A pandemia de COVID-19 levou a que muitas empresas colocassem os colaboradores em teletrabalho. No entanto, no caso da Agência Europeia Espacial (ESA, na sigla em inglês) isso não foi uma opção, com os cientistas e engenheiros a continuarem a preparar as próximas missões de satélites europeias como a Copernicus Sentinels. Há naturalmente mudanças nas rotinas dos trabalhadores, mas continua a ser testado o Sentinel-6 Michael Freilich, satélite que deverá descolar em novembro deste ano.

Em comunicado, a ESA dá o exemplo do Copernicus Sentinel-6 Michael Freilich. Este sistema está atualmente a ser testado por uma equipa que quer garantir o lançamento apropriado e o suporte ao "ambiente hostil" do espaço durante a viagem em órbita da Terra.

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Como explica a Agência, o satélite irá assumir o papel de missão de referência para fornecer "dados críticos" para o registo a longo prazo das medições da altura da superfície do mar. Por isso, e ciente do impacto das alterações climáticas, a ESA considera essencial que continue a ser registada a altura variável da superfície do mar, de forma a "monitorizar essa tendência preocupante".

Para além da ESA, também a NASA, a Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos e a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA estão a ajudar a desenvolver este satélite. A missão conta ainda com o apoio do Centre National d'Etudes Spatiales.

Testes do Copernicus Sentinel-6 Michael Freilich: o que mudou com a COVID-19?

No caso do centro da IABG, na Alemanha, existem muito menos engenheiros do que é habitual a testar o satélite, numa sala sempre esterilizada. Pierrik Vuilleumier, project manager da missão Copernicus Sentinel-6 da ESA, garante que muitos colaboradores estão a acompanhar o teste do satélite de forma remota e continua a haver progressos.

“De forma notável alcançámos um marco importante na conclusão dos testes de vibração acústica, que simulam o ambiente barulhento da descolagem e da subida na atmosfera", explica o representante da ESA. Pierrik Vuilleumier garante que a equipa está determinada em cumprir com a meta de lançamento, "apesar das circunstâncias difíceis".

O Copernicus Sentinel-6 está agora pronto para a próxima bateria de testes. Depois dessa fase, o satélite será transportado no final de setembro para a Base da Força Aérea de Vandenberg, nos Estados Unidos, para a descolagem. Aí contará com a ajuda do foguetão SpaceX Falcon 9, fornecido pela NASA.

Copernicus Sentinel-3: missão também alcança "marco importante" durante a pandemia

Em plena pandemia, a ESA destaca ainda outro "marco importante", desta vez do satélite Copernicus Sentinel-3. Neste caso, o sistema foi transportado por estrada de Itália para França, com a autorização de ambos os governos, chegando a 21 de abril.

Chegada do Copernicus Sentinel-3 a França

Como explica o project manager da missão Copernicus Sentinel-3, Nic Mardle, no início das restrições a equipa em Itália trabalhou para tentar concluir tudo a que se propôs antes que o bloqueio total fosse imposto. "Os turnos únicos permitiram que duas equipas continuassem a trabalhar no satélite sem risco de infeção", refere, num trabalho que, em parte, está a ser feito de forma remota. Neste período excecional, Nic Mardle assume um contexto com mais dificuldades.

"As atividades tornam-se mais complicadas, mas as equipas estão a trabalhar em conjunto para facilitar a manutenção da forma mais eficiente e pragmática”, refere Nic Mardle

Atualmente existem dois satélites do Sentinel-3 em órbitra: o Sentinel-3A, desde 2016, e o Sentinel-3B, que partiu na sua aventura em 2018 e que nesse mesmo ano enviou os primeiros conjuntos de imagens. Veja o vídeo da descolagem.

Espreite na fotogaleria as primeiras imagens do Sentinel-3B, captadas em 2018

Ambos os satélites trabalham em conjunto para medir de forma sistemática os oceanos, a superfície terrestre, o gelo e a atmosfera do planeta azul. Desta forma, pretende-se compreender a "dinâmica global da Terra em larga escala" e fornecer informações em tempo quase real para previsões metereológicas e sobre os oceanos.

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Apesar das dificuldades sentidas, Josef Aschbacher, diretor dos Programas de Observação da Terra da ESA, mostra-se bastante satisfeito por acompanhar os progressos. "Continuamos a preparar inúmeras novas missões", explica. Para além de destacar a importância destes programas para uma melhor compreensão das alterações climáticas, Josef Aschbacher considera ser muito importante que o potencial das tecnologias espaciais no futuro continue a ser demonstrado.

Os Copernicus Sentinels são uma "frota" de satélites projetados para fornecer mais dados e imagens, essenciais para o programa ambiental Copernicus da União Europeia. Cabe à Comissão Europeia liderar e coordenar essa iniciativa para melhorar a gestão do meio ambiente, enquanto a ESA é responsável pelo desenvolvimento da família de satélites Copernicus Sentinel e por garantir o fluxo de dados para os respetivos serviços.