Parece fácil mas toda a missão da Crew Dragon é preparada ao milímetro, e acompanhada por equipas de especialistas em Terra que desde que a nave se desligou da Estação Espacial Internacional, às 00h34 minutos de Portugal Continental, continuam colados aos ecrãs a vigiar os vários processos que permitem trazer os astronautas, e a nave, em segurança para casa.

Foram 63 dias a bordo da Estação Espacial Internacional depois de uma missão histórica que estreou a possibilidade de uma nave comercial, reutilizável, transportar astronautas da NASA para o espaço e recuperou os lançamentos a partir do Kennedy Space Center, o que já não acontecia desde a desativação do Space Shuttle.

Na altura não se sabia quando terminaria a missão e a  Crew Dragon ficou ligada à Estação Espacial Internacional à espera de ordem para regressar à Terra. A data foi entretanto definida para 1 de agosto, e ontem a transmissão da missão começou cerca das 22h15 de Portugal Continental (5h15 p.m. EDT), com a Crew Dragon a desligar-se da Estação Espacial Internacional duas horas depois, às  00h34 em Portugal Continental.

O SAPO TEK está a acompanhar mais este passo da missão histórica que tem chegada prevista da equipa à Terra hoje, 2 de agosto, pelas 19h41, altura em que a Crew Dragon deverá aterrar no Golfo do México, perto da cidade de Pensacola. A NASA está a monitorizar a evolução do furacão Isaias que pode ter impacto no regresso à Terra, em especial na aterragem, obrigando a um desvio do local onde a Crew Dragon vai mergulhar no oceano atlântico.

Um regresso a 27,5 mil km por hora

Depois de se se desligar da Estação Espacial Internacional, onde está acoplada ao módulo Harmony, a Dragon Endeavor fez várias ignições para se colocar a caminho da Terra na órbita definida, alinhando-se com o percurso para chegar à zona de aterragem.

Missão comercial - Crew Dragon
Missão comercial - Crew Dragon Sala de caompanhamento da missão e o mapa da rota de regresso à Terra

Esta é uma das partes mais arriscadas da missão. Antes da reentrada na atmosfera a Dragon Endeavour vai atingir uma velocidade de 27.500 quilômetros por hora. A temperatura máxima experimentada na reentrada é de aproximadamente 1.900 graus celsius. Pelo caminho ficará um dos módulos da Crew Dragon que auxilia a ignição, que vai se abandonado quando entrar na atmosfera e vai incinerar-se neste processo.

Neste período não haverá comunicações com a Terra, um período de silêncio que deve durar aproximadamente seis minutos.

Depois da reentrada são abertos dois conjuntos de paraquedas que servem para desacelerar antes do mergulho no oceano atlântico. Dois paraquedas iniciais abrem a cerca de 5.400 metros de altitude, quando se desloca a cerca de 563 quilómetros por hora. Quatro paraquedas principais abrem a 1.800 metros de altitude, enquanto o Crew Dragon se desloca a cerca de 190 quilómetros por hora.

Inicialmente estavam definidos cerca de sete locais potenciais para a aterragem, mas agora há uma zona mais provável, onde a equipa da SpaceX vai estar para recuperar a cápsula. Dois navios de recuperação, o Go Searcher e o Go Navigator, dividem-se entre o Golfo do México e o Oceano Atlântico, na costa da Flórida, com mais de 40 especialistas da SpaceX e da NASA a bordo para ajudar na recuperação.

Crew Dragon
Crew Dragon Esquema da missão de regresso à Terra

Logo depois da cápsula cair no mar duas embarcações rápidas com o pessoal da SpaceX saem do navio de recuperação principal. O primeiro barco verifica a integridade da cápsula e testa a área ao redor do Crew Dragon quanto à presença de vapores de propulsores hipergólicos. O segundo barco rápido é responsável por proteger e recuperar os paraquedas do Crew Dragon, que neste momento se separaram da cápsula e estão na água.

Depois a embarcação principal de recuperação pode começar a içar a cápsula do Crew Dragon para o convés principal. Quando estiver num local estável a escotilha é aberta para que os profissionais médicos façam as verificações iniciais e ajudem Behnken e Hurley a sair do Dragon Endeavor.

Espera-se que todo esse processo leve aproximadamente 45 a 60 minutos, dependendo das condições e do estado do mar.

A seguir os dois astronautas vão ser sujeitos a uma avaliação médica e transportados de barco ou helicóptero Cabo Canaveral, sendo que o meio de transporte e o tempo que demoram depende da distância da aterragem, que pode ser de 22 a 175 milhas náuticas.

Só depois os astronautas vão embarcar no avião que os transporta para o centro da NASA em Houston.

Uma missão histórica para a NASA e a SpaceX

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O tempo de viagem é quase o mesmo que a equipa da Crew Dragon demorou desde o Cabo Canaveral até à Estação Espacial Internacional. Na altura a duração da missão não foi determinada, indicando-se que poderia durar dois meses ou estender-se durante 110 a 210 dias, seguindo os requisitos da NASA.

Bob Behnken e Doug Hurley são os dois astronautas que protagonizaram esta missão onde experimentaram também o novo veículo desenvolvido pela SpaceX para a NASA, a Crew Dragon, que rebatizaram entretanto como Dragon Endeavour.

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Ambos são astronautas experimentados, com várias missões bem sucedidas no currículo, mas os próximos tripulantes da nave desenvolvida pela empresa de Elon Musk já estão escolhidos. A próxima missão parte em setembro e leva a bordo quatro astronautas. O comandante é o Michael Hopkins e o piloto Victor Glover, seguindo também a bordo a astronauta Shannon Walker da NASA, e  Soichi Noguchi  da Japan Aerospace Exploration Agency (JAXA). A missão volta a partir docomplexo 39A no Kennedy Space Center, na Florida. A equipa deverá permanecer na Estação Espacial durante seis meses.

Entretanto a NASA não perde tempo e já revelou a próxima misão da Crew Dragon que deverá ter início na primavera de 2021 e que vai ter duas mulheres ao comando, com as astronautas da NASA Shane Kimbrough e Megan McArthur como comandante e piloto. Megan McArthur é mulher de Bob Behnken, que agora regressa à Terra.

A bordo vão também dois especialistas de missão de agências espaciais parceiras, a JAXA do Japão, representada por Akihiko Hoshide e a europeia ESA (European Space Agency) com o astronauta Thomas Pesquet que também já passou algumas temporadas na Estação Espacial Internacional.

Astronautas da missão Crew 2
Astronautas da missão Crew 2

Da Flórida à Estação Espacial Internacional para uma missão histórica

No dia 30 de maio,  partiram às 20h22 (de Portugal continental) do Kennedy Space Center, do mítico complexo 39A, na Flórida,  a bordo do Falcon 9. Cerca de 12 minutos depois a cápsula separou-se do foguetão, que acabaria por aterrar depois suavemente na plataforma que Elon Musk batizou como a Of Course I Still Love You.

A Crew Dragon seguiu para órbita, numa rota definida para ir ao encontro da Estação Espacial Internacional, um percurso de 19 horas. Pelo meio houve tempo para experimentar pela primeira vez o comando da cápsula no espaço, para dormir e até para fazer vários diretos para a transmissão online, onde foi também protagonista um dinossauro de brincar que Bob Behnken trouxe de casa para alegria dos seus filhos.

No dia 31 às 15h16 de Portugal Continental foi completada a acoplagem da Crew Dragon, quando a Estação Espacial sobrevoa a Mongólia, e cerca de 15 minutos antes da hora prevista. A cápsula passoura estar ligada à Estação Espacial Internacional, depois de uma manobra de acoplagem bem sucedida. Mas ainda faltavam precisos os últimos procedimentos para poderem entrar na Estação, o que só devia acontecer pelas 17h45, hora prevista para a abertura da escotilha de ligação.

A última escotilha foi aberta às 18h02 de Portugal Continental, e poucos minutos depois os astronautas eram recebidos pelos companheiros da expedição 63 com abraços e pouco do distanciamento social a que todos estamos sujeitos devido à COVID-19.

A NASA acompanhou toda a missão com uma transmissão online, onde contou com vários especialistas e cientistas que explicam todo o processo.

Um tweet da NASA recupera o momento da acomplagem à Estação Espacial Internacional.

Durante as últimas horas foi possível observar a Terra, e a Estação Espacial Internacional, a partir da janela da Crew Dragon, e os dois astronautas também fizeram várias intervenções.

Uma missão que marcauma nova fase da NASA

Mais de 10 milhões de pessoas seguiram a transmissão online, e depois do lançamento e das primeiras fases completas, houve ainda tempo para uma conferência de imprensa onde Donald Trump destacou a importância desta missão e do lançamento de astronautas norte americanos de solo americano. Desde o fim do Space Shuttle os astronautas partiam para a Estação Espacial Internacional a bordo dos foguetões russos.

Esta missão é o último passo para a empresa de Elon Musk receber a certificação de transporte de pessoas para o espaço, com a Space X a planear fazer viagens espaciais turísticas de 10 dias em 2021, e a recuperação da capacidade de lançamento de astronautas a partir de território americano, do mesmo local de onde partiram as missões para a Lua.

Qual a importância da missão Demo-2?

Foi em 2015 que a Space X mostrou pela primeira vez o interior da Crew Dragon, a cápsula que quer levar, pela primeira vez desde 2011 a partir de solo americano, astronautas da NASA para o espaço. O voo de teste tripulado da Crew Dragon será o primeiro a partir do solo dos Estados Unidos desde 8 de julho de 2011, coincidindo com a última missão do Programa Space Shuttle. Desde então, a NASA tem colocado os seus astronautas na Estação Espacial Internacional à “boleia” da nave russa Soyuz.

Este é também o primeiro voo tripulado da empresa de Elon Musk e a primeira vez que uma nave espacial privada irá levar astronautas para o espaço. A data inicial de lançamento estava prevista para 7 de maio, mas foi adiada para dia 27, mas não conseguiu ser concretizada devido ao mau tempo.

Veja as principais fases deste projeto que começou há seis anos

2015: SpaceX mostra pela primeira vez o interior da cápsula que vai levar astronautas ao espaço

Em setembro de 2015 a SpaceX partilhou com o mundo imagens e um vídeo do interior da Crew Dragon, a cápsula que vai levar humanos para o espaço dentro de dois anos. Pelas imagens é possível perceber que os interiores estão reduzidos ao necessário, havendo uma predominância da cor branca que traduz uma sensação de mais espaço. Mas nem por isso deixa de haver um toque luxuoso: os assentos são construídos em fibra de carbono e revestido a Alcantara, uma tipologia de pele sintética.

A cápsula espacial tem ainda quatro janelas para que os tripulantes possam observar a Terra, a Lua e o restante Sistema Solar à medida que vão percorrendo o trajeto da viagem.

2016: SpaceX testa sistema de paraquedas que vai trazer astronautas de volta à Terra

O sistema de aterragem da Crew Dragon integra quatro paraquedas, que foram experimentados no teste documentado em vídeo, que faz parte do processo de certificação que os dois parceiros comerciais da NASA têm de cumprir para todo o tipo de processos que se proponham realizar.

2019: Crew Dragon: A cápsula da SpaceX para transportar humanos para o espaço está pronta

A cápsula da SpaceX passou a encontrar-se no topo de um foguetão Falcon 9, nos últimos preparativos para o seu primeiro teste.

2019: SpaceX põe motores a funcionar antes do voo de demonstração da Crew Dragon

Numa mensagem curta na sua conta no Twitter e a acompanhada por um vídeo de teste estático dos motores do foguetão Falcon 9, com a cápsula Crew Dragon acoplada, a SpaceX afinava as preparações finais para o derradeiro teste em fevereiro de 2019. “Teste de disparo estático completo – estamos a apontar para fevereiro para o lançamento histórico no complexo 39A (Centro Espacial Kennedy) a demonstração do voo da Crew Dragon”, lê-se na mensagem.

2019: Vaivém espacial da SpaceX descola sem percalços

vaivém espacial da SpaceX descolou a 2 de março em direção à Estação Espacial Internacional. O aparelho, que seguiu sem tripulação a bordo, partiu do Kennedy Space Centre, na Florida, às 7h49, e foi impulsionado pelo foguetão Falcon 9.

2019: SpaceX confirma que cápsula da Crew Dragon foi destruída durante um teste

A SpaceX confirmou em conferência de imprensa, que uma das cápsulas da Crew Dragon, destinada a voos espaciais tripulados, foi destruída durante um teste na Florida. A perda do veículo representou um significativo revés para a SpaceX. O Crew Dragon destruído no teste era o mesmo veículo que tinha atracado com sucesso na Estação Espacial Internacional em março. A cápsula, sem tripulação a bordo, esteve cinco dias em missão na ISS antes de regressar e aterrar com sucesso no Oceano Atlântico.

2020: SpaceX planeia viagens espaciais turísticas de 10 dias para o próximo ano

Depois de ter realizado uma parceria com a Space Adventures para colocar turistas no espaço, a SpaceX continua a formar novas ligações com empresas do sector para alargar a sua oferta de viagens. Desta vez junta-se à Axiom, a empresa espacial localizada em Houston para enviar turistas ao espaço, mais concretamente a Estação Espacial Internacional.