Entre escândalos e perdas, 2023 trouxe avanços na regulação das criptomoedas e oportunidades na Web3

Despedimentos, ecos do colapso da FTX, Binance na mira da Justiça norte-americana e perdas causadas por ataques e fraudes voltaram a abalar a confiança. Mas nem tudo está perdido.

Physical cryptocurrencies gold coins, Bitcoin · Freepik | frimufilms

2022 marcou a chegada do “criptoinverno”. Um ano depois, em dezembro de 2023, a Bitcoin conseguiu ultrapassar a marca dos 44.000 dólares. O valor está longe dos máximos atingidos em 2021, mas poderá ser um sinal de recuperação para o mundo das criptomoedas após um ano complicado, com escândalos e momentos que abalaram a confiança no ecossistema.

Ainda no início do ano, a onda de despedimentos nas tecnológicas também chegou às empresas do sector cripto. Só nos primeiros dois meses de 2023, mais de 2.000 postos de trabalho foram afetados por cortes em empresas como Coinbase, Crypto.com, Blockchain.com, ou Chainalysis, como noticiado pela Fortune e Bloomberg.

Os ecos do escândalo da FTX continuaram em 2023, com Sam Bankman-Fried a ser declarado culpado no julgamento que avaliou as acusações de fraude e lavagem de dinheiro que recaiam sobre o fundador da plataforma.

A sentença só será conhecida a 28 de março de 2024 e, embora os crimes pelos quais foi condenado perfaçam 110 anos de prisão, não se espera que a decisão final seja a da pena máxima.

Mas Sam Bankman-Fried não foi o único a enfrentar a Justiça. Changpeng Zhao, fundador da rival Binance, declarou-se culpado de acusações de violação das regras contra branqueamento de capitais nos Estados Unidos, no seguimento de uma longa investigação levada a cabo por agências do governo norte-americano.

Como parte de um acordo de mais de 4 mil milhões de dólares com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Changpeng Zhao renunciou ao cargo de CEO da Binance, comprometendo-se também a pagar 50 milhões de dólares, avançou a Reuters.

Em 2023, o ecossistema cripto e DeFi registou perdas de 1,8 mil milhões de dólares devido a fraudes e ataques, segundo dados do mais recente relatório da Immunefi. Novembro foi o mês em que mais perdas se registaram, totalizando mais de 343 milhões de dólares.

O valor representa uma descida de 54% em comparação com 2022, ano em que as perdas ascenderam a 3,9 mil milhões de dólares. No entanto, o número de incidentes registados aumentou, passando de 168 em 2022 para 319 este ano.

De acordo com os especialistas, a maioria das perdas, que rondam 1,6 mil milhões de dólares, resultou de ataques, em particular a plataformas DeFi, com 247 incidentes. Os casos de fraudes totalizaram 110 incidentes, com perdas de 103 milhões de dólares.

Avanços na regulação e novas oportunidades

Mas o ano de 2023 não foi só de escândalos e perdas. Na Europa, por exemplo, houve espaço para avanços legislativos na regulação dos criptoativos. Em abril, o Parlamento Europeu deu “luz verde” ao regulamento MiCA (Markets in Crypto Assets) e, em maio, o processo legislativo ficou completo com a adoção do quadro regulamentar pelo Conselho da União Europeia.

O regulamento foi publicado em junho no Diário Oficial da UE, entrando em vigor 20 dias depois. Embora só comece a ser aplicado a partir do dia 30 de dezembro de 2024, algumas regras serão implementadas mais cedo, em junho desse ano.

Em 2023 surgiram novos projetos de criptomoedas, incluindo da Worldcoin, um dos projetos de Sam Altman da OpenAI, que ainda antes tinha anunciado a integração da portuguesa Talent Protocol, da área da Web3, no World ID, o “passaporte” digital feito para distinguir entre humanos e bots online.

Este ano, várias empresas, entidades e até personalidades continuaram a apostar em NFTs e na criação de experiências Web3: do primeiro cripto-selo dos CTT às soluções da Salesforce, passando pela aposta do BPI nas tecnologias associadas à Web3, sem esquecer a carreira de Quim Barreiros “eternizada” na Blockchain.

Os domínios NFT, suportados na Blockchain, ganharam popularidade, seja para projetos de ativos digitais, ou em outras áreas, e o mais caro, o paradigm.eth, foi vendido por 1,5 milhões de dólares.

O panorama da Web3 em Portugal está a crescer, como mostram dados compilados pela LayerX e Masperblox, e são várias as empresas que o compõem, de áreas tão variadas quanto finanças, saúde, entretenimento e muito mais.

Portugal | Web3 Ecosystem créditos: LayerX / Masperblox

Embora a inteligência artificial tenha ganho a maioria do protagonismo em 2023, o entusiasmo pela Web3 ainda não morreu e o tema continuou a ter algum destaque nas grandes conferências ao longo deste ano, incluindo no Web Summit em Lisboa, com sessões dedicadas a domínios NFT, segurança e até sobre o impacto no gaming.

Este artigo faz parte do Especial de análise das notícias e tendências de 2023 no mundo da tecnologia. Acompanhe ao longo da semana os artigos publicados pela equipa do SAPO TEK e a opinião exclusiva de especialistas do sector.