Os últimos minutos da chegada à Terra de uma missão espacial são sempre os mais dramáticos. Muita coisa pode correr mal na reentrada na atmosfera, com a aceleração e o aquecimento da nave que atinge os 1.200 graus Celsius, a abertura dos dois grupos de para quedas e o mergulho no mar. E durante os minutos em que se perde a comunicação todos sustêm a respiração na sala de controle da missão.
Todos os minutos estão a ser acompanhados em direto, desde que ainda ontem os astronautas Bob Behnken e Doug Hurley entraram na Crew Dragon que estava ligada à Estação Espacial e que se desligou já esta madrugada, afastando-se da "casa" onde tinha estado nos últimos 63 dias. Cerca de 19 horas depois chegou à Terra e a nave vai agora ser "pescada" para ser reutilizada e para retirar os astronautas.
Toda a missão foi transmitida através do Twitter da SpaceX. Apesar de já ter terminado a transmissão ao vivo pode agora recuperar aqui as mais de 23 horas de imagens e comentários
Demonstração feita com uma precisão milimétrica
Esta primeira missão faz história por ser a primeira vez que uma nave comercial transporta astronautas da NASA para a Estação Espacial, a partir de solo americano. Mas ainda é uma demonstração, por isso se chama Demo-2 e levou a bordo apenas dois astronautas, para uma missão de tempo limitado no espaço.
Tudo correu de forma quase perfeita durante o regresso. As horas definidas foram cumpridas de forma milimétrica, todas as premissas se realizaram e por isso a missão da Crew Dragon já foi apelidada de bem sucedida, com direito a uma ovação de pé da equipa de missão quando finalmente os astronautas saíram da nave, e até a algumas fungadelas da cientista que estava a fazer os comentários em direto.
A nave mergulhou no Golfo do México às 19h48 minutos, como previsto, foi rapidamente acompanhada por uma lancha rápida e "pescada" para o navio de recuperação.
Os nervos estiveram ainda à flor da pele por terem sido detetados vapores de nitrogénio antes de abrir a escotilha, o que podia significar que havia fuga de combustível. Várias verificações depois, e com o desaparecimento dos gases, foi finalmente a hora de abrir a porta da nave e retirar os dois astronautas que estavam pacientemente à espera do momento de voltar a respirar ar da Terra depois de 2 meses no espaço.
Bob Behnken foi o primeiro a sair e só depois Doug Hurley, mas em ambos os casos houve sorrisos e polegares levantados. Os astronautas foram ajudados pela equipa da SpaceX para evitar acidentes com a adaptação à gravidade da Terra depois de dois meses em microgravidade, por isso foram transportados para a tenda médica em cadeiras de rodas.
Agora que a demonstração está completa respira-se de alivio e prepara-se já a missão Crew-1 que deverá partir em setembro com 4 astronautas a bordo.
Quase 24 horas a acompanhar a fase final da missão
Parece fácil mas toda a missão Demo-2 da Crew Dragon é preparada ao milímetro, e acompanhada por equipas de especialistas em Terra que desde que a nave se desligou da Estação Espacial Internacional, às 00h34 minutos de Portugal Continental, continuam colados aos ecrãs a vigiar os vários processos que permitem trazer os astronautas, e a nave, em segurança para casa.
Foram 63 dias a bordo da Estação Espacial Internacional depois de uma missão histórica que estreou a possibilidade de uma nave comercial, reutilizável, transportar astronautas da NASA para o espaço e recuperou os lançamentos a partir do Kennedy Space Center, o que já não acontecia desde a desativação do Space Shuttle.
Na altura não se sabia quando terminaria a missão e a Crew Dragon ficou ligada à Estação Espacial Internacional à espera de ordem para regressar à Terra. Mas os astronautas mantiveram-se ocupados com várias experiências e até trataram das canalizações.
A data foi entretanto definida para 1 de agosto, e ontem a transmissão da missão começou cerca das 22h15 de Portugal Continental (5h15 p.m. EDT), com a Crew Dragon a desligar-se da Estação Espacial Internacional duas horas depois, às 00h34 em Portugal Continental.
O SAPO TEK esteve a acompanhar mais este passo da missão histórica desde ontem, depois de ter também seguido a preparação da missão e a partida no final de Maio.
Um regresso a 27,5 mil km por hora
Depois de se se desligar da Estação Espacial Internacional, onde estava acoplada ao módulo Harmony, a Dragon Endeavor fez várias ignições para se colocar a caminho da Terra na órbita definida, alinhando-se com o percurso para chegar à zona de aterragem.
Esta é uma das partes mais arriscadas da missão. Antes da reentrada na atmosfera a Dragon Endeavour atinge uma velocidade de 27.500 quilômetros por hora. A temperatura máxima experimentada na reentrada é de aproximadamente 1.900 graus Celsius, mas dentro da nave o ambiente é controlado. Pelo caminho fica um dos módulos da Crew Dragon que auxilia a ignição, que é abandonado quando entra na atmosfera e se incinera neste processo.
Neste período não há comunicações com a Terra, um período de silêncio que dura aproximadamente seis minutos.
Depois da reentrada foram abertos dois conjuntos de paraquedas que servem para desacelerar antes do mergulho no oceano atlântico. Dois paraquedas iniciais abrem a cerca de 5.400 metros de altitude, e quatro outros estão reservados para abrandar a velocidades a cerca de 1.800 metros de altitude.
Inicialmente estavam definidos cerca de sete locais potenciais para a aterragem, mas agora há uma zona mais provável, onde a equipa da SpaceX vai estar para recuperar a cápsula. Dois navios de recuperação, o Go Searcher e o Go Navigator, dividiram-se entre o Golfo do México e o Oceano Atlântico, na costa da Flórida, com mais de 40 especialistas da SpaceX e da NASA a bordo para ajudar na recuperação.
Logo depois da cápsula cair no mar duas embarcações rápidas com o pessoal da SpaceX saíram do navio de recuperação principal. O primeiro barco verifica a integridade da cápsula e testa a área ao redor do Crew Dragon quanto à presença de vapores de propulsores hipergólicos. O segundo barco rápido é responsável por proteger e recuperar os paraquedas do Crew Dragon, que neste momento se separaram da cápsula e estão na água.
Depois a embarcação principal de recuperação pode começar a içar a cápsula do Crew Dragon para o convés principal. Quando estava em posição estável a escotilha podia ser aberta para que os profissionais médicos façam as verificações iniciais e ajudem Behnken e Hurley a sair do Dragon Endeavor.
Esperava-se que todo esse processo levasse aproximadamente 45 a 60 minutos, mas acabou por ser mais longo devido à deteção de vapores de nitrogénio que atrasaram a abertura da escotilha.
Agora os dois astronautas vão ser sujeitos a uma avaliação médica e transportados de helicóptero para Cabo Canaveral onde vão embarcar no avião que os transporta para o centro da NASA em Houston.
Uma missão histórica para a NASA e a SpaceX
O tempo de viagem é quase o mesmo que a equipa da Crew Dragon demorou desde o Cabo Canaveral até à Estação Espacial Internacional a 30 de maio. Na altura a duração da missão não foi determinada, indicando-se que poderia durar dois meses ou estender-se durante 110 a 210 dias, seguindo os requisitos da NASA.
Bob Behnken e Doug Hurley são os dois astronautas que protagonizaram esta missão onde experimentaram também o novo veículo desenvolvido pela SpaceX para a NASA, a Crew Dragon, que rebatizaram entretanto como Dragon Endeavour.
Ambos são astronautas experimentados, com várias missões bem sucedidas no currículo, mas os próximos tripulantes da nave desenvolvida pela empresa de Elon Musk já estão escolhidos. A próxima missão, a Crew-1, parte em setembro e leva a bordo quatro astronautas. O comandante é o Michael Hopkins e o piloto Victor Glover, seguindo também a bordo a astronauta Shannon Walker da NASA, e Soichi Noguchi da Japan Aerospace Exploration Agency (JAXA). A missão volta a partir docomplexo 39A no Kennedy Space Center, na Florida. A equipa deverá permanecer na Estação Espacial durante seis meses.
Entretanto a NASA não perde tempo e já revelou a próxima missão da Crew Dragon, a Crew-2, que deverá ter início na primavera de 2021 e que vai ter duas mulheres ao comando, com as astronautas da NASA Shane Kimbrough e Megan McArthur como comandante e piloto. Megan McArthur é mulher de Bob Behnken, que agora regressa à Terra.
A bordo vão também dois especialistas de missão de agências espaciais parceiras, a JAXA do Japão, representada por Akihiko Hoshide e a europeia ESA (European Space Agency) com o astronauta Thomas Pesquet que também já passou algumas temporadas na Estação Espacial Internacional.
Da Flórida à Estação Espacial Internacional para uma missão histórica
No dia 30 de maio, Bob Behnken e Doug Hurley partiram às 20h22 (de Portugal continental) do Kennedy Space Center, do mítico complexo 39A, na Flórida, a bordo do Falcon 9. Cerca de 12 minutos depois a cápsula separou-se do foguetão, que acabaria por aterrar depois suavemente na plataforma que Elon Musk batizou como a Of Course I Still Love You.
A Crew Dragon seguiu para órbita, numa rota definida para ir ao encontro da Estação Espacial Internacional, um percurso de 19 horas. Pelo meio houve tempo para experimentar pela primeira vez o comando da cápsula no espaço, para dormir e até para fazer vários diretos para a transmissão online, onde foi também protagonista um dinossauro de brincar que Bob Behnken trouxe de casa para alegria dos seus filhos.
No dia 31 às 15h16 de Portugal Continental foi completada a acoplagem da Crew Dragon, quando a Estação Espacial sobrevoa a Mongólia, e cerca de 15 minutos antes da hora prevista. A cápsula passou a estar ligada à Estação Espacial Internacional, depois de uma manobra de acoplagem bem sucedida. Mas ainda faltavam precisos os últimos procedimentos para poderem entrar na Estação, o que só devia acontecer pelas 17h45, hora prevista para a abertura da escotilha de ligação.
A última escotilha foi aberta às 18h02 de Portugal Continental, e poucos minutos depois os astronautas eram recebidos pelos companheiros da expedição 63 com abraços e pouco do distanciamento social a que todos estamos sujeitos devido à COVID-19.
A NASA acompanhou toda a missão com uma transmissão online, onde contou com vários especialistas e cientistas que explicam todo o processo.
Um tweet da NASA recupera o momento da acomplagem à Estação Espacial Internacional.
Durante as últimas horas foi possível observar a Terra, e a Estação Espacial Internacional, a partir da janela da Crew Dragon, e os dois astronautas também fizeram várias intervenções.
Uma missão que marca uma nova fase da NASA
Mais de 10 milhões de pessoas seguiram a transmissão online, e depois do lançamento e das primeiras fases completas, houve ainda tempo para uma conferência de imprensa onde Donald Trump destacou a importância desta missão e do lançamento de astronautas norte americanos de solo americano. Desde o fim do Space Shuttle os astronautas partiam para a Estação Espacial Internacional a bordo dos foguetões russos.
Esta missão é o último passo para a empresa de Elon Musk receber a certificação de transporte de pessoas para o espaço, com a Space X a planear fazer viagens espaciais turísticas de 10 dias em 2021, e a recuperação da capacidade de lançamento de astronautas a partir de território americano, do mesmo local de onde partiram as missões para a Lua.
Qual a importância da missão Demo-2?
Foi em 2015 que a Space X mostrou pela primeira vez o interior da Crew Dragon, a cápsula que quer levar, pela primeira vez desde 2011 a partir de solo americano, astronautas da NASA para o espaço. O voo de teste tripulado da Crew Dragon será o primeiro a partir do solo dos Estados Unidos desde 8 de julho de 2011, coincidindo com a última missão do Programa Space Shuttle. Desde então, a NASA tem colocado os seus astronautas na Estação Espacial Internacional à “boleia” da nave russa Soyuz.
Este é também o primeiro voo tripulado da empresa de Elon Musk e a primeira vez que uma nave espacial privada irá levar astronautas para o espaço. A data inicial de lançamento estava prevista para 7 de maio, mas foi adiada para dia 27, mas não conseguiu ser concretizada devido ao mau tempo.
Veja as principais fases deste projeto que começou há seis anos
2015: SpaceX mostra pela primeira vez o interior da cápsula que vai levar astronautas ao espaço
Em setembro de 2015 a SpaceX partilhou com o mundo imagens e um vídeo do interior da Crew Dragon, a cápsula que vai levar humanos para o espaço dentro de dois anos. Pelas imagens é possível perceber que os interiores estão reduzidos ao necessário, havendo uma predominância da cor branca que traduz uma sensação de mais espaço. Mas nem por isso deixa de haver um toque luxuoso: os assentos são construídos em fibra de carbono e revestido a Alcantara, uma tipologia de pele sintética.
A cápsula espacial tem ainda quatro janelas para que os tripulantes possam observar a Terra, a Lua e o restante Sistema Solar à medida que vão percorrendo o trajeto da viagem.
2016: SpaceX testa sistema de paraquedas que vai trazer astronautas de volta à Terra
O sistema de aterragem da Crew Dragon integra quatro paraquedas, que foram experimentados no teste documentado em vídeo, que faz parte do processo de certificação que os dois parceiros comerciais da NASA têm de cumprir para todo o tipo de processos que se proponham realizar.
2019: Crew Dragon: A cápsula da SpaceX para transportar humanos para o espaço está pronta
A cápsula da SpaceX passou a encontrar-se no topo de um foguetão Falcon 9, nos últimos preparativos para o seu primeiro teste.
2019: SpaceX põe motores a funcionar antes do voo de demonstração da Crew Dragon
Numa mensagem curta na sua conta no Twitter e a acompanhada por um vídeo de teste estático dos motores do foguetão Falcon 9, com a cápsula Crew Dragon acoplada, a SpaceX afinava as preparações finais para o derradeiro teste em fevereiro de 2019. “Teste de disparo estático completo – estamos a apontar para fevereiro para o lançamento histórico no complexo 39A (Centro Espacial Kennedy) a demonstração do voo da Crew Dragon”, lê-se na mensagem.
2019: Vaivém espacial da SpaceX descola sem percalços
O vaivém espacial da SpaceX descolou a 2 de março em direção à Estação Espacial Internacional. O aparelho, que seguiu sem tripulação a bordo, partiu do Kennedy Space Centre, na Florida, às 7h49, e foi impulsionado pelo foguetão Falcon 9.
2019: SpaceX confirma que cápsula da Crew Dragon foi destruída durante um teste
A SpaceX confirmou em conferência de imprensa, que uma das cápsulas da Crew Dragon, destinada a voos espaciais tripulados, foi destruída durante um teste na Florida. A perda do veículo representou um significativo revés para a SpaceX. O Crew Dragon destruído no teste era o mesmo veículo que tinha atracado com sucesso na Estação Espacial Internacional em março. A cápsula, sem tripulação a bordo, esteve cinco dias em missão na ISS antes de regressar e aterrar com sucesso no Oceano Atlântico.
2020: SpaceX planeia viagens espaciais turísticas de 10 dias para o próximo ano
Depois de ter realizado uma parceria com a Space Adventures para colocar turistas no espaço, a SpaceX continua a formar novas ligações com empresas do sector para alargar a sua oferta de viagens. Desta vez junta-se à Axiom, a empresa espacial localizada em Houston para enviar turistas ao espaço, mais concretamente a Estação Espacial Internacional.
Nota da Redação: A notícia foi atualizada com mais informação e fotografias. Última atualização 22h07
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