Esta semana, a China lançou para o Espaço um novo módulo para a Tiangong, a estação espacial que está a construir. O lançamento decorreu com sucesso, no entanto, parte do foguetão Long March 5B, utilizado para o transportar para o módulo Wentian, que se encontra numa órbita descontrolada, prepara-se para reentrar na Terra nos próximos dias.
Embora se acredite que a reentrada do Long March 5B não apresenta um risco elevado para zonas habitadas, espelhando o que aconteceu em casos anteriores, ouvir que há um foguetão prestes a cair na Terra não deixa de ser passível de causar alguma preocupação.
Para o ajudar a compreender o que se passa e que consequências poderá ter esta situação o SAPO TEK preparou um breve guia com seis perguntas e respostas essenciais, tendo por base informação divulgada por especialistas da área.
Que parte do foguetão vai cair na Terra?
O foguetão Long March 5 tem duas versões e, à semelhança do lançamento que ocorreu em 2021, foi utilizada a variante CZ-5B, que não inclui um segundo estágio entre o primeiro e os propulsores. O núcleo, com um peso estimado entre 17 e 21 toneladas, é a parte do foguetão que se prepara para reentrar na Terra.
Por que motivo não se desintegra totalmente ao entrar na atmosfera do nosso planeta?
Como explica Marlon Sorge, especialista da Aerospace Corporation, de modo geral, este tipo de não é concebido para ficar em órbita, à semelhança do que acontece com os propulsores, acabando por descender e cair numa zona considerada segura, como no oceano.
Devido às suas dimensões, o núcleo não se desintegra totalmente ao entrar na atmosfera da Terra. Segundo Marlon Sorge, quando se trata de objetos espaciais deste calibre, entre 20% a 40% acaba por “sobreviver”, mas é também preciso ter em conta o seu design. No caso do Long March 5B, após a reentrada, espera-se permaneçam entre cinco a nove toneladas do núcleo.
Quando é o núcleo do foguetão que vai reentrar na Terra?
Várias entidades e organizações especializadas estão a acompanhar o percurso do núcleo do Long March 5B, como a Aerospace Corporation. De acordo com os mais recentes dados, o núcleo fará uma reentrada no dia 30 de julho, pelas 18h26 (UTC), mais ou menos seis horas.
A informação está em linha com as previsões do Serviço de Vigilância e Rastreio de Objetos no Espaço da União Europeia (EU SST), que apontam para uma janela temporal situada entre os dias 30 e 31 de julho.
No entanto, note que, devido à órbita descontrolada, é provável que a data exata se possa alterar, motivo pelo qual tanto a Aerospace Corporation, como o EU SST, estão a atualizar as suas previsões à medida que chegam novos dados acerca da rota percorrida pelo núcleo do foguetão.
Onde é que o foguetão poderá cair: Portugal está em risco?
As previsões partilhadas pelo EU SST demonstram um conjunto de zonas onde os destroços poderão cair, com possíveis rotas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Como é possível observar, algumas das possíveis rotas passam também pela Europa, visando países como Portugal e Espanha.
Qual é a probabilidade de cair numa zona habitada?
Note que, de acordo com Ted Muelhaupt analista da Aerospace citado pela Aljazeera, o risco representado pela queda dos destroços para zonas habitadas por pessoas é relativamente baixo, tendo em conta que 75% da superfície visada é coberta por água, desertos ou até zonas de floresta e selva. O especialista detalha que a probabilidade de alguém ser atingido pela queda de destroços varia entre um em mil e um em 230.
Por que motivo é tão difícil prever quando e onde é que o foguetão vai cair?
Segundo Marlon Sorge, existem vários fatores que têm impacto na previsão de objetos espaciais descontrolados. O especialista indica que a atividade solar é um dos fatores de “peso”. À medida que o Sol emana energia, aquecendo a atmosfera da Terra, qualquer mudança na quantidade emitida fará com que a atmosfera expanda ou contraia, tendo impacto na reentrada de objetos espaciais.
Recorde-se que esta não é a primeira vez que um foguetão chinês acabou por se descontrolar, deixando muitos preocupados quanto às consequências da queda dos destroços na Terra. Ainda em maio do ano passado, parte de um outro foguetão Long March 5B fez uma reentrada descontrolada na Terra depois de ter ajudado a colocar mais uma peça na estação espacial que a China está a construir.
Na altura, a agência espacial chinesa confirmou que o primeiro estágio do foguetão, com cerca de 30 metros e entre 17 e 21 toneladas e a viajar a uma velocidade de quase 28 mil quilómetros por hora, acabou por cair um local próximo das ilhas Maldivas, no oceano Índico, a sul da Índia.
A situação levou à ativação das mais importantes agências de monitorização espacial do mundo, incluindo o Serviço de Vigilância e Acompanhamento Espacial da UE (EUSST), e até do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
Já em 2020, na primeira viagem de um foguetão idêntico, alguns dos restos dos lançadores caíram na Costa do Marfim, danificando vários edifícios. Em 2018 a estação espacial Tiangong-1 também acabou por regressar à Terra num voo descontrolado, rumo ao oceano pacifico. A viagem terminou sem danos maiores.
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