Democratas e republicanos ao longo do tempo foram unindo posições e a visão de que o TikTok, e o grupo chinês por trás da rede social (a Bytedance), são uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos é cada vez mais convergente. Não é completamente unânime, mas é consensual o suficiente para fazer aprovar uma lei que pode de facto dar cobertura ao bloqueio da plataforma no país a médio prazo ou a acelerar mudanças drásticas na estrutura do TikTok.

Dito isto, quando Joe Biden abriu uma conta na rede social chinesa, já em fase de pré-campanha, foi amplamente criticado, por razões óbvias. As críticas vieram de vários quadrantes, sobretudo dos republicanos, que iniciaram as hostilidades contra a plataforma quando Donald Trump ainda era presidente dos Estados Unidos e mantiveram uma posição mais dura em relação ao tema, mesmo depois disso.

O que é que poderia então agora parecer ainda mais estranho do que a existência de uma conta de Joe Biden no TikTok excluindo alguns conteúdos da própria conta, que de “jovem” têm muito pouco? Mais estranho que isso poderia eventualmente ser a criação de uma conta no TikTok por candidatos republicanos, ou mais ainda, pelo próprio Donald Trump.

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Foi isso mesmo que aconteceu no último sábado. O primeiro e único conteúdo publicado até agora é um vídeo onde o CEO do UFC, Dana White, apresenta Trump na rede social. Usa a frase: o presidente está agora no TikTok, ao que “o presidente” responde: “é uma honra”. A reação é curiosa, tendo em conta tudo o que Trump já disse e decidiu sobre a rede social. No resto do vídeo, Trump circula pela multidão num auditório de Newark, onde decorre um evento daquela popular modalidade desportiva.

Um conselheiro político de Donald Trump disse entretanto ao Político que a campanha está a trabalhar em todas as frentes, admitindo que marcar posição nas diferentes plataformas e meios é importante e que esta é só mais uma forma de trabalhar essa meta. “O TikTok está orientado para um público mais jovem”, destacou a mesma fonte, apontando uma conclusão que também ficou bem patente nas últimas eleições em Portugal. Também por cá, o reforço da aposta no Twitter foi um dos grandes destaques das campanhas legislativas no campo digital.

Polémicas à parte, Trump ainda não foi além da primeira publicação no TikTok, mas já voltou a mostrar habilidade para mobilizar o eleitorado nas redes sociais. A conta do ex-presidente já soma 3,4 milhões de seguidores. O primeiro vídeo tem mais de 60 milhões de visualizações.

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Joe Biden estreou-se no TikTok em fevereiro, com a conta Biden-Harris BQ. O vídeo de estreia não foi propriamente um sucesso, como comprovam os 10 milhões de visualizações acumuladas desde então. O número total de seguidores do perfil continua abaixo dos 350 mil, um número que pode vir a levantar a questão: Terá mesmo valido mesmo a pena cair na contradição?

Trump e a sua máquina eleitoral têm dado provas de habilidade para chamar a atenção nas redes sociais. Em eleições anteriores, o magnata chegou a criar a sua própria rede social, para divulgar conteúdo e promover a liberdade de expressão. A plataforma Truth Social continua a existir. No passado, Trump tem também no currículo sérias desavenças com as principais redes sociais norte-americanas que o baniram durante algum tempo, na sequência dos ataques ao Capitólio. Os casos com o Twitter e Facebook foram os mais populares.

As eleições presidenciais norte-americanas são em novembro. Até lá a campanha promete ser quente, sobretudo depois da condenação de Trump há dias por fraude, depois de ter ficado provado que usou verbas de campanha para pagar um silêncio. O candidato vai ter que dar tudo por tudo para apagar o episódio da memória dos americanos nos próximos meses.

Ainda sobre o TikTok, recorde-se que Biden assinou em abril uma decisão que pretende obrigar o TikTok a separar-se da ByteDance, se quiser manter operações nos Estados Unidos. A plataforma já está a contestar a medida na justiça.

Trump tentou fazer o mesmo quando era presidente e avançou ainda com várias outras medidas, entre elas a tentativa de impedir novos utilizadores de descarregarem a aplicação no país. A intenção seria mais tarde travada pelos tribunais. Vale a pena dizer também que vários Estados americanos e organismos federais proibiram a utilização em contexto profissional nos últimos anos.