos ampliar-se e mudar a mentalidade. É isto que vai definir quem fica obsoleto e quem não fica”, defende Ricardo Parreira.