Primeiro o fundador do Facebook tinha recusado uma audiência ao Parlamento Europeu, depois decidiu aceitar mas numa sessão fechada, mas finalmente está a apresentar as suas explicações em direto na Europa. A sessão acontece no Parlamento Europeu depois dos eurodeputados exigirem que o líder da rede social explicasse pessoalmente a utilização de dados pessoais dos milhões de utilizadores desta rede social.
A audiência acontece pela primeira vez com transmissão online no site do Parlamento Europeu e o Presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, abriu a sessão explicando os desafios que a gestão de dados traz, com a digitalização e o peso das redes sociais, mas lembrou também a entrada em efeito do Regulamento Geral de Proteção de Dados, e o seu enquadramento.
"A Europa e o mundo inteiro já estão sob ataque, porque os nossos valores são ofendidos no social media com conteúdos xenófobos e violentos", afirmou Antonio Tajani, sublinhando ainda os riscos de interferências nas eleições políticas, à semelhança do que aconteceu nos EUA.
Mark Zuckerberg começou a sua intervenção dizendo que é bom estar de volta à Europa, e sublinhando que "os europeus são uma parte importante da nossa comunidade global, e os valores que defendem são também os nossos valores".
À semelhança do que já tinha feito no Senado e no Congresso norte americano, Zuckerberg admite que o Facebook não consegui fazer o suficiente para proteger os dados dos utilizadores, e evitar o uso indevido, ou a disseminação de Fake News. E voltou a pedir desculpa por isso.
O fundador do Facebook lembrou o que a rede está a fazer para intervir em situações de violência e terrorismo, mas também o trabalho que está a desenvolver para dar mais controle aos utilizadores, com mais transparência sobre a forma como partilham os dados, lembrando ainda que continua a investigar a forma como as aplicações externas estão a usar a informação. "Até agora investigámos milhares de aplicações e já bloqueamos cerca de 200", justificou, referindo ainda a recém anunciada ferramenta para limpar o histórico de utilização.
"Estou empenhado em continuar a desenvolver ferramentas que possam ligar pessoas e ao mesmo tempo em reforçar a segurança e gestão dos dados", explicou Mark Zuckerberg, lembrando que a grande maioria dos 400 milhões de europeu são utilizadores dos seus serviços e que a empresa está presente em muitos dos países europeus, com pólos comerciais, centros de desenvolvimento e investigação. "Até final de 2018 vamos contar com mais de 10 mil colaboradores do Facebook em 12 países europeus", adiantou ainda.
Depois da declaração inicial de Mark Zuckerberg, foi a vez dos deputados colocarem as suas questões, começando pelos líderes dos vários grupos parlamentares. Avaliando as intervenções dos deputados, o que se pode constatar é que os eurodeputados estão muito mais bem preparados do que os senadores e congressistas norte americanos, que colocaram perguntas muito inusitadas.
Questões como o excesso de poder, monopólio do Facebook nas redes sociais, o cumprimento das diretivas do RGPD estão no centro das questões colocadas, e chegou-se mesmo a perguntar "Está a dizer a verdade sobre o cumprimento das regras de privacidade?" e "Como vai compensar os utilizadores do Facebook na Europa pelo valor dos seus dados", uma questão que a DECO também queria colocar ao fundador do Facebook. Entre perguntas mais gerais e outras diretas, até algumas com hipótese múltipla de Sim/Não, os eurodeputados ocuparam a larga maioria da hora que estava prevista para a audição.
Inundado de perguntas, Zuckerberg tentou resumir por grupos as questões e "usar o pouco tempo que resta para responder". O fundador do Facebook começou pelos conteúdos inapropriados, de violência ou xenofobia, e garante que agora tem muito mais ferramentas para lutar contra estes excessos do que tinha quando criou a rede no seu dormitório da faculdade.
"Tentamos abordar estes temas de acordo com uma escala de prioridades de riscos", justifica, explicando que as fake news e spam não têm o mesmo nível de perigo que uma conta falsa, ou ameaças à integridade física ou terrorismo.
"Estamos a usar sistemas de Inteligência Artificial e a contratar pessoas para gerirem estes conteúdos", explica, admitindo porém que nunca existirá um sistema perfeito, já que haverá sempre que use outras ferramentas para contrariar estes controles.
A possibilidade de intervenção nas eleições foi também uma das preocupações expressas por vários deputados, e Mark Zuckerberg reconheceu que há várias eleições importantes em 2018 e 2019 na Europa. "Estamos a reforçar as nossas ferramentas para identificar tentativas de interferência e contamos ter um sistema mais robusto no verão", explica.
Em relação aos regulamentos, especialmente o RGPD, o criador do Facebook disse que a sua intenção é cumprir a regulação, e que quer cumpri-la eficazmente, e que toda a equipa está a trabalhar nesse sentido. "Esperamos estar completamente 'compliant' com o RGPD a 25 de maio. Tivemos uma grande equipa a trabalhar nesse sentido", adiantou. O responsável pelo Facebook detalhou ainda a forma como estão a ser apresentadas aos utilizadores as novas regras e diz que há muitos milhares, dezenas de milhar, que já aceitaram as novas regras.
O modelo de negócio do Facebook, baseado em publicidade, foi também explicado aos deputados, com Zuckerberg a garantir que não há monopólio, já que os anunciantes têm muitas opções. E em relação aos impostos, reforçou que a empresa paga impostos na Europa, e que vai continuar a pagar.
Referindo a pressão do tempo, que foi ultrapassado, Mark Zuckerberg garantiu que a sua equipa responderá posteriormente às perguntas que ficaram por abordar. Mas o modelo não agradou aos eurodeputados que sublinham que muitas perguntas importantes ficaram por responder e que querem uma resposta individualizada, por escrito, nos próximos dias. "Nós preparámo-nos para esta sessão. Podemos enviar as perguntas por escrito ao senhor presidente do PE e ele envia para si, mas é importante termos respostas claras", referiu um dos eurodeputados.
Uma história já longa para o Facebook
Na sequência do escândalo do Facebook, Cambridge Analytica, os representantes de 500 milhões de europeus querem perceber como a rede social realiza a gestão dos dados pessoais dos seus utilizadores e como prevê cumprir o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) que começa a ser aplicado em toda a UE já esta semana, a 25 de maio.
Num momento inicial, o CEO da rede social propôs que fosse o seu vice-presidente encarregado das relações públicas, Joel Kaplan, a responder às perguntas dos eurodeputados, mas será o próprio Zuckerberg a estar presente na sessão que se pensava ser à porta fechada.
Contudo, Antonio Tajani, líder do parlamento, anunciou no Twitter que a sessão será transmitida ao vivo, através do site oficial da instituição, para uma audiência de milhões de pessoas. A sessão do Parlamento Europeu será realizada das 18h15 às 19h30 de Bruxelas (menos uma hora em Lisboa).
Em abril, Zuckerberg testemunhou durante 10 horas perante o Congresso norte-americano, depois de ter enfrentado cinco horas de perguntas no Senado e onde esclareceu que a rede social vai aplicar nos EUA e no resto do mundo algumas das novas regras de proteção de dados que entrarão em vigor na Europa em maio, com o RGPD.
Depois de reconhecer que a consultora Cambridge Analytica utilizou dados de 87 milhões de utilizadores da rede social para influenciar campanhas políticas em todo o mundo, dos quais 63 mil portugueses, o Facebook lançou novas diretrizes para tornar as suas configurações de privacidade mais fáceis de identificar.
A Cambridge Analytica não sobreviveu ao impacto do escândalo que envolveu a utilização e manipulação de dados de milhões de utilizadores do Facebook e, no início deste mês, iniciou o processo de insolvência com as entidades do Reino Unido, tendo cessado todas as suas operações.
Nota da Redação: A notícia foi atualizada enquanto decorria a audição no Parlamento Europeu. Última atualização 19h28.
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