O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, voltou a encerrar o Web Summit com uma mensagem positiva, apesar de Portugal estar a meio de uma crise política e estar marcada para hoje às 20H uma comunicação ao país sobre a decisão da data de eleições, depois do chumbo do Orçamento de Estado.
"Temos de lutar pela esperança e lutar pela recuperação económica", defendeu o Presidente que foi aclamado como uma estrela de rock na Altice Arena e deu um enorme abraço a Paddy Cosgrave, elogiando a sua resiliência. A luta contra as alterações climáticas, a necessidade de melhorar o digital, as competências e tudo o que representa um mundo melhor numa nova fase depois da pandemia estiveram no centro do discurso. "Vocês fazem a diferença", disse a uma audiência entusiasmada.
"Não é por acaso que a vencedora da Pitch Competition é uma startup portuguesa, a Smartext.ai", afirmou ainda, garantindo que vamos estar aqui todos os anos até mudarmos o mundo. "O Web Summit é sobre as pessoas e não sobre a tecnologia. A tecnologia é só uma ferramenta".
O entusiasmo não faltou nesta edição do Web Summit, mesmo com um número limitado de participantes face ao ano de 2019. Um dia antes de começar, a organização comunicou que tinha esgotado os bilhetes e os números finais apontam para mais de 42 mil participantes numa edição onde pela primeira vez há mais mulheres do que homens.
A Altice Arena esteve bem “composta” para o dia da abertura, num feriado nacional e em fim de semana prolongado, com mais de 11 mil pessoas, e pelos corredores da FIL sente-se que há mais espaço e menos aglomeração de pessoas, mas muito movimento e entusiasmo à volta de alguns dos stands mais emblemáticos, ou com marketing diferenciador.
O que interessa é também a apresentação de novas ideias, com mais de 1.200 startups em diferentes fases de desenvolvimento. Hoje já assistimos à apresentação das empresas que chegaram à final do concurso de Pitch e pela primeira vez há um "toque" especial de Portugal no vencedor em Lisboa. A Smartex.ai ganhou o prémio que certamente será muito útil em termos de visibilidade para o seu crescimento futuro e mesmo que não se apresente na lista de startups como portuguesa, tem raízes no país e um escritório no Porto.
É a primeira vez desde que o Web Summit está em Portugal que há um vencedor com ADN português, mas já a Codacy tinha ganho o concurso de startups na última edição da conferência na Irlanda, em 2015.
Veja as imagens captadas pela equipa do SAPO TEK que dão uma perspetiva por dentro do Web Summit
4 dias de inovação, ideias, startups e dos temas mais "quentes"
As criptomoedas não passaram ao lado das tendências do Web Summit. E uma das conferências foi entrado no futuro da criptomoeda. As moedas virtuais são cada vez mais populares, mas vão continuar a crescer em termos de valor? Tudo indica que sim, mas o futuro desta economia terá que passar por se tornarem mais seguras, mas igualmente mais sustentáveis. A energia que se gasta atualmente para minerar a criptomoeda é muito elevada, mas felizmente a tendência da tecnologia é reduzir o seu consumo de energia.
Outro assunto que nunca falha na Web Summit são os robots e este ano o SAPO TEK teve a oportunidade de conhecer a solução da Furhat Robotics, que é basicamente a construção de um “avatar” real. Um robot que pode servir como assistente virtual num balcão, numa loja ou mesmo ajudar no recrutamento através de IA. Mas talvez o mais interessante neste robot é que este pode ser assumido por um utilizador de forma remota, usando expressões e “lip Sync” para tornar mais próximas as interações, mesmo que os intervenientes estejam a milhares de quilómetros de distância.
Os drones e a condução autónoma também foram assuntos abordados pelo SAPO TEK. Por um lado, os drones que estão a ser desenvolvidos para serem cada vez mais autónomos, dispensando a necessidade de operadores treinados para os comandar. O objetivo é utilizá-los em trabalhos perigosos, tais como verificar o estado de saúde de pontes, por exemplo ou mapear em 3D estruturas vitais. Por outro lado, a introdução da condução autónoma continua a ver o seu lançamento comercial a escorregar. E se 2021 era o ano em que se previam vermos carros sem condutores a circular, esta realidade parece estar ainda a cerca de uma década de distância. Mas os problemas já foram identificados, falta resolver…
A realidade virtual e os chamados metaversos também estão na ordem do dia. Sobretudo depois do Facebook, ou melhor, o Meta, ter explicado como será o futuro das redes sociais. O assunto não passou ao lado da Web Summit e até o músico Jean-Michel Jarre deseja criar o seu próprio metaverso, onde o artista e fãs podem estar presentes em palcos virtuais.
Das ideias às Scaleups
Pelo Web Summit também passaram alguns anúncios que refletem a intenção de reforçar o posicionamento de Portugal no ecossistema de startups. Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa explicou, em conferência de imprensa, que o objetivo de fazer de Lisboa uma fábrica de unicórnios - revelado na sessão de abertura - é concretizar a ideia que esteve na origem dos esforços para atrair o Web Summit para Lisboa, desde a primeira hora: fazer do evento um catalisador de talento e startups para Portugal, para gerar emprego. Dar este passo seguinte implica criar todo um ecossistema que ajude os empreendedores a passar da ideia à empresa e ao scaleup dos projetos, atraindo mais talento e mais investidores.
Pedro Siza Vieira, ministro da economia, anunciou a reedição do Portugal Tech, uma espécie de “fundo dos fundos”, que vai reunir 100 milhões de euros para entregar a capitais de risco que dinamizem investimentos em startups nas áreas da inteligência artificial, machine learning, fintech, health tech e cibersegurança. A expectativa é que as capitais de risco selecionadas para levar o Portugal Tech II ao terreno angariem mais 150 milhões de euros junto de privados, aumentando o capital disponível para investir nestes projetos para 250 milhões de euros. O primeiro fundo a beneficiar desta verba será lançado em 2022.
O objetivo de captar mais startups não é só nacional, é também europeu, mas a necessidade de estar perto dos investidores e dos clientes tem “atirado” muitas startups europeias para os EUA. Os responsáveis da Startup Portugal e da Scale Up Europe, acreditam que isso está a mudar e Vasco Pedro, co-fundador da Unbabel, também. E explicaram porquê.
Neste Web Summit estiveram 100 empresas apoiadas pelo programa Road 2 Web Summit, que este ano destacou uma das empresas participantes com um prémio de cinco mil euros para a startup com a melhor performance, atribuído pela parceira Galp. Ganhou a Cre-mar que desenvolveu uma plataforma de serviços de cremação, que permite tratar de todo o processo online, desde que alguém morre até receber as cinzas em casa, num prazo máximo de 72 horas.
Mas nem tudo são soluções de software e os componentes são essenciais ao desenvolvimento da tecnologia. Simon Segars, CEO da ARM, um dos maiores fabricantes mundiais de processadores, passou pelo palco principal do Web Summit para falar na crise dos chips, outro dos temas do momento. Deixou expectativas pouco otimistas para o Natal deste ano, no que se refere às compras de equipamentos eletrónicos, e muitas reticências em relação àquilo que podemos esperar até para o Natal de 2022.
O responsável explicou a complexidade do processo de fabrico de um chip e os elevados custos e deixou alguns números interessantes: neste momento há qualquer coisa como 2 mil milhões de dólares a serem investidos, todas as semanas, para reforçar a capacidade mundial de produção de chips em 50% nos próximos cinco anos.
Medicina ou tecnologia?
Já sabemos que fazer previsões é tudo menos uma ciência exata, mas Benedict Evans não deixou de tentar a sua “sorte”, conseguindo captar a atenção do público do Web Summit a partir do palco central com uma (acelerada) visão perspicaz e provocante daquilo que a paisagem tecnológica atual nos pode revelar sobre a paisagem tecnológica do futuro.
O analista independente defendeu que a pandemia alterou muitos hábitos no que diz respeito ao uso da tecnologia, mas principalmente, acelerou tudo o que já estava a mudar. Apontou o ecommerce em si como exemplo, tal como viajar, reservar estadia, deslocar-se ou mesmo conhecer a (futura) cara metade.
E numa altura em que a saúde mental nunca esteve tão na ordem do dia, a abordagem da MindMed, que aposta no desenvolvimento de uma nova geração de terapias e medicamentos psicotrópicos, é encarada como “uma possibilidade completamente revolucionária”.
Ainda do lado da saúde atesta-se que a complexidade da biologia humana está cada vez mais perto de ser desvendada graças à convergência entre medicina e tecnologia. A relação entre indústrias culturalmente tão diferentes nem sempre é fácil, mas com “humildade” tudo se faz, defendeu Tina Larson responsável pela Recursion.
Na sessão "Digital divide: The new face of inequality" ficou o aviso de que a digitalização é sinal de avanço, mas também pode vir a tornar-se no principal sinal de pobreza, quando a educação, serviços e transações financeiras passam cada vez mais para a internet. A solução deve ser trabalhada conjuntamente numa joint-venture público privada, com as pessoas no centro, defendeu-se.
Privacidade, "carne vegan" e inteligência artificial
Os whistleblowers foram uma das três linhas de conteúdo apontadas por Paddy Cosgrave como centrais para a edição de 2021 do Web Summit, com Frances Haugen a pisar o palco central para explicar porque tomou a decisão de se tornar uma denunciante. A propósito das suas declarações, Nick Clegg, vice-presidente de assuntos internacionais e de comunicação da Meta, afirmou que apesar da whistleblower ter o direito de denunciar situações que considera impróprias, “há sempre dois lados em qualquer história”, destacando as medidas que a empresa, anteriormente conhecida como Facebook, está a tomar.
Tal como Frances Haugen, Christopher Wylie foi também um denunciante da empresa liderada por Mark Zuckerberg no polémico caso Cambrige Analytica. O atual responsável pelo departamento de tecnologias emergentes da H&M pintou um futuro onde todas as tecnologias observam os nossos hábitos e comportamentos, alertando para a possibilidade de passarmos a “viver numa casa assombrada por algoritmos invisíveis” caso não seja criado um código para a Internet.
Teremos alguma vez controlo da Internet? Numa sessão onde foi acompanhado por Garry Kasparov, Ondrej Vlcek, da Avast, defendeu que reimaginar a indústria da segurança informática é um dos pontos necessários para atingirmos esta meta. Já Raj Samani, da McAfee, sublinhou que as empresas precisam de mudar a forma como encaram a o mundo do cibercrime para conseguirem proteger os dados contras as novas ameaças cibernéticas.
A propósito de controlo, neste caso das lojas digitais de aplicações, Andy Yen, da Proton, e Horacio Gutierrez, do Spotify, subiram ao palco central do Web Summit para darem a sua perspetiva enquanto membros da Coalition for App Fairness, apontando baterias à Apple e defendendo que a legislação é a arma para combater as práticas de empresas das Big Tech, sendo esta uma área onde a Europa pode liderar por exemplo.
Mas no Web Summit também houve espaço para ver como a tecnologia está a mudar a forma como se produz “carne”. A Juicy Marbles veio ao Web Summit demonstrar que é possível criar filet mignon à base de plantas: com direito a demonstração culinária. O SAPO TEK também provou e podemos dizer que ficámos agradavelmente surpreendidos.
A Inteligência Artificial centrou também o debate em vários palcos. No painel que juntou Daniela Braga, fundadora da Defined.ai e Daniel Dines, da UiPatch, no palco principal do Web Summit, ficou a convicção de que um cenário em que as máquinas tomem o controlo das decisões, à revelia dos humanos, continua a estar longe da realidade, mesmo que seja consensual que a tecnologia acelerou brutalmente nos últimos anos.
Ainda assim, os responsáveis sublinharam que os passos na IA são lentos e fazem parte de uma corrida global. Daniel Dines acredita que não há países ou regiões vencedoras ou vencidas, o esforço tem de ser global. Daniela Braga voltou a reforçar que a Europa está a perder terreno para a China e os Estados Unidos, nesta matéria. Partilhar dados e promover a cooperação entre todos os países da região é fundamental para alcançar escala.
Precisaremos de umas “Nações Unidas da IA” para alcançar uma abordagem mais unificada entre países? A regulação da tecnologia ao longo do próximo ano foi um dos temas centrais da sessão onde Daniela Braga e Jean-François Gagné, da ServiceNow, partilharam as suas perspetivas em relação às abordagens dos Estados Unidos e Europa. Ambos os especialistas apontam para a necessidade de se seguirem princípios fundamentais como transparência e rastreabilidade, assim como de ter “standards unificados” para acelerar a inovação.
Em conferência de imprensa, a mesma responsável anunciou a mudança de nome da empresa que fundou, até aqui DefinedCrowd, e comentou a polémica em torno do Facebook, que é um dos clientes da empresa. Considerou que a rede social não tem “um plano maléfico” para dominar o mundo: “quando temos equipas de milhares de pessoas a desenvolver tecnologia, o que mais queremos é criar tecnologia que faça os utilizadores felizes”.
Nota da Redação: a notícia foi atualizada com mais informação. Última atualização 11h35 de dia 5/11/2021
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