A corrida a Marte começou em 2020, aproveitando um alinhamento planetário favorável para uma viagem mais curta, e no espaço de um mês a China, Emirados Árabes Unidos e os Estados Unidos lançaram missões para exploração do Planeta Vermelho. Embora com propósitos e equipamentos diferentes, todas chegaram a Marte no início deste ano e já têm história para contar, atingindo novas metas de exploração e conquista do espaço.

A Mars 2020 da NASA é a mais completa de todas as missões que os Estados Unidos já prepararam para a exploração do planeta na esperança de encontrar registos de vida, depois das várias descobertas de missões anteriores. A agência espacial norte americana tem vários "investigadores" em solo marciano, e ainda na semana passada a sonda InSight permitiu aos cientistas definir a composição da crosta, manto e núcleo de Marte, que é agora conhecido com mais detalhe.

Depois de uma descida arriscada, que foi classificada como os "7 minutos de terror", o robot Perseveramce amartou com sucesso a 18 de fevereiro de 2021 na cratera Jazero, e nos últimos meses tem trazido novidades, imagens, vídeos e sons detalhados dos dias em Marte. Prepara-se agora para recolher as primeiras amostras de solo, uma das componentes mais relevantes da sua missão.

Este rover é o "investigador principal" da missão Mars 2020 mas tem sido ofuscado pela missão do pequeno helicóptero Ingenuity que transportou consigo e que guardou durante alguns meses dentro do seu corpo e que tem surpreendido pela sua resiliência às condições adversas.

Há 160 sols em Marte (dias marcianos), o Perseverance já captou quase 200 mil imagens com as várias câmaras com que está equipado, detetou registos de metano que se pensou ter origem biológica,  e na próxima semana vai dedicar-se a fundo a uma área de cerca de 4 metros quadrados onde os cientistas acreditam que pode haver registos de vida antiga em Marte. É ai que serão recolhidas as primeiras amostras que a NASA pretende trazer de volta à Terra, com a ajuda da ESA, numa missão especial e com um nível de pioneirismo relevante.

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Nos próximos meses vamos continuar à espera de mais descobertas científicas, até porque ainda estamos nos primeiros passos de uma missão que deverá durar pelo menos um ano marciano, o que corresponde a 687 dias na Terra. Mas todos esperam que esse tempo seja ultrapassado, à semelhança do que tem acontecido com outras missões em Marte. O Rover Curiosity, por exemplo, já tem mais de 3 mil dias de viagem no Planeta Vermelho e ainda está "para as curvas".

Ingenuity: 10 missões de voo que são cada vez mais arrojadas

O helicóptero Ingenuity continua a ser uma boa surpresa e já completou o seu 10º teste de voo no sábado, dia 24 de julho. Desde que estendeu as suas asas pela primeira vez, o pequeno dispositivo já somou a sua primeira milha, ou seja, 1,6 quilómetros nos 10 testes realizados. E a equipa da Terra continua a elevar a fasquia do aparelho, tendo realizado um voo por uma região chamada “Raised Ridges”, na cratera de Jezero onde está alocada a sua base de operações.

O novo teste fica marcado pelo recorde de altura, de 12 metros, num voo de 95 metros. Desde que levantou até poisar, o voo durou menos de três minutos. Os investigadores assinalaram 10 pontos diferentes de passagem, captando imagens da sua paisagem. A equipa estava particularmente interessada em obter imagens da região Raised Bridges.

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Os 10 pontos preparados para o 10º voo do Ingenuity.

De recordar que o Ingenuity foi projetado para quatro voos iniciais em Marte, desde o primeiro teste realizado no dia 19 de abril. O objetivo era que o helicóptero sobrevoasse a superfície marciana a uma altitude de três metros e durante 30 segundos. De voo para voo foram alcançados novos marcos. Logo no segundo voo, o helicóptero conseguiu alcançar uma altitude de 10 metros, no quarto percorreu uma distância de 266 metros e no sexto voo esteve no ar 139,9 segundos.

No voo anterior, o Ingenuity voou 625 metros para completar a sua nona missão de voo, a uma velocidade de cinco metros por segundo e mantendo-se no ar durante cerca de 166,4 segundos. O voo nove foi o mais afastado do rover, até à data. Levou o Ingenuity para terreno desconhecido e fê-lo voar a velocidades mais elevadas que em voos anteriores.

Relembre alguns dos melhores momentos do helicóptero Ingenuity na galeria:

Fazendo contas à sobrevivência do helicóptero, a NASA referiu que o Ingenuity já sobreviveu a 107 sols (dias marcianos) desde que saiu da proteção do Perseverance, ou seja, mais 76 sols para lá do tempo que foi concebido para a demonstração tecnológica para o qual foi desenhado. Para além da sua primeira milha, já somou um total de quase 17 minutos no ar. E promete continuar a contabilizar.

8 coisas para descobrir sobre a missão da NASA a Marte

A Missão Mars 2020 da NASA é uma das mais ambiciosas de sempre e tem características que a diferenciam de outros aparelhos científicos já enviados a Marte,

1. Em busca de sinais de vida antiga
Missões anteriores da NASA descobriram evidências de que Marte já hospedou água corrente antes de se tornar um deserto gelado. No início de sua história, Marte tinha ambientes mais quentes na superfície que poderiam ter sustentado vida microbiana. O objetivo do Perseverance é dar o próximo passo, buscando, como objetivo principal, responder a uma das questões-chave da astrobiologia: Existem sinais (ou bioassinaturas) de vida microbiana passada em Marte?

Essa meta científica exigente requer um novo conjunto de instrumentos inovadores para lidar com a questão de vários ângulos. Dois deles irão desempenhar um papel particularmente importante na busca de sinais potenciais de vidas passadas: SHERLOC (abreviação de Scanning Habitable Environments with Raman & Luminescence for Organics & Chemicals), que pode detectar matéria orgânica e minerais, e PIXL (abreviação de Planetary Instrumento para litoquímica de raios-X), que mapeia a composição química de rochas e sedimentos. Os instrumentos permitirão aos cientistas analisar esses recursos com um nível de detalhe mais elevado do que qualquer rover anterior.

O Perseverance também será capaz de usar alguns instrumentos para coletar dados científicos à distância: as câmaras do Mastcam-Z podem fazer zoom em texturas de rochas de lugares tão distantes quanto um campo de futebol, enquanto o SuperCam usará um laser para destruir rocha e regolito (rocha quebrada e poeira) para estudar sua composição no vapor resultante. O RIMFAX (abreviação de Radar Imager for Mars ’Subsurface Experiment) vai usar ondas de radar para sondar características geológicas subterrâneas.

2. Cratera Jazero, um local de grande potencial
O local escolhido para pousar o rover é interessante mas difícil. Graças às novas tecnologias que permitem ao Perseverance direcionar seu local de "amartagem" com mais precisão e evitar perigos de pousar de forma autónoma, a espaçonave pode pousar com segurança num intrigante delta de rio antigo com penhascos íngremes, dunas de areia e campos de pedras.

A cratera de Jezero é uma bacia de 45 quilómetros de largura localizada no hemisfério norte de Marte. Há cerca de 3,5 mil milhões de anos, um rio fluiu para um corpo de água do tamanho do Lago Tahoe, depositando sedimentos em forma de leque conhecido como delta. A equipe científica do Perseverance acredita que este antigo delta de rio e depósitos de lagos podem ter colecionado e preservado moléculas orgânicas e outros sinais potenciais de vida microbiana.

Esta imagem mostra penhascos vermelhos em camadas surgindo de uma superfície plana e marrom. A superfície do penhasco inclina-se da direita para a esquerda, com os penhascos mais próximos do lado direito da imagem e os mais distantes à esquerda. Nuvens cor de rosa pairam sobre as cristas dos penhascos.

3. A recolha de dados importantes sobre a geologia e o clima de Marte
As sondas em órbitra de Marte têm reunido imagens e dados da cratera de Jezero a mais de 300 quilómetros de distância, mas encontrar sinais de vida antiga na superfície requer uma inspeção muito mais detalhada. E por isso é preciso estar no solo. Compreender as condições climáticas anteriores de Marte e ler a história geológica gravada nas suas rochas dará aos cientistas uma noção mais rica de como era o planeta em seu passado distante. Estudar a geologia e o clima do Planeta Vermelho também pode dar uma noção das razões porque a Terra e Marte - apesar de algumas semelhanças iniciais - acabaram tão diferentes.

4. Capacidade de superar desafios
A missão é arriscada e a NASA sublinha que não foi fácil fazer a sua preparação durante uma pandemia, mas que procurar sinais de vida antiga, recolher amostras e testar novas tecnologias não são feitos fáceis. Nem é um toque suave em Marte: apenas cerca de 50% das tentativas de chegar ao solo marcianas, por qualquer agência espacial, foram bem-sucedidas.

5. Primeira etapa de uma viagem de ida e volta a Marte
O Perseverance é o primeiro rover com um sistema de recolha de amostra para Marte que irá empacotar amostras promissoras para trazer de volta à Terra numa missão futura.

Em vez de pulverizar a rocha como a broca da Curiosity faz, a broca da Perseverance cortará núcleos de rocha intactos que são aproximadamente do tamanho de um pedaço de giz e os colocará em tubos de amostra que armazenará até que o rover alcance um local apropriado de queda em Marte . O rover também pode entregar as amostras a uma sonda que faz parte da campanha planejada de devolução de amostras de Marte pela NASA e pela ESA (Agência Espacial Europeia).

6. Os instrumentos e tecnologia que ajudarão a prepara o caminho para futuras missões humanas à Lua e Marte

Entre as tecnologias preparadas para o futuro na missão Mars 2020 Perseverance que vai ser em missões futuras está a Navegação Relativa ao Terreno. Como parte do sistema de pouso da nave espacial, a Navegação Relativa ao Terreno é a principal razão pela qual o Perseverance pode explorar um lugar tão interessante como a Cratera de Jezero. É ele que permite que a nave espacial compreenda de forma rápida e autónoma sua localização sobre a superfície marciana e modifique sua trajetória no momento de "amartagem".

O Perseverance também tem mais autonomia na superfície do que qualquer outro rover, incluindo inteligência autónoma que lhe permite cobrir mais terreno nas operações de um dia com menos instruções de engenheiros na Terra. Essa capacidade de avanço rápido (cortesia de sensores, computadores e algoritmos atualizados) pode se traduzir em mais capacidade científica ao longo da missão. Além disso, tornará a exploração da Lua, de Marte e de outros corpos celestes mais eficiente para outros veículos.

O Perseverance vai também testar novas tecnologias, como o MOXIE, que vai testar a produção de oxigénio da atmosfera de dióxido de carbono de Marte, demonstrando a forma como futuros exploradores podem produzir oxigénio para propelente de foguete, bem como para respiração.

Dois outros instrumentos ajudarão os engenheiros a projetar sistemas para que futuros exploradores humanos pousem e sobrevivam em Marte: O pacote MEDLI2 (Mars Entry, Descent e Landing Instrumentation 2) é uma versão de próxima geração do que voou na missão do Mars Science Laboratory o rover Curiosity, enquanto o conjunto de instrumentos MEDA (Mars Environmental Dynamics Analyzer) fornece informações sobre tempo, clima e radiação ultravioleta e poeira de superfície.

7. Um mini helicóptero que testa as condições de voo em Marte

Até agora as principais descobertas sobre Marte foram feitas por sondas em órbita, ou por robots no solo, mas a bordo do Perseverance, guardado na sua "barriga", segue uma outra experiência da NASA, o Ingenuity, um pequeno veículo que vai tentar perceber se é possível voar em Marte, recolhendo dados sobre o comportamento de uma aeronave noutro planeta.

A tarefa não se antevia fácil: a atmosfera fina de Marte dificulta a sustentação de qualquer objeto. Como a atmosfera do planeta vermelho é 99% menos densa que a da Terra, o Ingenuity precisava de ser leve, com pás de rotor muito maiores e que giram muito mais rápido do que seria necessário para um helicóptero com a mesma massa na Terra.

O frio será outro dos obstáculos a enfrentar pelas peças do Ingenuity, uma vez que a cratera de Jezero, onde o rover Perseverance irá "amarrar" com o Ingenuity anexado à sua base, pode atingir temperaturas de 130 graus Fahrenheit negativos (90 graus Celsius negativos) durante a noite.

O mini-helicóptero pesa apenas 1,8 kg e é composto por quatro pés, um corpo e duas hélices sobrepostas, medindo apenas 1,2 metros de uma ponta à outra de uma hélice. As hélices giram a uma velocidade de 2.400 rpm (rotações por minuto), cerca de cinco vezes mais rápido do que um helicóptero normal.

Para recarregar as baterias, o Ingenuity está equipado com painéis solares, sendo grande parte da sua energia utilizada para se manter quente na temperatura negativa de Marte, e também pode captar fotografias e vídeos.

8. A missão mais "participada" de sempre
A missão Mars 2020 Perseverance leva a bordo mais câmaras do que qualquer missão interplanetária da história, com 19 câmaras no próprio rover e quatro em outras partes da nave envolvida na entrada, descida e pouso. Tal como acontece com as missões anteriores a Marte, a missão Mars 2020 Perseverance planeia disponibilizar imagens brutas e processadas no site da missão.

Pela primeira vez foi possível experimentar em alta definição como é pousar em Marte - e ouvir os sons da aterragem pela primeira vez com um microfone pronto para uso afixado na lateral do rover. Outro microfone do SuperCam ajuda os cientistas a entender as propriedades das rochas que o instrumento está a examinar e também a ouvir o vento.

E a bordo do rover está uma placa especial com três chips de silício onde foram gravados os nomes de mais 10,9 milhões de pessoas que se inscreveram para também participar nesta missão a Marte.

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