O novo coronavírus apanhou o mundo de surpresa e obrigou a estratégias alternativas para que a economia não parasse. Numa primeira fase, as empresas fizeram um planeamento que pretendeu, acima de tudo, dar resposta ao justificado “choque” inicial e assegurar a continuidade das operações durante o Estado de Emergência.
Hoje as estratégias adotadas estão mais consistentes, com base na experiência que as empresas foram acumulando dos últimos meses, entre aquilo que foram vendo no setor e mediante o feedback dos seus colaboradores e dos seus clientes.
O negócio manteve-se operacional, assegurado pelas equipas existentes - independentemente do sítio onde estivessem - mas ainda assim, a grande maioria das empresas de TI continuou à procura de talentos para reforçar projetos em curso ou integrar novos projetos. Na galeria de imagens pode encontrar vários exemplos.
“Ainda que as barreiras colocadas pela pandemia tenham mudado a forma como acolhemos e formamos novos colaboradores a esta nova realidade, a nossa estratégia de crescimento mantém-se”, assegurou ao SAPO TEK Sara Pereira, Queen of Hearts - responsável de Recursos Humanos - da Critical TechWorks.
Nada pára, tudo se reorganiza
Ninguém parou entre as tecnológicas em Portugal, mas houve reorganização e novos planeamentos, com o trabalho remoto a adquirir uma dimensão nunca antes suposta pela grande maioria e que muito possivelmente irá perdurar. São “moldes” diferentes do que estava previsto, mas que têm funcionado muito bem, para empresas como a Abaco Consulting, a Claranet, a Fujitsu ou a Primavera BSS.
Apenas 5% dos colaboradores da sede da Primavera BSS mostraram interesse em regressar ao escritório, em finais de junho, e permanecem lá por opção individual. A decisão da administração da empresa passou por prolongar o teletrabalho até data a definir no futuro, “isto porque muitos colegas têm ainda dificuldade em gerir a vida familiar porque ficaram sem o apoio dos avós, ATLs, etc”, refere Rita Cadillon, diretora de Recursos Humanos.
Pontualmente as equipas fazem reuniões presenciais com grupos pequenos, para manter o contacto e a ligação de forma mais direta. “Temos funcionado perfeitamente nestes moldes, tanto em Portugal como nas restantes geografias”, indica a responsável, acrescentando que ainda não há data prevista para um “regresso em massa”.
“Esta pandemia veio reforçar a nossa convicção de que há funções que são perfeitamente desempenháveis, e com excelente performance, num outro local que não o escritório”, diz Rita Cadillon
Durante os meses de confinamento, a Claranet teve 90% dos seus colaboradores em trabalho remoto, “com excelentes resultados ao nível da produtividade e da satisfação das pessoas”, garante Sónia Rato de Jesus, diretora de Recursos Humanos.
Em maio a empresa iniciou o processo de regresso progressivo aos escritórios, primeiro com um máximo de 25% dos colaboradores, depois até 50% no final de junho. O objetivo é que no final de julho o número não ultrapasse os 70% do número total de colaboradores nos escritórios de Lisboa e Porto. Por agora o regresso é facultativo.
“Queremos que as pessoas se sintam confortáveis no desempenho das suas funções, no escritório ou em casa”, afirma Sónia Rato de Jesus
Na Fujitsu Portugal o trabalho remoto vai continuar para a maioria. Atualmente, há perto de 95% dos colaboradores em teletrabalho (cerca de 2.000 pessoas) com apenas uma pequena equipa no local para apoiar os clientes em atividades críticas de negócios.
A Abaco Consulting diz já ter a situação pensada e pode, no limite, manter quase todas as pessoas em teletrabalho, “se elas assim o pretenderem”, diz Ângela Santos, Board Member e responsável pelo desenvolvimento de capital humano. O mais provável que as pessoas distribuam o seu tempo consoante o contexto do seu trabalho. “Assim, atividades de foco e entrega, formação, pontos de situação, deverão ser atividades em que o cenário é distribuído; atividades de brainstorming, spark of ideas, team building, deverão ser atividades em que o cenário é mais presencial”.
“Com o software adequado é possível manter a empresa com índices de produtividade elevados em trabalho remoto”, considera Ricardo Parreira, CEO da PHC Software
Antes desta pandemia, a Ericsson já tinha uma cultura de flexibilidade relativamente ao trabalho e, de futuro, a tendência vai acentuar-se tendo em consideração a satisfação e produtividade dos seus colaboradores, afirma Rute Diniz, Head of People Ericsson Portugal. “Gostamos de deixar à consideração de cada colaborador quando o trabalho remoto é efetuado, e desta forma adequarmo-nos a um modelo de trabalho que permita um maior balanço entre a vida privada e profissional, ao invés de definir percentagens fixas que poderão não ser ajustar às necessidades dos nossos colaboradores”.
A UpHill é uma startup que se encontra no cruzamento da medicina e da tecnologia, com soluções digitais que fornecem informação científica para a abordagem diagnóstica e terapêutica de um vasto conjunto de doenças. Nunca interrompeu a sua atividade, mas teve de adaptá-la ao contexto da pandemia e às necessidades dos profissionais de saúde, com quem trabalha.
O trabalho remoto não foi algo implementado de raiz no decurso da pandemia, “era, uma prática que já tínhamos e adotávamos anteriormente com alguma regularidade”, indica Eduardo Freire Rodrigues. Neste momento, assume-se na empresa que o futuro passa pelo trabalho à distância, mas assim, “a cultura de colaboração e a ambiência no escritório faz com que a maior parte da equipa também queira estar fisicamente em proximidade”, acrescenta o CEO da UpHill.
Na Axians Portugal, Fernando Rodrigues, Managing Director, defende que o contacto humano é essencial para o desenvolvimento dos negócios da empresa, “é desse encontro que surgem ideias inovadoras, novas soluções, novos modelos de negócio”. Mas hoje há a consciência que é possível ter maior equilíbrio entre a presença física e o trabalho remoto “e também a expectativa que em condições normais, ou seja, sem ser em cenário de crise, os resultados desse equilíbrio serão muito positivos”.
“Estamos a descobrir novas formas de trabalhar e de nos relacionarmos no contexto laboral”, considera Fernando Rodrigues
A Reditus assegura que vai continuar a apostar no teletrabalho, aproveitando “o salto forçado que as empresas tiveram de dar em dias quanto à digitalização dos seus processos e sistemas”, sublinha Fátima Branco, diretora de RH. “Em colaboração com os nossos clientes estamos a criar o novo modelo de trabalho, em que as pessoas e as relações interpessoais mantêm um papel fundamental, mas que não será suportado numa vivência diária nos escritórios da Reditus, estimando-se cerca de 80% da nossa equipa”.
A responsável considera ainda que a pandemia foi um teste muito exigente para a atividade das empresas e sua organização. “A forma rápida como conseguimos reagir, sem quebra de atividade e produtividade, permitiu-nos conhecer melhor os nossos limites e a nossa capacidade de adaptação a novos desafios”.
João Bernardo Parreira, CEO da The Loop Co., uma startup que desenvolve soluções tecnológicas e de economia circular, “arrisca dizer” que o futuro do trabalho já começou e foi amplamente acelerado por esta pandemia. “Muitas das tecnologias, tendências e normas culturais que vinham a moldar os locais de trabalho tornaram-se uma realidade, de um dia para o outro, e as empresas tiveram de se adaptar. Todas as aprendizagens que retirarmos desta fase conturbada são ferramentas que nos permitirão enfrentar futuros desafios ou crises das mais variadas origens”.
São crises e “ensinam”
Em 31 anos de história, a PHC Software viveu muitas situações e conjunturas de natureza diversa, desde a gripe das aves até à última grande crise financeira. Isto faz com que a empresa já tenha uma capacidade de resposta e uma preparação elevada, garante Ricardo Parreira, e também uma capacidade de incorporar tudo como uma aprendizagem. “Como os especialistas em comunicação de crise tão bem sabem, a incorporação da aprendizagem depois da crise é tão ou mais importante do que a própria crise. Ajuda-nos a estar melhor preparados para evitar ou lidar com situações semelhantes”, afirma o CEO.
Na Critical Software também se acredita que a COVID-19 deixou a a empresa mais bem preparada para eventuais crises futuras. “A situação que vivemos nestes últimos meses permitiu-nos aprender e definir alguns processos que poderemos ter de voltar a aplicar”, afirma Filipa Carmo, Head of Recruitment.
A opinião é partilhada por José Oliveira, CEO da BI4ALL, que considera que o conhecimento adquirido com a nova situação vai ajudar a empresa a estar melhor preparadas para situações semelhantes e minimizar o seu impacto.
“A aprendizagem que estamos a retirar desta crise é ainda mais importante do que a própria crise”, defende por José Oliveira
Esta nova realidade exigiu “de tudo e de todos” uma aceleração e readaptação diárias, considera Inês V. Pinto, HR Business Partner da Glintt . “A necessidade de analisarmos os temas de uma forma ainda mais focada e rápida fez com que toda a nossa equipa tivesse de ajustar a sua forma de trabalhar". Com os clientes foi igual, garante. “Adaptámos a capacidade dos nossos clientes em continuarem a sua atividade, com a menor disrupção possível. Criámos novas soluções de acesso remoto que instalámos, monitorizámos e demos suporte durante todo este período”.
Para Margarida Calado, Head of People da everis Portugal, o contexto atual veio quebrar muitas barreiras que existiam no mercado de trabalho “quanto a formas de trabalhar, de nos relacionarmos e até mesmo a monitorização de produtividade”.
“Acreditamos que enquanto sociedade vamos todos funcionar de uma forma mais flexível, que permitirá fazer face a mais desafios que possam surgir”, afirma Margarida Calado
No futuro, a chave será a flexibilidade, considera a responsável, “e não o estabelecimento de uma percentagem fixa de teletrabalho”. Também será natural uma evolução da tecnologia “e as ferramentas que temos ao nosso dispor vão evoluir rapidamente, como a realidade aumentada ou a realidade virtual, permitindo que caminhemos cada vez mais para um modelo mais misto, que privilegie os benefícios de estar em remoto - com a possibilidade de maior concentração, flexibilidade - e os benefícios de estarmos juntos fisicamente - com a troca de ideias, trabalho colaborativo, estreitamento de relações".
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