A Anacom acaba de divulgar o primeiro balanço do desenvolvimento das redes 5G em Portugal, mais de seis meses depois da atribuição das primeiras licenças e de um leilão complicado, que se arrastou por longos meses e que garantiu um encaixe para o Estado de 566 milhões de euros, 410 milhões dos quais foram encaixados logo em 2021. A entidade reguladora estima-se que, até ao final de maio, o tráfego cursado em redes 5G represente cerca de 5,3% do total de tráfego de dados móveis, sendo a velocidade máxima medida de 871 Mbps e aponta para a instalação de estações base sobretudo nos meios urbanos.
No relatório a entidade reguladora do mercado das comunicações revela que "o número de estações de base já instaladas no território nacional com tecnologia 5G, o número total, de acordo com a informação reportada à ANACOM até ao final do 1º semestre de 2022, ascende a 2.918 estações espalhadas por 198 concelhos (64% dos concelhos no país) e 859 freguesias (28% das freguesias no país)".
As três operadoras que já iniciaram serviços, a MEO, NOS e Vodafone, têm vindo a divulgar que já cobrem as principais cidades dos 18 distritos portugueses mas os números de estações base instaladas com 5G, necessárias para fazer a cobertura da rede, ainda não tinham sido revelados. Inicialmente as operadoras definiram um período experimental para o 5G de um mês, que prolongaram até final de março e depois estenderam até 15 de setembro. Nesta fase os clientes não pagam nenhum valor adicional para usar a rede.
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5,3% do tráfego móvel já é 5G. Velocidade média chega aos 306 Mbps
Os testes realizados às rede móveis, feitos com a app NET.mede revelam que o valor médio de download está nos 306 Mbps, superior aos testes de 4G que se fixavam nos 244 Mbps e à banda larga fixa que é apontado em 68 Mbps. Já no upload o valor médio em 5G está nos 44 Mbps, quase o dobro do registado em 4G mas abaixo da média na banda larga fixa, onde foi registado o valor de 61 Mbps.
Há também ganhos de latência, com registo de 26 ms, menos 9 ms do que o apurado nos testes de 4G mas também acima do que foi observado na banda larga móvel. Ainda assim, todos estes valores estão abaixo do potencial do 5G stand alone.
A Anacom sublinha ainda que os melhores resultados em termos de velocidade de download (valor médio dos testes) foram observados no concelho de Estarreja, com 871 Mbps; seguindo-se o concelho da Moita, com 715 Mbps; e Vizela, com 690 Mbps. Estarreja fica também à frente no upload, com 127 Mbps, seguindo-se Portimão e Caminha.
"De acordo com os testes de 5G efetuados, observam-se situações bastante díspares quanto às características do acesso ao 5G disponível dos concelhos do país que já dispõem de estações", refere o relatório que lembra que "a informação agora divulgada não é suficiente para, por si só, aferir o cumprimento das obrigações de cobertura ou de desenvolvimento de rede que impendem sobre os operadores que adquiriram espectro".
Recorde-se que os operadores têm uma série de obrigações de cobertura a cumprir na sequência do leilão do 5G, com metas definidas até 2023 para cobrir todos os concelhos com mais de 75 mil habitantes, hospitais públicos e centros de saúde no litoral, universidades politécnicos, 50% dos parques industriais, os aeroportos internacionais e instalações militares, incluindo principais auto-estradas, grande parte da linha ferroviária, 98% do metropolitano, principais portos portugueses. Em 2025 grande parte da população terá também de ser servida.
As operadoras já admitiram que estas metas podem estar em causa e pedem mais tempo.
Cobertura concentra-se em zonas urbanas
Segundo a Anacom, a NOS foi o operador que até ao momento instalou um maior número de estações 5G, 1937 estações (66%), seguindo-se a Vodafone com 534 estações (18%) e a MEO com 447 estações (15%). O regulador nota porém que "apesar desta evolução, se considerarmos o número total de estações existentes (2G, 3G, 4G e 5G), observamos que a NOS é o operador com menor número de estações, 10 267 estações (27% do total), sendo o primeiro lugar ocupado pela Vodafone, com 14 684 estações (38%), e o 2º lugar pela MEO com 13 779 estações (36%)".
No relatório a Anacom refere ainda que "muitas das estações de 2G, 3G, 4G e 5G de cada operador estão localizadas num mesmo local, pelo que importa analisar o número total de locais em que cada operador possui estações". Os dados partilhados indicam que a Vodafone tem estações em 5 019 locais, a MEO em 4 883 locais e a NOS em 3 553 locais.
Destaque ainda para o facto de a grande maioria das estações 5G estarem em áreas predominantemente urbanas, correspondendo a 79% do total, correspondendo a 2 316 estações. Só 11% das estações 5G reportadas estão em áreas medianamente urbanas e 10% (277 estações) em áreas predominantemente rurais.
A análise às freguesias das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira revela ainda que a proporção das localizações que não dispõem de estações 5G é muito elevada, correspondendo a 88% do total, ou seja, 185 freguesias. "Apenas 25 freguesias (12%) dispõem já de estações 5G", refere o relatório.
Um leilão de duração "épica" com encaixe acima do esperado
A polémica esteve ligada ao leilão do 5G desde o início, ainda antes de se conhecerem os contornos provisórios do regulamento que permitiria às empresas de telecomunicações apresentarem as suas propostas para ganharem licenças que permitem fornecer serviços móveis de quinta geração. A divergência de posições entre os operadores e o regulador foi-se agudizando depois de ser revelada a proposta de regulamento com as obrigações de cobertura e roaming nacional, os preços de reserva e abertura a novos players no mercado a serem altamente contestados.
A pandemia da COVID-19 acabou por fazer com que o processo se arrastasse, com o adiamento do leilão e a primeira fase do leilão a arrancar só em dezembro, ainda num âmbito circunscrito aos novos entrantes, ou seja, os operadores que ainda não têm serviços móveis em Portugal. No final o montante das licitações ultrapassou os 84 milhões de euros e nenhuma das faixas que estavam disponíveis passaram para a fase geral do concurso, embora continuem a não ser conhecidos todos os participantes no leilão.
A fase geral começou só a 14 de janeiro de 2021 e foi "épica", com mais de 200 dias e um "gota a gota" de propostas de aquisição que prolongou o processo mas que fez também com que algumas faixas aumentassem de preço mais de 780%, multiplicando o valor de encaixe financeiro do Governo com as licenças, já que o preço de reserva estava fixado nos 237,9 milhões de euros .
O valor atingido foi de 566,8 milhões, mais 225 milhões do que o alcançado com o leilão para as licenças do 4G (LTE) em 2011. Na altura a TMN (agora MEO), Vodafone e Optimus (agora NOS) investiram 342 milhões de euros para ter acesso às licenças de 4ª geração móvel. No caso do 3G (IMT2000/UMTS), as licenças foram entregues pelo valor de 400 milhões de euros, sendo que cada um dos quatro concorrentes selecionados pagou 100 milhões de euros. O concurso decorreu em 2000, indicando a Telecel (agora Vodafone), a TMN (agora MEO), a Optimus (agora NOS) e a Oniway (que entretanto faliu e cujo espectro foi distribuído pelos outros operadores) como vencedores. O serviço só seria lançado a 31 de dezembro de 2003.
Nota da Redação: A notícia foi atualizada com mais informação. Última atualização 12h48
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