A possibilidade da Apple apresentar o seu headset de realidade aumentada como uma nova classe de produtos durante o WWDC23 já parece começar a mexer as águas na indústria do metaverso. A Meta, dona do Facebook, está em conversações com a Magic Leap para um acordo válido para múltiplos anos, com o objetivo de explorar a tecnologia da startup de realidade aumentada, avança o jornal Financial Times.
A Meta espera explorar a tecnologia a nível das propriedades intelectuais da startup, assim como ajudá-la a tornar os seus headsets um produto mais acessível e mainstream, através de um contrato de produção nos Estados Unidos. Segundo o relato de fontes próximas do acordo a jornal, não se trata de uma união das duas empresas para a criação do headset, mas sim a tecnologia que a startup desenvolveu.
A sofisticação da sua tecnologia de lentes finas, capazes de reproduzir imagens realísticas a diferentes profundidades interessa à empresa de Mark Zuckerberg.
Veja na galeria imagens do primeiro headset da Magic Leap:
A parceria poderá funcionar como um incentivo aos investidores, que desde cedo se mostram céticos ao orçamento de 10 mil milhões de dólares por ano que a Meta tem vindo a gastar com a tecnologia, sem retorno à vista nos próximos anos. O mais recente ano fiscal ficou aquém das expetativas para a gigante tecnológica, levando mesmo ao despedimento coletivo de milhares de funcionários.
Os especialistas acreditam que a entrada da Apple no metaverso, ou numa estratégia equivalente, terá um papel muito importante na explosão da adoção da tecnologia. E a apresentação da sua visão no sector também funciona como uma validação, uma vez que a Apple é reconhecida por não “saltar para um mercado até este estar pronto”, nas palavras do próprio Peggy Johnson, CEO da Magic Leap, para a Bloomberg.
Recorde-se que a Meta recentemente realizou um estudo que projetava que a indústria do metaverso poderia render 489 mil milhões de euros à Europa em 2035. Ainda que a empresa liderada por Mark Zuckerberg tenha perdido um pouco do fulgor e entusiasmo na divulgação da tecnologia, muito devido à mudança de foco para a tendência da IA generativa, como o ChatGPT. Mas o certo é que as grandes empresas tecnológicas e startups já “enterraram” milhares de milhões de dólares no conceito de metaverso e esperam que a Apple dê um “boost” à tecnologia.
Veja na galeria imagens da segunda versão do Magic Leap:
O Financial Times acrescenta que o interesse da Meta em trabalhar com a Magic Leap surge no seguimento das pressões que as tecnológicas dos Estados Unidos enfrentam para se distanciarem da dependência da China no que diz respeito ao fabrico de hardware. E a startup, que está na indústria da realidade aumentada desde 2010, já levantou mais de 3,5 mil milhões de dólares, com rondas de investimentos participadas por empresas como a Google, Qualcomm e Alibaba (e o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita já controla 50% das suas ações). Mas o lançamento em 2018 do seu primeiro headset vendeu apenas milhares, levando a uma mudança de estratégia, de um foco do consumo para o empresarial. A segunda geração do headset chegou ao mercado em 2022.
O licenciamento da tecnologia poderá ser uma das fontes de receitas que a Magic Leap poderá explorar, sobretudo ao nível do seu processo de fabricação patenteada para o sistema ótico.
De recordar que segundo números da IDC, no ano passado houve uma quebra de 20,9% nas vendas de headsets para realidade virtual e realidade aumentada. No total terão sido comercializados 8,8 milhões de equipamentos. A consultora explica que o segmento ainda não atrai uma atenção massiva dos consumidores, o número de fabricantes com ofertas no mercado continua a ser reduzido e o ambiente macroeconómico instável teve o seu impacto. A entrada da Apple no mercado poderá mudar o paradigma desta indústria, caso replique a mesma tendência com a entrada nos smartphones, tablets ou leitores de música digital.
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