Por António Loureiro (*)
A pandemia não mudou o mercado de trabalho e de recrutamento de profissionais de tecnologias da informação. Não trouxe novas tendências, não implementou novas regras e nem mudou paradigmas.
A pandemia apenas veio acelerar uma mudança natural e que já se estava a impor neste mercado, mas de uma forma lenta.
A valorização do trabalho remoto; os modelos de trabalho colaborativos; a escassez de talento de TI altamente qualificado e o novo perfil de trabalhador mais exigente, mais volátil e menos focado na remuneração como principal objetivo, são tendências da era pré-pandémica. Toda a cadeia de valor já estava a aprender a gerir gradualmente estas mudanças.
Com a pandemia as empresas perderam o típico período de aprendizagem e habituação e, foram confrontadas com um ultimato: se não conseguirem ajustar-se rapidamente à nova realidade, as perdas podem ser catastróficas.
Então, o que de facto mudou com a pandemia?
Ainda que não tenha agradado à maior parte dos empregadores no início da pandemia, o teletrabalho veio para ficar. Em regime permanente, ou num modelo híbrido, este modelo passou a ser um argumento de negociação para os colaboradores e um trunfo nas mãos dos empregadores que o oferecem como benefício (muito valorizado) para a atração de talento.
Aliás, para muitas empresas o teletrabalho mudou radicalmente os processos de trabalho. Os espaços físicos são um dos custos fixos mais pesados na fatura mensal de uma organização. Com a força de trabalho em casa, as empresas não necessitam de tantos metros quadrados à disposição. A equação é simples: menos espaço = menos custos.
Para os profissionais de TI, esta normalização do trabalho remoto abre ainda mais as portas a oportunidades de trabalho com empresas de todos os cantos do mundo, e a projetos específicos em áreas inexistentes ou pouco desenvolvidas em Portugal. Isto significa que será ainda mais difícil atrair e reter talento? Não necessariamente.
Com a pandemia o mercado perdeu um pouco o preconceito que ainda existia face ao freelancer. A quarentena padronizou a contratação temporária de recursos especializados, a realização de contratos de trabalho “à medida”, e até a permanente circulação de diferentes recursos de elevada qualificação, recrutados exclusivamente para resolverem problemas específicos ou apoiarem projetos curtos e urgentes.
Este novo cenário vai ajudar a quebrar o conceito de “vínculo de longo prazo” e a abraçar novos modelos de trabalho mais flexíveis que promovem a contratação de talento internacional através de plataformas online de recrutamento, sem medos ou qualquer conotação negativa associada.
A própria noção de talento tecnológico mudou. No processo de recrutamento as designadas soft-skills, muitas vezes colocadas em segundo plano, ganharam peso.
Resiliência é a palavra de ordem que sai desta pandemia. As empresas querem profissionais com forte know-how tecnológico, mas querem também pessoas preparadas para uma crise, e procuram agora outras características nos candidatos para além das competências técnicas: rápida adaptabilidade, inteligência emocional, capacidade de colaboração, gestão de mudança, capacidade de lidar com stress, gestão de tempo e criatividade.
Vai existir uma redução da procura por profissionais de TI devido a estas mudanças e à crise? Pelo contrário, a tendência é aumentar.
Este “afastamento” trazido pelo trabalho remoto só é possível e viável se as empresas tiverem ferramentas de comunicação e soluções tecnológicas que mantenham toda a equipa unida e em sintonia, mesmo que em distintas partes do mundo. Ou seja, as ferramentas de trabalho vão ter necessariamente de mudar – IA, colaboração, automação, comunicação, cloud, entre outros exemplos.
Nestes últimos dois anos, a pandemia colocou em evidência lacunas graves que têm de ser urgentemente resolvidas, como iliteracia tecnológica, défice de competências nas equipas de TI, problemas de segurança, infraestruturas antigas, gestão desajustada à Era Digital, incorreta utilização dos recursos e atrasos nos projetos de transformação digital.
Mais do que nunca, as empresas percebem a importância da modernização tecnológica, da formação e requalificação dos recursos e da contratação de profissionais qualificados para as tecnologias da informação, seja em regime interno ou de outsourcing.
No global, a pandemia acelerou não só a mudança, mas também promoveu a aceitação desta mudança. Por muito céticas que fossem, as empresas foram obrigadas a apressar os projetos de transformação digital, a ajustar-se a uma nova realidade e a usar recursos tecnológicos e modelos de trabalho que acabaram por revelar-se positivos e funcionais.
(*) CEO Conquest One
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