Por Sofia Fernandes (*)

Portugal está em voga: Europa anuncia alegremente que somos a Silicon Valley do velho continente, a Forbes reforça que somos o paraíso para os investidores. O Web Summit, palco principal no mundo da inovação digital, promete ficar para os próximos anos. E assim, no terceiro país mais seguro do mundo, acorda talento que se multiplica e assegura a atracção de investimento. Um estilo de vida que convida quem visita a ficar, massa crítica é acrescida e as ideias fervilham. Britânicos, Alemães, Iranianos, Brasileiros, são algumas das muitas nacionalidades que se juntam ao ecossistema empreendedor, que nos ensinam e que aprendem connosco. Até aqui parece fácil.

Mas não podemos esquecer que Portugal tem pouco mais de 10 milhões de habitantes, e o que em alguns países pode ser um grande hit, em Portugal o mercado é suficiente para provas de conceito e pilotos. E por isso, o olhar está sempre no horizonte, em conquistar mais e mais… Bem ao estilo Português. 

Ainda assim, para os primeiros passos, é importante apoio, não só na estratégia, mas também do ponto de vista financeiro. O IAPMEI e ANI são duas das entidades governamentais que apoiam as startups, com suporte financeiro e acesso a formação, rede de mentores e contacto com clientes. Mas, este não chega para as empresas crescem.

Então, a quem podem recorrer as startups? Na verdade, de acordo com o Scale Up Portugal, cerca de 80% do investimento conseguido no ecossistema de inovação português é proveniente de fundos estrangeiros, por isso o conselho é desde cedo as startups criarem e manterem contacto com investidores externos, principalmente dos Estados Unidos e do Reino Unido. Este valor conta com todo o investimento em startups nos últimos 5 anos, e como sabemos, as startups que atraem mais investimento estão também normalmente em momento de expansão, e por isso é normal encontrarem parceiros, entre eles investidores, nos países para os quais escalam. Mas olhemos para os estágios mais iniciais, pois é nesses que os investidores português tomam papel de maior relevo.

Atrevo-me a fazer a analogia, para ser de mais fácil compreensão, com o bem conhecido mundo da música:2627

  • Solo: São aqueles que conhecem as startups e se apaixonam… Têm os seus empregos mas decidem investir e ajudar ativamente os empreendedores com quem se cruzam e com  cuja missão se identificam. Normalmente não o fazem de forma profissional, e estão muito envolvidos com a startup, podendo até vir a ajudar em desenvolvimento de negócio por conhecerem bem a indústria. São por isso, mais frequentes de encontrar em cargos de direcção de grandes empresas.
  • Banda: São os investidores que de forma mais profissional mas tipicamente não a tempo inteiro, investem o seu dinheiro próprio em conjunto com outros Business Angels, alavancando o seu capital. Tipicamente fazem parte de grupos como a APBA - Associação Portuguesa de Business Angels, Fnaba | Federação Nacional de Associações de Business Angels, REDAngels entre outros.
  • Record: Neste caso falamos de investidores a tempo inteiro e de forma muito profissional, procuram, selecionam e avaliam minuciosamente centenas de startups ao ano. Não investem dinheiro próprio, mas sim levantam fundos de capital de investidores externos, sendo que depois existem analistas que vão estudar todas oportunidades e investir nos negócios tendencialmente mais rentáveis. Neste caso há uma estrutura profissional e organizada: Venture Capital (VC). A maior VC nacional, Portugal Ventures, é de fundos públicos, por isso todos somos de certa maneira investidores no maior fundo de investimento Português, e o que levou mais startups mais longe, tendo sido absolutamente essencial para o desenvolvimento do ecossistema Português. Destaca-se também a Armilar Venture Partners, por ser um fundo privado com um histórico impressionante, incluindo o investimento num unicórnio Português (empresa avaliada em mais de um mil milhões de euros), a OutSystems. Alguns fundos são mesmo criados a partir de grandes empresas, como é o caso da EDP Ventures ou Semapa Next, procurando investimentos rentáveis que possam também ser integrados na sua área de negócio. Tipicamente, estas VCs têm como objetivo fazer o “exit”, ou seja vender o capital que têm na startup a um valor muito mais alto do que o que compraram, assegurando a sustentabilidade da empresa para futuros investimentos e rendimento elevado para os investidores do fundo. 


Em todos os casos uma verdade se encontra em comum: os elementos em qualquer uma das modalidades contam com uma crescente aderência de empreendedores que já tiveram startups de sucesso e, por isso, trazem agora com eles para o mundo dos investidores, conhecimento e experiência que vai ser chave para o sucesso dos novos empreendedores. Esta comunidade de ex-startupers, atuais investidores, é motivo de sucesso em alguns dos mais prestigiados ecossistemas de startups do mundo, como é o caso de Boston ou Silicon Valley.

A razão é simples, a tentativa erro encurta ao haver cruzamento de histórias de sucesso, mas também de fracassos, e quanto mais experiente o ecossistema for, maiores são as suas chances de sucesso. Por isso, o fato de termos agora tantos investidores estrangeiros a investir e interagir com os empreendedores de startups Portuguesas, iniciando um novo capítulo, que já se encontra em marcha, levando a que Portugal de 2019 para 2020 mudasse de um país moderadamente inovador para um país fortemente inovador. Falta agora aguardar o desenlace desta história, que tal como no século XV, teremos de esperar para ver o que os Portugueses conseguem atingir, e conquistar.

(*) Diretora de Desenvolvimento de Negócio na BGI