O sector público tem o mais longo ciclo de compras de tecnologia do mercado, com processos de decisão que, em média, demoram 22 meses a finalizar, de acordo com um novo estudo da Gartner. Os dados foram apurados a partir das respostas de 1.120 executivos envolvidos na avaliação ou seleção de tecnologia em empresas e organismos públicos, onde se incluem 79 profissionais do sector público.

Quase metade dos profissionais desta área conseguiram identificar seis ou mais fatores de atraso, capazes de influenciar processos de compras de tecnologia no Estado. O destaque vai para a mudança de âmbito dos projetos, que acaba por obrigar a avaliações adicionais e outros procedimentos preparatórios não previstos, como indicaram 76% dos inquiridos.

Ainda na fase inicial da compra, a demora na preparação do business case é outro aspeto amplamente referido como impactante para a duração global de um processo de decisão de aquisição (74%). Acontece o mesmo com a decisão sobre o budget a fixar, apontado como um dos passos mais demorados do processo de compra pública de tecnologia, por 75% dos participantes na pesquisa.

Há também uma parte importante dos inquiridos que apontam a responsabilidades por atrasos moderados ou mesmo significativos nas compras públicas de tecnologia, aos fornecedores, por não ser possível obter detalhes específicos do produto, ou dos requisitos de implementação da parte das empresas que os fornecem (68%).

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Contas feitas, em conjunto e em termos médios, estas e outras alterações podem arrastar um processo de decisão compra por mais sete meses que o inicialmente previsto.

“As compras de tecnologia trazem desafios ao sector público que por regra não existem noutras indústrias", admite Dean Lacheca, analista da Gartner. "Cada jurisdição tem as suas próprias leis e políticas de aprovisionamento, e dentro dela, cada agência ou departamento pode ter a sua própria interpretação das mesmas. O não cumprimento das regras pode ter consequências graves, gerando uma imagem pública indesejada e até o risco de ações penais pessoais".

A Gartner apurou ainda que uma equipa de compras no sector público tem em média 12 pessoas, que participam no processo a diferentes níveis. Os profissionais C-Level tendem a estar menos envolvidos nos processos de compra públicos (41%), do que nas compras realizadas em empresas privadas (55%).

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A diferença visa promover uma imagem de transparência do processo, afastando-o de uma possível esfera de influência política e remetendo as decisões para um nível abaixo de profissionais, conotados como especialistas nas áreas em questão. Isso mesmo foi reconhecido por 46% dos inquiridos, admitindo que a decisão final dos equivalentes ao C-Level no público são essencialmente guiadas pelas avaliações e recomendações dos especialistas.