Ao longo dos últimos 12 meses, o metaverso e a criptoeconomia fizeram correr muita tinta, tanto por bons como maus motivos. À medida que o interesse pela Web3 cresceu, ambas as temáticas foram ganhando cada vez mais espaço nas grandes conferências tecnológicas realizadas durante o ano e o Web Summit não foi uma exceção à regra, assim como o Mobile World Congress.
Em 2021, o interesse pela fusão entre mundos virtuais e físicos explodiu, sobretudo após o rebranding do Facebook para Meta. Este ano, todos os caminhos parecem ter ido dar ao metaverso.
Do YouTube à Epic Games, que se juntou à Lego para conceber um metaverso para os mais novos, passando pela Lenovo, Siemens, Walmart, grupos de consultoria como o Havas Group ou o Boston Consulting Group, clubes de futebol como o Manchester City, marcas como a Heineken e até o Fórum Económico Mundial: foram várias as empresas e organizações que decidiram apostar na tendência e nem Tuvalu ficou indiferente.
Portugal não ficou à margem do fenómeno, com empresas como a Teleperformance, marcas como a MEO ou bancos como o BPI a darem o primeiro passo rumo ao metaverso. Já o projeto MADALIA decidiu criar uma gémea digital da ilha da Madeira no Metaverso, numa experiência que ambiciona ser um “mundo virtual com o qual as pessoas possam ter uma ligação emocional”.
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Os gadgets para aceder aos mundos virtuais não ficaram esquecidos, entre opções mais empresariais, como o ThinkReality RVX da Lenovo, propostas mais “lúdicas” como o Mocopi da Sony, e até smartphones, como o Vertu Phone.
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A empresa que popularizou a recente moda do metaverso também lançou um novo headset este ano: o Meta Quest Pro. De acordo com a Meta, o headset foi feito para a criatividade e colaboração, prometendo trazer mais vida ao metaverso nas palavras de Mark Zuckerberg.
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No entanto, o ano não foi propriamente otimista para a Meta, e, para lá outras polémicas, muitos duvidam se a gigante tecnológica vai conseguir manter a aposta no metaverso durante muito mais tempo.
Logo no início do ano, os resultados financeiros ficaram aquém das expectativas, com a empresa a perder mais de 10 mil milhões de dólares numa das áreas mais importantes para o desenvolvimento do seu metaverso, o Reality Labs.
Pelo caminho, a tecnológica acabou despedir 11.000 trabalhadores, optando por desistir de alguns projetos paralelos e, ao que tudo indica, o número de utilizadores mensais ativos do Horizon Worlds também parece ter ficado muito aquém das expectativas. Recentemente, a Meta comprometeu-se a manter o investimento no metaverso em 2023. Teremos mesmo de esperar até ao próximo ano para ver se o investimento vai realmente compensar.
A chegada do "criptoinverno"
Se o panorama foi um pouco mais optimista no caso do metaverso, o mesmo não podemos dizer do mundo da criptoeconomia. Note-se, no entanto, que apesar do Inverno que se faz sentir, foram dados passos importantes ao longo deste ano, como a fusão da Ethereum, numa atualização que alterou a raiz de funcionamento do ecossistema da segunda criptomoeda mais relevante.
Foram também dados novos passos a nível da regulação de criptoativos. Na Europa, por exemplo, o Conselho da União Europeia chegou a um novo acordo, em outubro, sobre a diretiva MiCA (Markets in Crypto Assets Regulation), que estabelece um quadro regulamentar para criptoativos, quem os emite e para os prestadores de serviços nesta área.
A diretiva ainda precisa de ser formalmente aprovada pelo Parlamento Europeu e espera-se que seja publicada no Jornal Oficial da União Europeia no início do próximo ano antes de entrar em vigor em 2024.
Da República Centro-Africana à Índia, ao longo dos últimos 12 meses alguns países começaram a fazer testes de lançamento de criptomoedas e, nas Honduras, o “criptoturismo” começou a ser promovido. Já em El Salvador, o primeiro país do mundo a adotar a Bitcoin como uma das moedas oficiais, mas os planos do governo ficaram muito aquém das expectativas, dado à queda do valor da criptomoeda, mas também, em parte, pela falta de adesão pela população.
A utilização de criptomoedas em cibercrimes continua a manchar a confiança nesta tecnologia. Estima-se que, só nos primeiros meses de 2022, o roubo de criptoativos tenha disparado para mais de mil milhões de dólares, com incidentes como o ataque à Ronin, a blockchain que suporta o jogo Axie Infinity ou à plataforma Wormhole e à Crypto.com.
Como destacou Michael Gronager, cofundador e CEO da Chainalysis, durante o Web Summit 2022, o “grande problema” que marca este panorama está nos hackers apoiados por Estados-Nação, sobretudo da Coreia do Norte, uma vez que os fundos roubados pelos hackers apoiados pelo país são utilizados para financiar a produção de armas nucleares e de mísseis. O Larazus Group, por exemplo, roubou mais de 500 milhões de dólares em criptomoedas só este ano.
Fora da Coreia do Norte, este ano, com a guerra na Ucrânia, cresceram as preocupações em relação à Rússia, com o Banco Central Europeu a alertar para as criptomoedas como "ameaça" no contexto russo, um sentimento espelhado por um recente relatório da Microsoft.
Depois do primeiro abalo do escândalo com a criptomoeda Luna, o mundo da criptoeconomia voltou a tremer com o colapso da FTX, cuja “onda de choque” se fez ouvir um pouco por todo o mundo, com milhares de investidores sem conseguirem recuperar fundos.
Em Portugal, a Offchain Lisbon, o capítulo português da comunidade mundial dedicada a entusiastas da tecnologia de Blockchain e do mundo das criptomoedas, decidiu tomar medidas para avançar com uma ação coletiva contra a corretora.
No final de dezembro, depois de Sam Bankman-Fried, co-fundador e ex-CEO da corretora de criptomoedas, ter sido detido por suspeitas de fraude e lavagem de dinheiro, dois dos seus sócios declararam-se culpados de fraude bancária, entre outros crimes.
A saga começada pelo colapso da FTX parece estar longe de terminar e poderá fazer mais vítimas pelo caminho. Com ano a terminar resta a pergunta: veremos uma “cripto-primavera” em 2023, ou vamos precisar de mais agasalhos?
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