Cinco responsáveis da Comissão Europeia terão sido alvo no ano passado de ataques de spyware, com software criado pela empresa israelita de soluções de vigilância NSO. A informação está a ser avançada pela Reuters, com base em documentos aos quais a agência teve acesso, confirmados por fontes próximas ao processo.
Entre os visados pelo software espião terão estado Didier Reynders, um representante do Governo belga, comissário europeu da justiça desde 2019, para além de outros quatro visados.
Os responsáveis terão tido conhecimento da tentativa de espionagem através da própria Apple, que em novembro do ano passado mandou mensagem a vários utilizadores do iPhone, informando-os de que estavam a ser vítimas deste tipo de esquemas. Na mesma altura anunciou que ia processar a NSO.
A agência não conseguiu apurar se a tentativa foi bem-sucedida e, caso tenha sido, que tipo de informação ficou exposta. Os envolvidos não quiseram comentar o caso, nem a Apple. Uma fonte, não identificada, apenas adiantou que os serviços de TI da Comissão analisaram os equipamentos à procura de vestígios de um ataque, mas os resultados foram inconclusivos.
O programa usado para entrar nos smartphones dos alvos e aceder silenciosamente a informação aí residente tira partido do exploit ForcedEntry criado pela NSO, que disse à Reuters nada ter a ver com este ataque, que terá estado ativo entre fevereiro e setembro do ano passado.
As empresas privadas de vigilância têm dado que falar e motivado ações de vários atores, como o Facebook, que no ano passado avisou 50 mil utilizadores que estavam a ser espiados. Os seus serviços são contratados por outras empresas, ou mesmo por governos para espiar concorrentes, dissidentes e opositores.
O Parlamento Europeu prepara-se para lançar uma comissão para investigar o recurso a software de vigilância na Europa no próximo dia 19 de abril. A comissão vai ser liderada por Sophie in 't Veld, que disse à Reuters não estar a par da tentativa de ataque aos funcionários da Comissão Europeia.
Na região há no entanto outros casos mediáticos de recurso a spyware na espera política, como a informação que dá conta de que o Governo polaco recorreu a spyware israelita para entrar no smartphone de um senador adversário. Ou o suposto recurso ao mesmo tipo de ferramentas para monitorizar jornalistas na Hungria. A comissão em questão foi anunciada como um grupo de trabalho para investigar o impacto na UE do software Pegasus, o spyware da NSO criado a partir do ForcedEntry, que é a mais conhecida e mais difundida destas ferramentas, mas está longe de ser a única.
A QuaDream, também israelita, é outra empresa a trabalhar na mesma área com um software muito idêntico ao da NSO, desenvolvido a partir do mesmo exploit para uma falha no iOS. No catálogo que explica a oferta da empresa refere-se que o Reign, nome do seu spyware, permite entrar silenciosamente num smartphone e ter acesso a emails, SMS, mensagens trocadas em redes sociais como o WhatsApp, Telegram ou Signal, ou fotos. A versão Premium consegue gravar chamadas, ativar a câmara e o microfone do dispositivo remotamente. A Reuters também contactou esta empresa para pedir um comentário sobre o ataque a funcionários europeus, mas não obteve resposta.
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