Dar início aos primeiros testes com humanos era um dos grandes objetivos da Neuralink, depois de já ter testado a sua tecnologia em animais como ratos, porcos e macacos. A confirmação chegou no final de janeiro, com Elon Musk a anunciar que a empresa tinha conseguido realizar o seu primeiro implante num humano.
Agora, o magnata e fundador da empresa, assegura que o primeiro paciente a receber um implante cerebral da Neuralink já é capaz de controlar um rato de computador através da sua mente. A revelação foi feita durante uma sessão no Spaces, da rede social X, onde Elon Musk afirmou também que o paciente parece ter recuperado totalmente, sem registar quaisquer efeitos nocivos.
A Neuralink não é a única a desenvolver interfaces cérebro-computador e está longe de ser a primeira a instalar um implante cerebral num humano. Mas o que significa este marco para o projeto ambicioso, e igualmente controverso, apresentado em 2017 e como é que a comunidade científica olha para a sua evolução?
Das experiências com animais aos testes em humanos
Embora já se conhecessem alguns dos avanços feitos, incluindo em testes com macacos a controlar computadores com o cérebro e com elétrodos em ratos, o projeto esteve envolto em algum “mistério” até 2020.
Nesse ano, a empresa revelou como funcionaria o seu “Fitbit para o cérebro”, nas palavras de Elon Musk, com uma demonstração ao vivo do funcionamento da tecnologia, implantada em três porcos. No ano seguinte, a Neuralink demonstrou como conseguiu pôr um macaco a jogar Pong telepaticamente através dos seus implantes.
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A empresa ambicionava começar os primeiros testes com humanos em 2022, e Elon Musk até já se voluntariava para ser das primeiras “cobaias”. No entanto, a falta de aprovação por parte da reguladora norte-americana Food and Drug Administration (FDA), que chegou a rejeitar pedidos da empresa, foi um dos fatores de “peso” que acabou por atrasar esse processo, a par de questões como alegados abusos nas experiências com animais.
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A aprovação da FDA chegou em 2023, com “luz verde” para começar os testes de implantes cerebrais em humanos. Os testes iniciais com humanos estão a ser feitos com pessoas que têm condições como paralisia causada por lesões na medula espinal ou esclerose lateral amiotrófica. Segundo os planos da Neuralink, numa primeira fase, o objetivo é que os pacientes consigam controlar um cursor ou um teclado apenas com o pensamento.
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De acordo com a informação disponível no website da Neuralink, a versão mais recente do implante, que toma o nome N1, é envolta num invólucro biocompatível, sendo hermeticamente selada. O N1 é alimentado por uma pequena bateria que é carregada exteriormente, via carregamento sem fios.
O implante é capaz de registar a atividade cerebral através de 1.024 eletrodos, distribuídos via 64 fios, descritos ultrafinos e flexíveis para minimizar danos durante o processo de implantação e durante o uso. Devido às especificidades do implante, a sua implantação necessita de ser realizada por um robot-cirurgião, através de um procedimento cirúrgico.
A empresa desenvolveu também uma app que, nesta fase, permite "descodificar" a atividade cerebral relativa ao movimento dos membros registada pelo implante, permitindo o controlo de equipamentos, como computadores, com a mente.
Recentemente, Elon Musk deu a conhecer um pouco mais sobre aquele que será o primeiro produto da Neuralink, chamado Telepathy. De acordo com o empresário, a solução permitirá controlar o smartphone, computador ou outros dispositivos através do pensamento, e os primeiros utilizadores serão pessoas que perderam a capacidade de usar os seus membros.
Mas ajudar pessoas a recuperar capacidades que perderam devido a condições médicas ou acidentes não é o único objetivo. A Neuralink ambiciona tornar os implantes suficientemente seguros, e fiáveis, para dotarem os cérebros com capacidades informáticas.
Ainda em 2022, durante uma intervenção na conferência anual da empresa, Elon Musk defendeu que estes chips deviam permitir à humanidade alcançar uma "simbiose com a inteligência artificial".
Para a comunidade científica, em particular para os investigadores da área das nanotecnologias, o progresso feito pela empresa de Elon Musk é encarado com um entusiasmo cauteloso, avança a revista científica nature.
A falta de transparência e de informação detalhada sobre o que o projeto está a fazer, incluindo sobre como é que o processo de implantação é realizado e o que a empresa pretende avaliar nos testes com humanos, levantam preocupação entre os investigadores. A segurança e bem-estar dos pacientes que se voluntariaram a participar nos testes é outra das questões fundamentais.
Para já, ainda é cedo para perceber se os implantes da Neuralink serão, de facto, eficazes em humanos e se as capacidades prometidas pela empresa se concretizarão. Note-se que as tecnologias desenvolvidas por outras empresas e projetos de investigação, com foco na área da Saúde, têm demonstrado resultados positivos, incluindo soluções de implante menos evasivas do que a da empresa de Elon Musk.
Veja-se o caso da Synchron, que além de ter conseguido a aprovação da reguladora norte-americana Food and Drug Administration (FDA) para fazer testes em humanos em julho de 2021, colocou o seu primeiro implante cerebral humano nos Estados Unidos no ano seguinte.
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A Synchron tem vindo a fazer testes com voluntários na Austrália que estão a usar o sistema para controlar dispositivos digitais, incluindo equipamentos da Apple como o iPhone ou iPad.
Outra das empresas na "corrida" é a Precision Neuroscience, que conseguiu testar com sucesso um novo tipo de implante cerebral menos invasivo para ligar o cérebro ao computador.
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