Em plena era digital para uns e ainda de fase de transformação digital para outros, é inevitável que a tecnologia tenha impacto na forma como as empresas e as instituições gerem o seu talento, dada a escassez de talento que tanto falta na área das TI. Antes disso, qual o papel do sistema de ensino no processo e o que é preciso para haver um “abanão significativo”? Na sessão “TALENT” do primeiro dia do 33º Congresso da APDC, esta terça-feira, sugeriram-se respostas.
Precisamos urgentemente de profissionais nas TIC, sem esquecer a convergência de género, lembrou Luísa Ribeiro Lopes, sublinhando que embora Portugal até esteja acima da média europeia, só duas em cada 10 pessoas que trabalham nestas áreas são mulheres.
Para a presidente do .PT, a falta de mulheres qualificadas no sector tecnológico - e a escassez no geral - tem de ser “resolvida de raiz”, logo na educação pré-escolar.
“Temos de começar logo desde pequenos, fazer uma aposta séria no pré-escolar, e esperar que os resultados venham daqui a 20 anos”, afirmou Luísa Ribeiro Lopes. A responsável acrescentou que não acha que as políticas públicas estejam mal, “mas não podemos querer resultados no dia a seguir”.
Será por isso necessário “planear melhor e tomar decisões que sejam mais estruturantes”, sugeriu Manuel Garcia. Para o coordenador nacional do Programa UPskill, precisamos de politicas públicas, porque o mercado não vai resolver sozinho os desafios, disse.
“Temos um problema de competitividade e produtividade no país. Precisamos de automatizar processos e libertar pessoas. Está na altura de pensar que se calhar precisamos de um serviço nacional de requalificação”, apontou Manuel Garcia.
E se o ensino é importante, e os programas que ajudam os formandos a aprender são importantes, há uma parte da equação igualmente crucial (ou mais) que parece estar esquecida: os professores, na opinião de Rodrigo Castro, fundador e CEO da Educa-te.
“Falamos muito de números de programas, de alunos… mas deixo a pergunta - quem está preocupado com a qualidade de metodologia, pedagogia e do ensino?”, perguntou de forma retórica. E porque estamos a proibir a utilização de IA nas escolas? “Devemos dar a mão, ajudar, mas não proibir”, defendeu Rodrigo Castro. “Quando é delegada a responsabilidade a um jovem para decidir, vemos que são capazes de avaliar os perigos e as vantagens de utilização destas ferramentas”, disse dando exemplos.
Entre as empresas ainda não estão a ser tomadas as devidas precauções em termos de preparação dos recursos humanos, relativamente aos desafios que a inteligência artificial vai trazer, considera por sua vez Hugo Bernardes.
O CEO da The Key Talent lembrou que o processo de automação vai obrigar as pessoas a serem requalificadas para outro tipo de funções, para que tenham tarefas de maior valor acrescentado.
“Do ponto de vista das competências digitais, isto é ainda uma ‘caixa negra’ para muita gente. A IA ainda não é clara no que pode ser e existe pouca informação e muito medo. Sabemos o que aí vem. Temos é que nos preparar enquanto sociedade”, afirmou Hugo Bernardes.
Será um processo tendencialmente moroso, “mas num horizonte de 10 anos vamos sentir, mesmo em Portugal, grandes alterações nos postos de trabalho”, rematou.
Adequar a oferta ao mercado de trabalho
Criado em 2007, o Catálogo Nacional de Qualificações, da responsabilidade da ANQEP, está neste momento a ser alvo de uma renovação profunda que permitirá adequar a oferta de qualificações ao mercado de trabalho, sublinhou Filipa de Jesus, presidente da ANQEP, que fez o keynote da sessão “TALENT” do 33º Congresso da APDC.
“Em Portugal, 35% da população ativa tem uma escolaridade de 9º ano ou inferior. Um terço das pessoas ativas precisa de melhorar as suas qualificações”, referiu na sua intervenção.
A área do digital é aquela com mais percursos de formação na ANQEP. Desde 2020, abrangeu mais de 23.000 jovens, em que se formaram 17.153.
“Almejamos o reforço de cursos profissionais na área de informática. Queremos criar 365 centros tecnológicos especializados em quatro grandes áreas de especialização: industrial, energias renováveis, digital e informática”.
O SAPO TEK é media partner do 33º Congresso da APDC e está a acompanhar os debates e apresentações. Acompanhe tudo aqui e veja as imagens.
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