Há cerca de três anos que a Huawei lida com os embargos impostos pelos Estados Unidos, acusada de manter relações com o governo chinês e partilhar dados privados dos seus clientes ao regime. A guerra na Ucrânia poderá ser simultaneamente favorável à tecnológica, mas igualmente perigosa na relação com o ocidente. Em causa está a possível ajuda que a Huawei possa prestar ao governo de Putin devido às sanções da Europa, que poderão impedir as empresas de infraestruturas de telecomunicações operar no país, como a Ericsson e a Nokia.

E tal como aconteceu na anexação da Crimea, com as sanções do ocidente à Rússia, foi a Huawei que ajudou a construir e melhorar a infraestrutura de comunicações no país. O precedente volta a materializar-se, com Putin novamente a braços com o acesso a tecnologia e a Huawei poderá ter um papel de maior escala.

Mas se isso acontecer, segundo avança o Financial Times, os Estados Unidos poderão reforçar as sanções à Huawei. O jornal cita as palavras de um especialista em telecomunicações que diz que na Crimea a Rússia destruiu todo o equipamento de telecomunicações ocidental e substitui-o por soluções da Huawei e ZTE. Se a Nokia e a Ericsson realmente saírem de vez do país, a Rússia vai estar mais dependente do que nunca da Huawei e outras empresas chinesas.

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E a guerra já terá mesmo sido muito favorável para a fabricante chinesa que viu um aumento de quase 300% de vendas de smartphones na Rússia nas duas primeiras semanas de março. A Oppo e a Vivo também viram aumentos de três dígitos, disse um analista da MTS, uma das maiores operadoras da Rússia.

Desde que teve início a invasão da Ucrânia, a Huawei já terá aberto vagas para empregar vendedores e especialistas em desenvolvimento de negócio na Rússia. Da mesma forma que quatro centros de investigação russos têm vindo a recrutar dezenas de engenheiros, cientistas de machine learning e analistas de dados em diferentes cidades.

Empresas chinesas podem ser “castigadas” por ajudar a Rússia

Segundo o jornal, as empresas chinesas como a Huawei e Xiaomi, estão a pisar o risco da violação das sanções impostas ao continuarem a vender smartphones e equipamento de telecomunicações na China. Isto porque necessitam de uma autorização dos reguladores dos Estados Unidos para o seu fornecimento, uma vez que tanto semicondutores são construídos com materiais do país. Nesse sentido, estão sujeitas às sanções que foram impostas à Rússia.

Os analistas dizem ser quase impossível para a Huawei e outras empresas chinesas de venderem equipamentos e tecnologia para a Rússia sem infringir os embargos. Desde que entrou para a lista negra, a Huawei tem feito esforços no investimento em I&D para deixar de depender dos componentes e tecnologia dos Estados Unidos, como a empresa reforçou no último relatório de contas. Mas segundo Guo Ping, atualmente está dependente de stocks de chips que foi acumulando.

As sanções colocadas à Rússia ao longo dos anos têm reforçado a ligação com a China, ou neste caso com a Huawei que agora ganha maior peso devido à saída da Apple e Samsung. A gigante chinesa também pode ter um peso no desenvolvimento das suas infraestruturas de redes, seja para atualizar ou manutenção. A empresa tem uma grande parte dos contratos para o desenvolvimento das redes 4G e 5G, segundo informações do Financial Times, juntamente com a ZTE, as duas empresas controlam entre 40 a 60% do mercado da rede sem fios no país. O mercado russo poderá também ser uma oportunidade para a Huawei expandir o seu sistema operativo HarmonyOS, uma vez que o Android e iOS deixaram de funcionar.

No entanto, os legisladores estão atentos e já ameaçaram as empresas chinesas para as consequências de contornarem as sanções à Rússia, com a proibição completa de qualquer transação. E mesmo as licenças dadas às empresas podem sempre ser revogadas. A Huawei disse que está a avaliar com cautela os negócios com a Rússia.