A esmagadora maioria das empresas de tecnologia têm anunciadas estratégias de sustentabilidade, mais ou menos ambiciosas, rumo à neutralidade carbónica. Nestas estratégias incluem-se iniciativas para as mais diversas áreas. No caso das empresas que comercializam produtos, a substituição de materiais por opções recicladas, ou de menor impacto ambiental, e o aumento da eficiência energética dos produtos estão entre as grandes apostas.

Para quem compra, e por entre tanta comunicação sobre responsabilidades assumidas em matéria de sustentabilidade, pode não ser fácil distinguir entre planos para o futuro e apostas concretizadas. O SAPO TeK falou com algumas das marcas de tecnologias que mais vendem em Portugal, nos respetivos segmentos, para identificar alguns exemplos concretos de produtos “mais verdes” disponíveis já hoje e perceber o que os distingue afinal de outros.

A Lenovo tem vários exemplos para partilhar nesta matéria, uma vez que a marca já usa materiais reciclados em diferentes produtos, mas foca-se em dois recentes: os modelos Z13 e Z16 da gama ThinkPad, onde usa alumínio e couro preto vegan reciclados. Nos mesmos modelos, o adaptador AC utiliza 90% de matéria reciclada e as embalagens são feitas de bambu e cana-de-açúcar, 100% recicláveis e compostáveis.

Alberto Ruano, diretor-geral ibérico, assegura que a Lenovo é a fabricante que inclui mais plástico reciclado nos seus produtos, tendo já usado 56 toneladas desse material nos equipamentos que produz.

Lenovo Thinkpad Z13
créditos: Lenovo

A marca tem vindo a trabalhar também na eficiência energética dos monitores, por serem um dos elementos mais exigentes de qualquer equipamento, em matéria de consumo energético. Na sequência desse trabalho, “75% dos monitores da gama ThinkPad estão aprimorados para a eficiência energética. Além disso, a utilização de IA com Computer Vision permite-nos reduzir ainda mais o nosso consumo de energia”, acrescenta o responsável.

A estratégia de sustentabilidade da Lenovo foi pensada de forma global e abrange diversas áreas, desde iniciativas para a redução de emissões de CO2, compromisso com o objetivo net-zero até 2050, à produção de equipamentos com materiais mais sustentáveis, explica a empresa.

Neste leque, Alberto Ruano também destaca o facto de a empresa ter conseguido no ano passado ultrapassar 1 milhão de toneladas métricas em compensações de carbono, ou iniciativas como a Lenovo TruScale, que disponibiliza equipamentos e serviços tecnológicos numa base de subscrição ou serviço, contribuindo para minimizar resíduos.

O grupo chinês orgulha-se ainda de ter sido pioneiro em algumas inovações com impacto em toda a indústria “como a invenção da tecnologia de soldadura de baixa temperatura, que reduz as emissões de gases com efeito de estufa durante a produção de computadores”, sublinha o diretor-geral. O processo permite poupar cerca de 4740 toneladas métricas de CO2 por ano e foi partilhado de forma aberta com o resto da indústria.

HP Pavillion dá nova vida a 92 mil garrafas de água todos os anos

Ainda no domínio dos computadores e respetivos periféricos, a HP tem também para partilhar vários exemplos de produtos ambientalmente mais responsáveis, que resultam do trabalho realizado pela marca ao longo dos últimos 25 anos nesta área, como sublinha Alexandre Silveira.

O diretor de marketing e porta-voz da HP Portugal nesta matéria destaca três: o portátil HP Pavilion utiliza plásticos que permitem reutilizar 92.000 garrafas por ano. Na impressora HP Inspire, 45% do plástico usado é reciclado e o portátil Elite Dragonfly é o “primeiro do mundo com certificação EPEAT”. Foi aliás distinguido nos Innovation Awards da CES.

Para além destes exemplos, a marca defende que a generalidade dos produtos que comercializa já reflete esforços no domínio da circularidade, “desde as embalagens de material reciclado e sustentável, aos portáteis, impressoras e consumíveis com elevadas percentagens de plástico reciclado, aos programas de recolha de consumíveis usados”.

No caso concreto da produção, embalagem e materiais, a HP “reduziu em 44% as embalagens de plástico descartável, comparativamente a 2018, o que representa uma redução de 25% desde 2020, ou seja, estamos a acelerar este movimento”, ilustra Alexandre Silveira.

A empresa tem ainda vindo a melhorar o design e o processo de fabrico de embalagens de fibra moldada com recurso a tecnologia de impressão 3D própria e adianta que já comercializa mais de 150.000 unidades de produtos ao ano com este material. Procura também contribuir para o prolongamento da vida útil dos seus produtos e para isso assegura a disponibilidade de peças e a reparação de equipamentos da marca, "por períodos superiores aos definidos pela lei".

Samsung Galaxy S23 também se faz de antigas redes de pesca

Nos telemóveis, a Apple e a Samsung têm sido reconhecidas como as empresas mais empenhadas nos temas da sustentabilidade, como concluiu um relatório da Counterpoint. A pesquisa analisava vários fatores, desde as iniciativas para prolongar a vida dos equipamentos, ao empenho em produzi-los de forma mais sustentável, lembrando que 80% da pegada ambiental dos equipamentos está na fase de produção.

Nesta área, uma das medidas emblemáticas da Samsung, tem sido a reutilização de plástico que polui os oceanos (antigas redes de pesca, por exemplo) no fabrico dos seus equipamentos. Nos smartphones, o primeiro modelo a receber componentes feitos com este material foram os Galaxy S22. Este ano, os Galaxy S23 seguiram a mesma receita, em maior proporção, e a empresa já disse que quer passar a aplicar a mesma prática a um número crescente de modelos.

Cálculos da marca, tendo por base as projeções de vendas do S23 este ano, indicam que o plástico reciclado usado vai evitar que 15 toneladas de redes de pesca descartadas se acumulem nos oceanos. Sublinha-se também que produzir uma tonelada métrica de plástico com redes de pesca usadas permite reduzir em 25% as emissões de carbono associadas.

Detalhando um pouco mais os resultados desta aposta, a capa interna da S Pen contém no mínimo 20% de poliamida proveniente do oceano. Cerca de 22% do material usado no vidro frontal e traseiro do S23 é reciclado, enquanto 80% da película do vidro traseiro é também de material reciclado. Os corantes para anodizar as estruturas metálicas são feitos de corante 10% natural. A embalagem do modelo é feita de papel 100% reciclado, excluindo a etiqueta do selo e o vinil de encolhimento.

Na infografia abaixo, a Samsung dá mais alguns detalhes de como está a trabalhar esta integração de plástico reciclado nos seus modelos.

Noutros segmentos de produto, a marca tem vindo a fazer o mesmo percurso. As redes de pesca descartados também já ganharam uma nova vida em computadores ou tablets Samsung. Em setembro de 2021, a fabricante anunciou igualmente uma linha de pulseiras para os relógios inteligentes Galaxy Watch 4 feita de materiais recicláveis e mais “amigos” do ambiente. O produto resultou de uma parceria com uma designer de moda.

Desta linha, dois modelos eram fabricados a partir de um material à base de cascas de maçã, desperdício da indústria agroalimentar. Os outros modelos usavam uma versão “eco-friendly” e não tóxica de plástico TPU. Todas as pulseiras podem ser recicladas, no final do seu período de vida útil. Esta edição especial já não está disponível, mas a marca admite manter o interesse neste tipo de iniciativas.

Em termos de eficiência dos produtos que coloca no mercado, a Samsung também já assumiu compromissos e promete que até 2030 vão consumir 30% menos energia que em 2019, graças à integração de tecnologias de baixo consumo. A medida vai abranger smartphones, refrigeradores, máquinas de lavar, ar-condicionado, televisores, monitores e PCs.

No ano passado, a fabricante anunciou também uma nova estratégia de sustentabilidade, onde fixa a meta de neutralidade carbónica em todas as operações para 2050. Na divisão de dispositivos, o objetivo é mais ambicioso e o plano é ser net-zero já em 2030.

Desde agosto do ano passado, a Samsung tem a funcionar nos Estados Unidos, um programa-piloto de autorreparações, que permite aos clientes encomendar e receber em casa peças para repararem, eles próprios, os seus equipamentos. O número de equipamentos abrangidos é restrito e o número de peças aptas para uma reparação assistida em casa também não é grande, mas inclui alguns dos componentes que mais se danificam nos equipamentos.

A iniciativa não tem data para ser estendida a outros países, nomeadamente a Portugal, mas é considerada um passo importante noutra componente crítica do contributo que as marcas podem dar, para uma utilização mais sustentável dos recursos do planeta: prolongar a vida dos equipamentos. Outra área onde a Samsung contribui para esta máxima é no tempo de suporte dado aos equipamentos que coloca no mercado. A marca é uma das mais “generosas” a este nível no ecossistema Android.

Mais de um quinto dos materiais usados pela Apple são reciclados

Na concorrência, a Apple, que tem planos para se tornar net-zero já em 2030, também já disponibiliza um serviço de autorreparações, estreado nos Estados Unidos mas já estendido à Europa, para além de ser uma referência na durabilidade dos produtos que comercializa e no tempo de suporte.

A marca foi ainda pioneira noutras iniciativas, algumas polémicas, como a eliminação dos carregadores da caixa dos equipamentos novos, e também usa materiais reciclados nos seus equipamentos. Dados oficiais da empresa indicam que em 2021 20% dos materiais usados em produtos da marca já eram reciclados.

Dos Chromebooks às consolas, há mais exemplos "verdes"

Estes são alguns exemplos de produtos que, em maior ou menor escala, promovem uma economia circular. Não são os únicos. A Acer apresentou recentemente quatro novos Chromebooks, todos fabricados com recurso a algum material reciclado e já no ano passado a fabricante tinha lançado diferentes produtos com integração de materiais mais sustentáveis. Neste última apresentação, o maior destaque irá para o Chromebook Vero 712, com 30% de plástico reciclado na composição do chassis e da moldura do ecrã. As tampas das teclas do portátil incluem 50% de plástico reciclado.

A Nokia, que no ano passado na IFA já tinha reforçado o seu compromisso com a sustentabilidade quando apresentou o Nokia X30 5G, este ano em Barcelona revelou o Nokia G22. Além da aposta nos materiais reciclados, o modelo de entrada de gama também dá nas vistas pelo design friendly para autorreparações. A proposta só fica manchada pelo curto tempo de suporte que o equipamento vai ter: dois anos para o sistema operativo e três para atualizações de segurança.

Nokia G22
créditos: Nokia

Nas consolas, mesmo sem grandes novidades recentes, as preocupações com a sustentabilidade têm marcado os últimos desenvolvimentos dos fabricantes. Desde 2019 que a Sony vem introduzindo melhorias para reduzir o consumo energético da PlayStation. Na PS5 essa aposta foi reforçada para conseguir evitar, estima a marca, entre 32,300 e 39,000 toneladas de CO2 por ano, por cada milhão de consolas vendidas.

A Microsoft acaba de anunciar uma Remix Special Edition do comando wireless para a Xbox, feito com materiais reciclados a partir de componentes de unidades antigas da Xbox One. A empresa lembra também que a Xbox Series X|S usa 30% de plástico reciclado, no âmbito de uma estratégia de sustentabilidade que “é comum a todas as áreas de negócio [da Microsoft], onde se incluem não só as consolas , como toda a linha Surface e periféricos”, refere Sofia Vaz Pires, Diretora Executiva de Marketing e Operações da empresa em Portugal.

Nesse universo, a marca dá também o exemplo do Ocean Plastic Mouse, com 20% de plástico oceanico reciclado. A Microsoft tem ainda vindo a reforçar a aposta em materiais reciclados e recicláveis nas embalagens e nos produtos, com o objetivo de atingir a meta zero waste até 2030.

“Também promovemos a eficiência energética dos nossos produtos e serviços, incentivando os nossos clientes e parceiros a utilizarem modos de baixo consumo, monitorizados através do Microsoft Cloud for Sustainability”, acrescenta Sofia Vaz Pires.