É difícil de acreditar que as redes sociais como as conhecemos existam há cerca de duas décadas. Durante este tempo, tornaram-se parte integrante das nossas vidas e não há sinais de que o fenómeno esteja a abrandar, embora com algumas “atenuantes” – ou “agravantes”, consoante o ponto de vista.
Facebook, Instagram e Twitter (agora como X) começaram com caraterísticas próprias, bastante diferenciadoras entre si, mas hoje parecem caminhar para uma oferta em que pouco as distingue. E quando há algo de novo que não possam integrar diretamente, lançam-se serviços associados, meio à parte, que retenham os utilizadores e assim mantenham ou façam crescer o bolo dos anunciantes que não se querem perder para a concorrência.
Aconteça o que acontecer, uma coisa é certa: as redes sociais vão continuar a evoluir e a ser usadas, embora umas mais do que outras. Há quem “prenda” os utilizadores por (cada vez) mais tempo, quem ganhe na popularidade e quem continue a ter o maior número de contas.
O Facebook pode continuar a ter o maior número de utilizadores e o Instagram ganhar no índice de popularidade, mas é o TikTok que reina como a rede social onde as pessoas passam mais tempo. E a somar.
Mesmo seis anos após o seu lançamento, o TikTok domina na “guerra” dos vídeos curtos, estando a caminho de registar downloads recorde e a maior receita de compras dentro da aplicação até ao momento, mas não só. Que usa redes sociais está a dedicar quase 34 horas por mês ao TikTok, valor que representa um impressionante aumento de dez horas em relação ao ano anterior.
O tempo dedicado às plataformas online, principalmente entre os mais novos, é uma preocupação para muitos e houve quem passasse do pensamento à prática, como as centenas de famílias nos Estados Unidos que processaram empresas como a Meta, Google, Snap e TikTok pelo vício das redes sociais.
Na Europa o ano fechou mesmo com luz verde do Parlamento Europeu ao pedido de criação de novas regras que corrijam as atuais falhas e introduzam novas linhas legislativas para combater o design viciante das plataformas online e redes sociais. Sugere-se, por exemplo, a proibição de técnicas como o “scroll infinito” presente em redes como o Facebook e Twitter ou sistemas de reprodução automática dos vídeos. O documento aponta que as empresas devem mudar o seu foco de design de natureza económica para ética, ou seja, os produtos deixarem de ser viciantes para fins lucrativos. Mas eis um ponto em que, muito provavelmente, será difícil reunir consenso.
Pagar é a palavra de ordem: desde os perfis verificados a não ver anúncios
E depois de Elon Musk começar a cobrar pelo visto azul no Twitter que transformou em X, não tardou muito que o Facebook e o Instagram seguissem passos idênticos, oferecendo contrapartidas aos utilizadores em troca de alguns euros de pagamento.
As novas estratégias de rentabilização do “negócio social” passaram também por aumentar o volume de publicidade, que passou a aparecer nos resultados de pesquisa lá para os lados dos vídeos instantâneos do TiKTok.
O Instagram também começou a apresentar anúncios, com conteúdo patrocinado, nos resultados de pesquisa na rede social, numa funcionalidade que arrancou a partir de março deste ano.
Já sabemos o quão aborrecida é normalmente a publicidade para os utilizadores, mas também sabemos o peso relevante que tem nas receitas das plataformas online e por isso, este ano, houve quem se lembrasse de uma nova alternativa de monetização: planos pagos para usar os serviços sem anúncios.
A proposta foi apresentada pela Meta para usar o Facebook e o Instagram, mas mal arrancou e já soma uma série de queixas. Grupos de consumidores na UE acusam a gigante tecnológica de “usar práticas injustas, enganosas e agressivas”. Consideram também que o custo da assinatura sem anúncios no Facebook e no Instagram é muito alta e que as pessoas não devem ser obrigadas a pagar para proteger a sua privacidade.
A transformação do Twitter em X que levou ao Threads
Em 2023 passou um ano desde que Elon Musk comprou o Twitter que entrou numa roda viva de polémicas e novidades que mudaram as características do serviço e até o nome, muitas vezes com algumas críticas à mistura e sempre com a rede social nas primeiras páginas da atualidade tecnológica.
Elon Musk anunciou a oferta de aquisição do Twitter em abril, com planos para fazer da plataforma uma “app para tudo”, já depois de ter comprado quase 10% do capital da empresa.
Clique para ver alguns dos memes que assinalaram a compra do Twitter
A administração da empresa posicionou-se contra a venda, mas acabou por mudar de ideias… e Musk também, mas no sentido inverso. O milionário quis anular a proposta alegando que não tinha tido acesso a informação crítica para avaliar o valor da rede social.
Musk não conseguiu reverter a proposta de compra da rede social e a compra concretizou-se no final de outubro. Meses depois, o multimilionário continua a reconhecer que a decisão não foi a melhor.
Sempre quase em direto no Twitter, Musk mostrou-se a entrar pela primeira vez na sede da rede social em São Francisco determinado a “partir a loiça toda”, de lavatório em punho, um dia antes do negócio ser oficialmente confirmado.
Outra mudança deste primeiro ano de Twitter/X com Elon Musk foi na gestão da empresa. Embora muitos digam que Musk continua a ter um papel decisivo nas decisões diárias da empresa, para não dizer mais, o empresário perguntou na rede social se devia entregar a função de CEO a outro gestor. Os internautas disseram que sim e, meses depois, a vontade foi satisfeita, com a nomeação de Linda Yaccarino para o cargo
Em julho, o Twitter deu mais um passo decisivo rumo a sua nova vida, com a mudança de nome da X, uma alteração que voltou a dar que falar na internet…em palavras e em memes.
A internet assinalou com humor a mudança de nome do Twitter para X, Veja as imagens
Entretanto, os ajustes para otimizar a monetização da rede social e reduzir o impacto dos bots continuam. Uma das últimas novidades reveladas foi o plano para passar a disponibilizar dois modelos de subscrição. O mais barato pretende, sobretudo, ajudar a diminuir o impacto das contas falsas e spam na X.
As mexidas de Elon Musk no Twitter parecem ter suscitado o “desejo” de Mark Zuckerberg em ter um “brinquedo” idêntico e daí ao anúncio do desenvolvimento do Threads foi um passinho. O serviço de mensagens curtas “encostado” ao Instagram acabou por ser lançado em julho, mas só há pouco tempo ficou disponível na Europa (com Portugal incluído).
Recorde-se que nos primeiros dias depois do lançamento inicial, o Threads conseguiu atrair mais de 100 milhões de utilizadores, um número impressionante, até para os donos do grupo.
Logo em seguida, várias empresas de estudos de mercado vieram reportar que o interesse na Threads tinha sido fugaz. Tão depressa como apareceu, começou a desaparecer. Uma percentagem significativa dos que se registaram não continuaram a usar o novo concorrente do Twitter, e os que continuaram a usar passam lá cada vez menos tempo.
Mark Zuckerberg garantia em julho último que a plataforma estava a atrair mais utilizadores recorrentes do que o esperado. “Estamos a ver mais pessoas a regressar todos os dias do que esperava”, admitiu o responsável, durante a apresentação de resultados. Zuckerberg acrescentou que o êxito inicial do Threads apanhou a empresa de surpresa, mas acredita que considerar a plataforma um sucesso não foi uma conclusão precipitada.
Fake news e discurso de ódio ainda não terminaram
A par do perigo do vício e das questões da privacidade, as redes sociais continuam a debater-se com questões como as fake news. Sendo um dos grandes veículos de propaganda em momentos eleitorais, a Meta decidiu antecipar as eleições do próximo ano e clarificar, ainda em 2023, as regras a seguir por quem quiser anunciar no Facebook e Instagram.
Também continua a acontecer que comentários abusivos, assédio e incitação à violência escapem facilmente às ferramentas de moderação de conteúdos das plataformas online, alertou a Agência para os Direitos Fundamentais da UE (FRA), defendendo ser imprescindível a Europa intensificar esforços nessa matéria.
Ao mesmo tempo, há estudos a indicarem que os algoritmos de agregação de conteúdos de algumas redes sociais têm tendência para sugerir conteúdo de teor sexual, a quem demonstra interesse por perfis de pessoas mais novas. E ainda soma a isso publicidade de marcas como a Disney.
Os desafios estão longe de terminar, mas estamos prestes a iniciar mais um ano em que podemos "pagar para ver" - ou para não ver - as novidades que as redes sociais poderão trazer.
Este artigo faz parte do Especial de análise das notícias e tendências de 2023 no mundo da tecnologia. Acompanhe ao longo da semana os artigos publicados pela equipa do SAPO TEK e a opinião exclusiva de especialistas do sector.
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