Nos últimos anos a realidade mudou significativamente para muitas empresas que tiveram necessidade de investir nas infraestruturas de suporte, viram as cadeias de valor a encurtar, desenharam novos serviços destinados à produção, novos modelos de negócio, e tiveram de procurar pessoas com competências para funcionar neste novo modelo. O cenário foi traçado por Pedro Siza Vieira esta manhã, na abertura do Portugal Digital Summit’19, a conferência promovida pela ACEPI que decorre no Pavilhão Carlos Lopes hoje e amanhã, 22 e 23 de outubro. O Ministro Adjunto e da Economia do atual Governo, e já indigitado Ministro da Economia e da Transição Digital no XXII Governo, alertou para o facto da mudança para o digital estar a acelerar e dos riscos de nos atrasarmos neste desafio e nesta mudança.
“Penso no que o país pode ser dentro de uma década”, afirmou, admitindo que na sua visão todas as empresas e os cidadãos têm novas oportunidades e nenhuma pessoa ou região fica para trás, mas admitindo que há também o outro cenário, semelhante a uma aldeia no centro do país de onde os filhos e netos partiram e que só regressam nas férias para viver memórias, um quadro que é preciso evitar.
Recorrendo aos dados da digitalização da economia, Pedro Siza Vieira lembrou que 30% das empresas não têm presença digital. “As empresas que percebam o que é a transição digital vão crescer e prosperar, vão identificar as novas oportunidades de negócio, vão prestar serviços nesta nova realidade, encontrar novas formas de se relacionar com os seus clientes e parceiros. Os que não o souberem fazer vão ter o destino da BlackBerry”, sublinhou.
Os critérios para adequar o tecido económico passam por ter pessoas qualificadas, instituições de ensino que preparem as pessoas para as novas necessidades, empresas a trabalhar em rede, uma base de conhecimento científico e tecnológico adequado aos novos tempos, alinha Pedro Siza Vieira. “Todos os que estão nesta sala percebem a dimensão da oportunidade e o potencial de mudança que se oferece ao nosso país, mas também sabem bem o que sucederá se nos atrasarmos a enfrentar este desafio ou perdermos a oportunidade de mudança”, alerta.
“O que temos de aspirar é ser uma sociedade moderna, assente no conhecimento, na inovação, eficiente, que não desperdiça recursos e que não deixa ninguém para trás”, complementou, acrescentando que os participantes no Portugal Digital Summit’19 são os protagonistas desta mudança e estão na condição de ajudar a transformar o país.
Números de uma mudança em curso (lento)
Alexandre Nilo Fonseca, presidente da ACEPI, recorreu aos números do Estudo da Economia Digital para mostrar como a evolução nos últimos anos tem sido rápida, mas avisando que nos próximos 15 anos a transformação vai ser ainda mais acelerada e intensiva, assente nas tecnologias de inteligência artificial, de interfaces de voz e de uma digitalização intensiva dos processos de negócio. “Estamos a entrar no conceito de Digital Business, em que tudo é integrado desde o momento em que concebemos um produto até ao momento da entrega ao cliente”, afirmou.
A diferença entre as empresas com um nível de sofisticação grande e “o ecossistema empresarial que está fora da realidade” e da economia digital, foi também sublinhada pelo presidente da ACEPI, que lembrou as várias iniciativas que a associação tem para as pequenas e médias empresas, como o Comércio Digital.
Apesar dos números ainda reduzidos de portugueses que já compram online, o volume total de transações eletrónicas é elevado e ultrapassa os 87 mil milhões de euros, representando já 40% do PIB, muito fruto das transações entre empresas e com o Governo (B2B e B2G). “Ao contrário do que as pessoas pensam, nesta área damos cartas, embora o B2C tenha espaço para crescer”, adiantou Alexandre Nilo Fonseca.
Outro dos grandes desafios é o facto de uma fatia muito significativa dos 5,5 milhões de euros gastos pelos consumidores ser feito fora do país, cerca de 90%, com peso muito significativo da China.
O presidente da ACEPI fez ainda a comparação com a Alemanha, que está na 12ª posição no Índice de Desenvolvimento Digital (DESI), enquanto Portugal está na 19ª posição. “A Alemanha tem muito a ensinar-nos no capital humano, da transformação das empresas e na transformação digital até dos próprios cidadãos, com uma utilização muito acima dos portugueses”, sublinhou.
Esta mobilização para a transformação digital foi também sublinhada pelos representantes de organizações alemãs que participam o Portugal Digital Summit. Miguel Leichsenring-Franco, da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã afirmou que esta revolução digital é da maior importância para uma economia e indústria tão sofisticadas como a alemã. O responsável lembrou que há muitas empresas alemãs que já escolheram Portugal para fixar as suas áreas de desenvolvimento e inovação, e que a organização que representa apoia ainda outras companhias menos conhecidas que estão neste processo, tirando partido das competências e condições que existem no país.
Também Daniela Schlegel, responsável de missão da embaixada da Alemanha em Portugal, salientou que Portugal é uma localização cada vez mais atraente para localização de startups e empresas digitais e elogiou o trabalho que tem sido feito a nível económico e político, que vai ser reforçado com a presidência conjunta da União Europeia em 2021 entre Alemanha, Portugal e Eslovénia.
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