A Cambridge Analytica não sobreviveu ao impacto do escândalo que envolveu a utilização e manipulação de dados de milhões de utilizadores do Facebook e vai fechar portas. A empresa foi acusada do acesso indevido a 87 milhões de perfis da empresa de Mark Zuckerberg e da sua utilização para influenciar os resultados da campanha de Donald Trump e do referendo sobre o Brexit.
Segundo o comunicado oficial, a empresa iniciou o processo de insolvência com as entidades do Reino Unido, cessando imediatamente todas as suas operações. A Cambridge Analytica refere que “nos últimos meses foi sujeita a diversas acusações infundadas, e apesar do esforço da empresa corrigir o registo, foi difamada por atividades que não só são legais, como são globalmente aceites como uma componente para a publicidade online nas áreas políticas e comerciais”.
Em baixo deixamos algumas clarificações sobre todos os pontos essenciais da polémica que ligou a Cambridge Analytica ao Facebook e da história por detrás do escândalo que ainda pode trazer mais danos à empresa de Mark Zuckerberg.
O que é a Cambridge Analytica?
A Cambridge Analytica é uma empresa privada britânica focada na consultaria política, especialista em mineração e análise de informação online. A informação recolhida é utilizada para realizar serviços como comunicações estratégicas para os seus clientes durante os processos eleitorais. A empresa esteve envolvida na campanha eleitoral de Donald Trump, e dezenas de outras corridas políticas nos Estados Unidos. É também apontada como consultora sobre o referendo que levou o Reino Unido a sair da União Europeia.
Quem está por trás da empresa?
Alexander Nix era o presidente executivo, que foi afastado da empresa quando foi apanhado num vídeo a dizer que utilizava as chamadas “armadilhas sexuais” para causar influência a favor dos seus clientes. Ou seja, utilizava prostitutas e outras "técnicas" para subornos e chantagem, com impacto em mais de 200 eleições.
O que despoletou o escândalo?
O escândalo teve origem no acesso ilegal de mais de 87 milhões de perfis do Facebook pela Cambridge Analytica, utilizando os dados pessoais dos utilizadores. Segundo os jornais The London Observer e The New York Times, estes dados foram utilizados para criar um programa informático de propaganda destinado a influenciar os resultados de referendos e eleições, nomeadamente a campanha de Donald Trump para as presidenciais dos Estados Unidos. A polémica levou ao afastamento de Alexander Nix do cargo de presidente executivo da empresa.
Quais foram as consequências para o Facebook?
A polémica que envolveu o Facebook deu início a uma onda de contestação por parte de utilizadores, figuras públicas e empresas, iniciando campanhas para cancelar as contas no Facebook e abandono do investimento publicitário. Diversos executivos de Silicon Valley chegaram mesmo a alimentar a fogueira, como Elon Musk que apagou as páginas das suas empresas do Facebook e o fundador do WhatsApp que encorajou publicamente os utilizadores a fazer o mesmo.
Quais as consequências económicas e de credibilidade para o Facebook?
As empresas cancelaram as suas campanhas de publicidade, retirando milhões de euros em decurso. E estas prometem não voltar a utilizar a rede social enquanto a empresa de Zuckerberg não reconquistar a confiança dos seus utilizadores a respetiva segurança dos dados. Um desses casos foi a Mozilla, que cancelou as campanhas em vigor, levando ainda a Sociedade Britânica de Publicitários, que representa mais de 3.000 marcas, a instaurar um inquérito ao Facebook para apurar as consequências do escândalo. O Firefox chegou mesmo a introduzir uma extensão que impedia a rede social de recolher dados pessoais dos seus utilizadores. No pico da polémica, o Facebook perdeu, em apenas dois dias, cerca de 64 mil milhões de dólares em bolsa.
O que o Facebook fez para tentar resolver a polémica?
Durante o discurso de abertura da F8, a conferência anual do Facebook, Mark Zuckerberg referiu que está a preparar a plataforma para a entrada do novo regulamento europeu para a proteção de dados. Para tal os utilizadores têm de rever as suas definições de privacidade, não apenas os cidadãos europeus, mas todos os utilizadores mundiais.
No evento, o patrão do Facebook prometeu que nunca mais vai ficar desprevenido sobre o abuso de utilização da rede social. Para tal, anunciou uma ferramenta que será introduzida nos próximos meses para apagar o histórico e dados de entrada nos serviços da empresa, uma mecânica semelhante aos browsers de internet. Os utilizadores do Facebook tiveram também no seu feed avisos sobre as aplicações que usam e qual a informação partilhada pelas apps, e as vítimas da Cambridge Analytica receberam uma notificação diferente.
A audição de Mark Zuckerberg no congresso dos Estados Unidos
O patrão do Facebook esteve durante dois dias perante o Senado e o Congresso dos Estados Unidos, assumindo a responsabilidade e pedindo desculpa pelo sucedido, salientando que os seus utilizadores eram livres de abandonar a rede social. A empresa prontificou-se a introduzir regras mais apertadas no que diz respeito à forma como as empresas lidam com os dados dos utilizadores, de acordo com as regras de proteção de dados que vão entrar em vigor em maio na Europa. Essas regras são introduzidas a nível mundial.
Qual a posição de Bruxelas face à polémica de violação de dados pessoais?
A Comissão Europeia salienta a importância do papel dos denunciantes sobre crimes como a fraude, evasão de impostos, mas também a violação de dados pessoais. A proposta da Comissão segue na linha da abertura de canais seguros para proteger os denunciantes contra situações de retaliação, como despedimentos ou despromoções, quando revelam situações e atividades ilegais. Sobre o caso Facebook, os Eurodeputados exigiram a presença de Mark Zuckerberg no Parlamento Europeu para explicar como a rede social realiza a gestão dos dados pessoais dos utilizadores europeus e como vai cumprir com o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD). Os eurodeputados continuam à sua espera até hoje…
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