Nas últimas semanas o cenário mudou radicalmente para a Huawei com a colocação da empresa na lista negra dos Estados Unidos, que impede a venda de produtos e serviços por parte das empresas norte americanas à chinesa. O diferendo com a administração norte americana já era longo mas estava mais relacionado com a tecnologia de rede, e o 5G, embora também com a avaliação negativa sobre a utilização de smartphones da marca que impedia o crescimento neste mercado, ao contrário do que acontece a nível global onde a Huawei ameaça a liderança da Samsung.
Entre ameaças, processos, discursos e até a detenção da filha do fundador da empresa, o clima de guerra foi-se agravando, sempre com ligação política ao conflito a China numa guerra comercial que se arrasta sem um fim à vista.
Depois da inclusão da Huawei na lista negra foi dada uma moratória de 3 meses que se estendem até meados de Agosto, e que permitiria às empresas prepararem-se para o bloqueio comercial, mas ficou no ar também uma possibilidade de acordo, e de Trump poder usar esta situação como arma negocial para um acordo com a China.
A empresa não escondeu o impacto da decisão da administração Trump e em várias entrevistas o CEO da Huawei, Ren Zhengfe, foi dando conta das muito elevadas perdas financeiras, de alterações nos planos de desenvolvimento de produtos e de um plano B, que passa por desenvolver internamente mais componentes dos equipamentos e um sistema operativo próprio, que poderá chamar-se HongMeng.
Apesar do abalo forte das últimas semanas, o negócio não parou e a Huawei tem estado a trabalhar para recuperar a confiança dos consumidores, como sublinhou ao SAPO TEK Tiago Flores, responsável pela área de consumo em Portugal. Uma das provas disso mesmo foi a abertura em Madrid, na semana passada, de uma das maiores lojas da Huawei no mundo.
À margem do evento o SAPO TEK falou com Walter Ji, presidente do Consumer Business Group da Huawei para a Europa ocidental, numa entrevista onde abordámos a forma como a Huawei está a preparar-se para os vários cenários e a enfrentar a situação. Na altura da entrevista, a 4 de julho, já havia um sinal positivo por parte do presidente Donald Trump para aliviar as sanções, mas ainda não tinha sido definida a forma como isso iria acontecer, o que só foi conhecido esta semana com a indicação de que as empresas norte americanas terão de pedir uma licença especial para fazer negócio com a Huawei, mas que a empresa continua na lista negra.
Estratégia clara e a história do homem e da montanha
“Nos últimos 30 anos a Huawei teve sempre em atenção os 4 pilares com prioridade para os consumidores, inovação com sentido, colaboração aberta e globalização ”, explicou em entrevista, lembrando que é por isso que a Huawei investe “muito mais do que a concorrência em I&D”.
“Temos novos desafios, mas estamos a trabalhar com calma”, sublinha quando questionado sobre o impacto das sanções na operação da empresa, sublinhando que “não vamos distrair-nos com coisas que não controlamos”.
Durante a sua intervenção na inauguração da loja Walter Ji transmitiu a mesma ideia, e usou a história do velho Yu Gong que tentou remover duas montanhas que estavam no seu caminho e que se tornou um símbolo da preserverança e força de vontade.
Durante a entrevista, Walter Ji garantiu ainda que os parceiros da Huawei estão a apoiar a empresa, mesmo com risco, mas mesmo assim admite que “num contexto de colaboração aberta se todos os amigos fecham a porta temos impactos”.
Para isso há um plano B, e o investimento em Investigação e Desenvolvimento que a empresa tem feito. “Se não conseguirmos comprar de outros vamos ter os nossos produtos desenvolvidos com o nosso I&D, processadores, chipsets e também software”, reforçou.
Em relação a planos a curto prazo, o responsável de consumo da Huawei para a Europa não adiantou muita informação, focando-se na apresentação da loja em Madrid e na demonstração de 5G que estava a ser preparada, com o novo Mate 20 X 5G que já está à venda em Espanha.
Também sobre o Mate X, o smartphone dobrável da Huawei, Walter Ji preferiu forcar-se na inovação do formato. “Temos estado a desenvolver o foldable mas há desafios de inovação, é uma tecnologia complexa, tem de se garantir robustez para o ecrã poder ser dobrado muitas vezes”, afirmou. Mas garantiu que o adiamento do lançamento do novo smartphone não tem ligação com o adiamento da Samsung e com o falhanço do Fold nas primeiras análises de jornalistas.
“A competição é importante no mercado, mas mais importante é focarmo-nos na estratégia para servir melhor os clientes […] É a única forma, porque olhar para a concorrência não funciona”, sublinhou Walter Ji.
Nota da redação: a entrevista foi realizada a 4 de julho de 2019 na sequência de uma deslocação a Madrid para a inauguração da nova loja. A viagem foi realizada a convite da Huawei.
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