![Diversidade, Equidade e Inclusão: O que se passa com a DEI nos Estados Unidos e que tecnológicas estão a recuar nesta área?](/assets/img/blank.png)
Donald Trump regressou à Casa Branca no início do ano e, desde logo que chegou, assinou um conjunto de novas ordens executivas, muitas das quais têm como objetivo reverter medidas que foram tomadas pela anterior Administração Biden. Entre as áreas que estão na “mira” de Trump estão os programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI).
De modo geral, os programas e políticas de DEI podem ser definidos como iniciativas concebidas para promover a participação equitativa de pessoas de diferentes grupos em áreas governamentais, empresariais ou na educação, incluindo daqueles que tipicamente são sub-representados.
No entanto, ao longo dos últimos anos, este tipo de programas também tem sido alvo de críticas nos Estados Unidos, em particular, por parte de vozes mais conservadoras.
À medida que Donald Trump se preparava para voltar a assumir a presidência, várias empresas recuaram nos seus programas de DEI. Em Silicon Valley, vários dos grandes nomes que compõem este mundo também estão a alinhar-se com ideais defendidos pela Administração Trump.
Além da Meta, que já tinha posto fim ao seu programa de verificação de factos nos Estados Unidos e ao programas destinados a promover a diversidade dos funcionários, a Amazon também tenciona alterar as suas práticas de DEI. Outras gigantes, como a Apple, estão a enfrentar pressão por parte de grupos conservadores para fazerem mudanças.
Mas o que se passa com a DEI nos Estados Unidos, como é que se tornou num tópico tão polémico e por que motivos é que as tecnológicas estão a recuar nesta área? Ajudamos a compreender o tema neste explicador.
O que defende a Administração Trump?
Entre as múltiplas ordens executivas assinadas por Donald Trump logo após regressar à presidência dos Estados Unidos encontra-se uma concebida para pôr fim a todos os programas do Governo federal que estejam relacionados com diversidade, equidade, inclusão e acessibilidade, revertendo medidas tomadas anteriormente pela Adminstração Biden.
A ordem defende que a administração Biden “forçou programas de discriminação ilegais e imorais, sob o nome ‘Diversidade, Equidade e Inclusão’, em praticamente todos os aspetos do Governo Federal, em áreas que vão da segurança aérea às forças armadas”.
Além do fim das iniciativas de DEI do Governo federal, a ordem prevê revisões em áreas como políticas de contratação e programas de treino, encorajando o setor privado a tomar medidas semelhantes.
DEI: por que motivo se tornou um tópico polémico?
Embora o conceito moderno de DEI se tenha popularizado mais recentemente, nos Estados Unidos, a implementação de programas concebidos para promover a diversidade e inclusão pelo Governo remonta aos anos 60, com a Civil Rights Act (ou Lei dos Direitos Civis) de 1964, que proíbe a discriminação com base na raça, religião, sexo ou origem
Mais recentemente, um dos “booms” da implementação de programas de DEI surgiu em 2020, após o caso da morte de George Floyd, com muitas empresas, incluindo no sector da tecnologia, a reforçarem os esforços nesta área.
Porém, o apoio aos programas de DEI tem vindo a diminuir, tendo enfrentado uma onda de críticas nos últimos anos. Os críticos defendem que os programas que dão prioridade a determinados participantes tendo por base questões como raça, identidade de género e orientação sexual são, em si, uma fonte de discriminação.
Um dos catalisadores do movimento anti-DEI surgiu em 2023, quando o Supremo Tribunal dos Estados Unidos decidiu colocar fim aos programas de “discriminiação positiva” nas universidades, que previam a aplicação de quotas de compensação para minorias. A decisão levou a que vários defensores deste movimento avançassem com processos em tribunal contra entidades que tinham em vigor programas de DEI.
As vozes do movimento também se fizeram ouvir nas redes sociais. Por exemplo, Elon Musk, que é hoje responsável pelo Departamento de Eficiência Governamental da Administração Trump, defendeu na rede social X que a “DEI tem de morrer” (“DEI must DIE”, num trocadilho em inglês).
Elon Musk defendeu que “objetivo era pôr um fim à discriminação, não substituí-la por uma discriminação diferente” e que “‘Diversidade, Equidade e Inclusão’ são palavras de propaganda para racismo, sexismo e outros ‘-ismos’”.
Os processos em tribunal e toda a controvérsia em torno do tema levaram várias empresas a fazer alterações às suas políticas por receio de represálias, noticiou a Reuters. Na tecnologia, o sentimento anti-DEI ganhou tração entre os nomes sonantes em Silicon Valley e também surgiram recuos nos programas anteriormente implementados. Entre as tecnológicas que fizeram cortes nesta área destacam-se, por exemplo, a Meta e a Google, como noticiado pela CNBC.
Como reagiram as tecnológicas?
Em janeiro, um memorando interno da Meta, assinado por Janelle Gale, vice-presidente da área de recursos humanos da tecnológica, anunciava mudanças às práticas de contratação e recrutamento, noticiou a Axios.
“O panorama político e legal em torno da diversidade, equidade e inclusão nos Estados Unidos está a mudar. O Supremo Tribunal dos Estados Unidos tomou recentemente decisões que marcam uma mudança relativamente à forma como os tribunais vão abordar a DEI”, indicava o documento.
As mudanças, confirmadas depois pela empresa, incluem o fim da equipa de DEI da Meta, assim como dos programas de equidade e inclusão anteriormente implementados.
A Amazon é outra das gigantes tecnológicas que recuou nos seus programas de DEI. As mudanças foram anunciadas num memorando no final do ano passado, indicando que a empresa iria avaliar centenas de programas e colocar um fim às iniciativas que considerasse “desatualizadas”, noticiou a Bloomberg.
“Em vez de termos grupos individuais a desenvolverem programas, vamos focar-nos em iniciativas com resultados comprovados e ambicionamos promover uma cultura verdadeiramente inclusiva”, afirmou Candi Castleberry, uma das responsáveis de recursos humanos da Amazon no memorando.
Por outro lado, a Apple está a defender as suas políticas, apelando aos seus investidores que votem contra uma nova proposta, apresentada pelo grupo conservador National Centre for Public Policy Research (NCPPR) para acabar com os programas de DEI, avança o website Fast Company.
Outros executivos do mundo da tecnologia estão também a defender a implementação de programas centrados na diversidade, equidade e inclusão. Em declarações à CNBC durante a conferência anual do Fórum Económico Mundial, em Davos, Bill Ready, CEO da Pinterest, afirmou que a empresa mantém o foco na inclusão e na diversidade na sua plataforma.
Em linha com o responsável, Chuck Robbins, CEO da Cisco, também deixou clara a sua posição no que respeita ao assunto. "Se estou numa sala a tentar resolver um problema complexo, ou a tentar aproveitar uma grande oportunidade, quero ter vários 'cérebros' diversos à minha volta", afirmou, realçando que "no geral, a diversidade é boa para os negócios".
Também em Davos, Marc Benioff, CEO da Salesforce, afirmou em entrevista à Axios que pretende proteger os funcionários de ataques discriminatórios. "O meu trabalho enquanto CEO passa por protegê-los", realçou, acrescentando que, se alguém tomar medidas que os ameaçem ou que sejam discriminatórias, a empresa vai "fazer tudo o que está ao seu alcance para ajudá-los e apoiá-los".
Como avança o website Fortune, a Microsoft, que no passado terá recuado em algumas medidas nesta área, reforça a sua intenção de manter a aposta na diversidade e inclusão. Numa publicação no LinkedIn, Lindsay-Rae McIntyre, responsável pela área de diversidade da Microsoft, realçou que "os esforços em diversidade de inclusão são mais importantes do que nunca".
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