Hoje em dia cerca de 55% da população mundial vive em cidades e a previsão da ONU é que esse número aumente para 70% até ao final de 2050. Estes números traduzem-se em milhões de pessoas que precisam de se deslocar diariamente, quer por motivos pessoais ou profissionais, e, com isso, surgem novos desafios à mobilidade urbana. Com o ano a terminar analisamos o que de mais importante aconteceu em 2019 e nesta década, com muitos desafios e muitas soluções a surgirem simultaneamente, num ano em que o tema "alterações climáticas" foi amplamente discutido.
Dos testes dos primeiros carros autónomos à “invasão” das trotinetes elétricas, esta última década foi marcada por desenvolvimentos na mobilidade da população mundial, que pretendem tornar as deslocações mais rápidas e práticas. Em Lisboa, por exemplo, cidade que venceu o Prémio de Capital Verde Europeia 2020, já é relativamente frequente ver postos de carregamento de carros elétricos ou ciclovias pela cidade e inclusive serviços de carsharing ou de TVDE.
Para Paulo Ribeiro, docente na Escola de Engenharia da Universidade do Minho, a última década ficou marcada por uma integração de “forma inequívoca” das questões da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável, sobretudo no que diz respeito à mobilidade urbana. Segundo o doutorado em engenharia civil tem-se apostado “num desenvolvimento mais racional e equilibrado neste setor, visando sobretudo a promoção de um ambiente mais limpo e saudável, de um bem-estar inclusivo e equilibrado e não comprometendo o desenvolvimento económico e a competitividade das cidades e dos territórios em geral”.
E os políticos não têm passado ao lado desta realidade, garante o especialista, conscientes de que o setor da mobilidade e dos transportes é um vetor de desenvolvimento socioeconómico das cidades e dos territórios em geral, mas também uma das principais fontes de emissão de poluentes e um dos principais consumidores energéticos.
“As políticas europeias e nacionais têm vindo a incorporar a necessidade de promover uma mobilidade mais limpa, inclusiva e integrada, tendo em vista a redução da hegemonia do uso do automóvel nas deslocações pendulares casa-trabalho e casa-escola”
Um dos momentos que marcaram precisamente este ano foi a assinatura do Pacto de Mobilidade Empresarial para a Cidade de Lisboa em dezembro. O acordo foi assinado, numa fase inicial, por quase 60 empresas, que se comprometeram a trabalhar com o município na procura de soluções de mobilidade mais seguras, eficientes e sustentáveis.
Em entrevista ao SAPO TEK, o responsável pela Bolt em Portugal, David Ferreira da Silva, destaca a “crescente responsabilização por parte das empresas em relação às emissões de gases com efeitos de estufa”, que começam a criar “medidas específicas para diminuir ou compensar essas emissões”. A própria Bolt criou a iniciativa ambiental “Green Plan”, que pretende “neutralizar as emissões de carbono na Europa, financiando medidas que contribuem para a redução das emissões de CO2, de forma a que tenha um impacto neutro em emissões de carbono” e lançou uma nova categoria amiga do ambiente, o "Green", esta segunda-feira. O serviço permite aos seus utilizadores optarem por um serviço com carros totalmente elétricos.
Em Portugal estão registados oito operadores de plataforma eletrónica de TVDE, “o transporte individual e remunerado de passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica”, de acordo com o Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres. Para David Ferreira da Silva a mobilidade é “uma das áreas com maior evolução nos últimos anos” e acredita que continuará a transformar-se durante as próximas décadas.
Para além da Bolt, nesta década também outras empresas iniciaram a sua atividade em Portugal, nomeadamente a Uber, que tem apostado em serviços alternativos, como o das bicicletas e trotinetes elétricas, para além da Lime, por exemplo. Desta forma, o "last mile" pode ser agora percorrido de formas mais eficientes, não exigindo os tipos de transportes "tradicionais" e mais condicionados.
Para exemplificar isso mesmo David Ferreira da Silva enumera algumas das novas tendências que têm surgido, nomeadamente as trotinetes e bicicletas elétricas, os serviços de ride hailing ou car sharing e ainda “o incremento do número de carros em circulação mais sustentáveis e ecológicos”, como os carros elétricos, híbridos ou GPL”.
Da comercialização dos carros elétricos aos testes de carros autónomos… Nem tudo correu bem
2011 foi o ano em que os carros elétricos passaram a ser comercializados em Portugal, seguindo-se assim aos híbridos. De acordo com dados da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP), nos primeiros seis meses de 2018 foram vendidos 1.868 veículos elétricos, um aumento de 156,2% face ao mesmo período do ano passado, valor que ultrapassa os números dos 12 meses de 2017.
E, retomando a 2011, e desta vez com base em números da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE), com a contribuição EV Sales, registou-se um aumento mais ou menos linear das vendas dos carros elétricos, tanto os 100% elétricos, como os modelos híbrido plug-in. “As vendas só dispararam com a introdução da fiscalidade verde no último ano da legislatura do governo anterior, com a entrada em vigor de incentivos à aquisição de veículos elétricos e híbridos plug-in em 2015”, explica a UVE.
Desta forma, também a indústria automóvel tem dado resposta às necessidades ambientais da mobilidade urbana, com o desenvolvimento de veículos mais eficientes e menos dependentes de fontes de energia fósseis e que produzem "zero" emissões a nível local. Mas, apesar do aumento da quota do mercado de veículos elétricos, Paulo Ribeiro fala em números "ainda longe do que se espera".
2017 foi o ano em que Lisboa foi “invadida” por autocarros elétricos, depois de o Governo ter assinado um acordo com nove empresas para a compra de 510 autocarros movidos a energias limpas, de autocarros elétricos e movidos a gás natural. E desde então que viajar nos autocarros da Carris se tornou menos “aborrecido”, com a Câmara Municipal de Lisboa a estabelecer como meta o acesso gratuito a redes Wi-Fi em toda a frota de autocarros e elétricos da empresa em 2017.
Mais recentemente, em junho deste ano estudantes do Instituto Superior Técnico apresentaram um novo protótipo automóvel elétrico 100% “made in Portugal”, num ano em que foram definidas novas regras para os carros elétricos, que passam a ter de fazer mais “barulho” até 2021.
A década ficou também marcada pelo início dos testes dos carros autónomos por parte da Tesla, mas que em 2016 teve um desfecho fatal. Um dos veículos elétricos da empresa de Elon Musk esteve envolvido num acidente fatal em que a função Autopilot estava ativa.
Num ano especialmente "quente" para o planeta e com os políticos a mostrarem-se preocupados com o impacto das alterações climáticas, as soluções sobre a mobilidade sustentável foram também amplamente discutidas. Na edição de 2019 do Web Summit responsáveis por diversas empresas discutiram como será a mobilidade em 2025.
Nos últimos anos muito se tem falado também sobre carros voadores, surgindo uma competição entre diversas empresas para colocar no ar o primeiro carro voador. A Liliam Aviation é mais uma das muitas empresas que estão a desenvolver um carro voador, à semelhança da Uber, o Cora de Larry Page, a Uber, e até a NASA sonha em construir "auto-estradas no céu".
Um futuro que “levanta muitas questões e incertezas”. Quais as estratégias?
Tanto David Ferreira da Silva como Paulo Ribeiro garantem que é cada vez mais importante a possibilidade de deslocação de forma rápida, segura e sustentável, independentemente do meio de transporte ou trajeto escolhido. Neste sentido, para o responsável da Bolt em Portugal "é necessário criar as infraestruturas adequadas para a integração" das soluções futuras.
"No futuro a mobilidade irá passar pela integração dos vários tipos de soluções, como os carros, bicicletas, trotinetes ou transportes públicos, numa única plataforma, simplificando a experiência do utilizador"
Paulo Ribeiro acredita que para que a mobilidade do futuro possa ser integrada, inteligente, inclusiva e segura “terá que ser promovida a equidade, coesão e sustentabilidade entre cidades e comunidades inteligentes, que o transporte seja interconectado digitalmente, com uma abordagem multidimensional”. Neste sentido destaca a necessidade de serem identificados, estudados e analisados quatro fatores: pessoas (jovens, idosos, com mobilidade reduzida), território (centro das cidades, áreas peri-urbanas e rurais), sistemas de transporte (motorizados e modos suaves/ativos) e a incorporação de soluções digitais (plataformas digitais - mobility as a service).
Para o especialista são várias as “exigências” ao desenvolvimento das redes e dos modos de transporte. Identificar diferentes necessidades e expectativas dos cidadãos e desenvolver soluções digitais inovadoras, que atendam à diversidade das necessidades dos cidadãos, numa perspetiva de promoção da inclusão são algumas delas.
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