Os resultados financeiros mostram que as Big Tech continuam a ser altamente rentáveis, com lugares reservados entre as maiores empresas do mundo, mas durante este ano tiveram de se adaptar e os despedimentos chegaram a um sector onde a tendência tinha sido sempre de crescimento.

Depois de uma corrida às contratações para fazer face à pandemia de COVID-19, que obrigou à aceleração digital e a dar resposta às mudanças de paradigma do trabalho, as grandes empresas tecnológicas não estão a conseguir manter a mesma dinâmica e o excesso de colaboradores está a causar despedimentos em massa.

Se até agora ter um emprego em empresas como a Meta, Amazon ou Microsoft seriam uma garantia de segurança, o medo instala-se agora entre aqueles que ainda trabalham nas grandes tecnológicas.

Muitas empresas começaram por colocar em pausa a contratação de novos talentos, mas os despedimentos chegam agora às dezenas de milhares. O website Layoffs.fyi, que faz um rastreio dos despedimentos das grandes empresas e salienta que durante o ano de 2022 cerca de 830 tecnológicas despediram mais de 134 mil trabalhadores. E novembro foi um autêntico pesadelo, registando-se à data mais de 42.350 despedimentos de 122 empresas.

2023 pode não ser melhor com sinais de que várias companhias preparam reestruturações, incluindo a HP e a Google, e a Meta anunciou um plano para despedir 11 mil funcionários.

A tendência ainda não chegou a Portugal, onde a ordem é de continuar a contratar e onde ainda existe falta de mão de obra qualificada no digital, motivando vários programas de qualificação e requalificação de profissionais. Mas há um risco diferente, com o ataque dos países mais ricos ao talento nacional, já que descobriram como podem facilmente vir buscar profissionais bem formados a preços mais baixos, como explica Pedro Moura, chief marketing officer da Landing.Jobs, em entrevista ao SAPO TEK.

O modo de trabalho é que mudou, com a instalação de um modelo híbrido ou remoto que tem favorecido a promoção da fixação de profissionais internacionais em Portugal e o nomadismo digital que se assume como uma tendência que veio para ficar.

Mesmo para quem não trabalha em tecnologia o ritmo de deslocações ao escritório físico foi alterado, com a combinação de dias em casa e na empresa, o que obrigou também as companhias a adaptarem métodos e processos, incluindo na cibersegurança.

Qualificar e requalificar para responder à procura

Não há números sobre os empregos por preencher no digital em Portugal, mas todos os indicadores mostram que é cada vez mais difícil completar as vagas abertas pelas empresas, que continuam a contratar. Não são só programadores ou engenheiros de sistemas, até porque hoje as competências digitais são necessárias na grande maioria dos trabalhos e numa cidadania ativa.

A Atomico indica que Portugal tem dos índices mais elevados de emprego no setor da tecnologia e está em contraciclo com a Europa. A maioria dos países europeus tem um índice de empregos de tecnologia que são considerados difíceis de preencher em crescimento mas Portugal é considerado um caso atípico pelo relatório da organização.

Uma parte deste emprego está ligado às startups mas também a centros de competências que se fixaram em Portugal, geridos por multinacionais que encontram no país boas condições para desenvolver a sua atividade. Um retrato da Startup Portugal ao ecossistema de empreendedorismo aponta para mais de 69 mil empregos gerados em startups.

As iniciativas de qualificação e requalificação multiplicam-se e o INCoDe.2030 tem promovido o desenvolvimento de competências. Um estudo divulgado há poucos dias, realizado pelo INCoDe.2030 em colaboração com a PwC Portugal e a McKinsey & Company, identifica 49 profissões prioritárias e um quadro de referência de 22 competências digitais para o emprego, podendo funcionar como um mapa para quem quer seguir esta área.