Como seria de esperar, a pandemia de COVID-19 alterou o calendário de diversas entidades ligadas ao sector espacial, obrigando ao cancelamento e adiamento de missões para 2021. A NASA, SpaceX e a Boeing são algumas das entidades que vão lançar novas missões ao espaço, ou pelo menos, proceder a mais testes.
Em 2020, apesar das dificuldades, houve algumas conquistas importantes, sobretudo a SpaceX que trabalhou o ano todo em sucessivos testes para finalmente transportar astronautas para o espaço, a bordo da sua Crew Dragon para a Estação Espacial Internacional. Essa missão garantiu à empresa de Elon Musk a derradeira certificação de transporte de astronautas, essencial para começar o seu negócio do turismo espacial. Ainda no que diz respeito à SpaceX, apesar da Starship não ter voado até ao espaço como previsto no cronograma, o mais recente teste foi satisfatório, ainda que o protótipo não tenha resistido à aterragem.
Este artigo faz parte do Dossier O melhor e o pior de 2020. E as expectativas para 2021
O novo ano promete ser positivo para as ambições da NASA, que embora tenha visto algumas datas escorregar da missão Artemis, que visa o regresso dos humanos à Lua, incluindo a primeira mulher a pisar o solo lunar, prepara diversas missões para 2021. Para garantir um aceleramento, a agência espacial norte-americana conta com diversas contribuições do sector privado, e nesse sentido, a Blue Origin de Steve Bezos, a Virgin Galactic de Richard Branson, a SpaceX de Elon Musk e a Boeing são alguns dos parceiros nesta nova aventura espacial.
E talvez ainda seja um pouco cedo, mas não se admire se em breve começar a ter contacto com brochuras de publicidade ligados ao turismo espacial. São muitos os planos previstos, que duvidamos que tenham início em 2021, mas pode haver novidades sobre o tema.
Conheça as principais missões previstas para 2021:
1 - Os novos “exploradores” de Marte
Data prevista: fevereiro 2021
A cada dois anos dá-se a maior aproximação da Terra com Marte, abrindo-se a oportunidade do envio de missões ao planeta vermelho. E em 2020 deu-se essa aproximação e durante julho deu-se uma autêntica corrida espacial em direção a Marte, com uma viagem com uma duração de sete meses, prevendo-se chegar ao destino em fevereiro.
Os Emirados Árabes Unidos foram os primeiros a lançar a Hope Probe, aquela que é a primeira missão da UAE, foi lançada do Japão, à boleia de um foguetão Mitsubishi H-2A. A missão pretende dar um empurrão ao seu sector científico, sendo este considerado “o futuro da UAE”.
A sonda não irá aterrar no planeta vermelho, mas ficará na sua órbita durante todo um ano marciano, o que corresponde a 687 dias. O objetivo da missão é obter mais informações sobre a dinâmica do sistema de meteorologia do planeta vermelho, antecipando-se às missões tripuladas que estão planeadas para os próximos anos. Esta missão tem um orçamento de 200 milhões de dólares.
Depois foi a China a lançar a missão Tianwen-1, composta por uma sonda e um rover. O objetivo da missão é a exploração do solo marciano, assim como o seu clima e atmosfera. Os veículos partiram à “boleia” do foguetão Longa Marcha 5 a partir do Centro de Lançamento Espacial de Wenchang, na província de Hainan.
Por fim, foi a vez da NASA lançar o rover Perseverance para o planeta vermelho, prevendo-se chegar ao destino no dia 18 de fevereiro, com a aterragem na cratera Jezero, onde terá existido um lago há 3,5 mil milhões de anos e a foz de um rio. O rover Perseverance está a ser preparado para as exigências de uma missão todo o terreno. Já ganhou pernas e rodas, um braço até um helicóptero. Depois de ter treinado os “moves” para a futura viagem de exploração, o Perseverance passou no primeiro teste de condução e, mais recentemente, aprendeu a manter-se equilibrado.
2 - Segundo teste do Starliner da Boeing
Data prevista: 29 março 2021
Para além do Dragon Crew da SpaceX, existem outros veículos em teste com o objetivo de levar astronautas para o espaço e ISS. É o caso da Boeing e do seu Starliner, que vai voltar a tentar chegar à Estação Espacial Internacional no final de março. É uma nova tentativa, mais de um ano depois da falha do primeiro teste, em vésperas de Natal de 2019.
A missão não tripulada falou devido a uma anomalia no sistema de contagem decrescente da cápsula, causando a tomada de uma rota incorreta e um consumo de combustível acima do previsto, impossibilitando o contacto com a ISS. A cápsula poderia ter sido mesmo destruída devido aos erros de software. Em agosto, a empresa anunciou o regresso aos testes para dezembro de 2020, mas a data escorreu agora para março. Se o teste for concluído com sucesso, é possível que haja uma missão de teste tripulada no final do ano.
3 - Primeiras cargas de equipamentos a chegar à Lua para a missão Artemis
Data prevista: junho e outubro 2021
O programa Artemis está a ser preparado pela NASA naquela que é a próxima expedição à Lua. Mas mais que uma visita, a Agência Espacial americana pretende uma estadia prolongada, e por isso tem lançou diferentes concursos a empresas privadas para encontrar as diversas soluções que necessita. Para isso, criou a CLPS (Commercial Lunar Payload Services) numa oportunidade para as empresas espaciais contribuírem com serviços relacionados com a Lua, nomeadamente o transporte de carga.
A Astrobotic foi uma das empresas escolhidas pela NASA, tendo recebido quase 200 milhões de dólares para a construção do rover VIPER, que tem o objetivo de explorar o polo sul da Lua, numa missão apenas prevista para 2023. Mas antes disso, já em junho, vai enviar o Lander Peregrine com a primeira carga de 28 “encomendas” da NASA. Esta missão ficará marcada, se tudo correr bem, por ser a primeira empresa privada a aterrar na Lua.
Segue-se em outubro outra missão de carga, neste caso liderada pela Intuitive Machines, que vai lançar o lander Nova-C, à boleia de um Falcon 9 da SpaceX. No depósito leva mais cinco pacotes da NASA e mais outros tantos de outros grupos.
4 - O fim da missão da Juno, o observador de Júpiter
Data prevista: fim de junho 2021
Se hoje temos fotografias fantásticas de Júpiter, o grande protagonista é a nave Juno, que se encontra em órbita do planeta desde julho de 2016. A sonda ajudou a desvendar alguns dos mistérios do planeta, incluindo a famosa mancha grande vermelha, cuja largura de 16.350 quilómetros é superior ao diâmetro da Terra.
Os dados obtidos sobre o seu campo magnético e gravitacional, a atmosfera e geologia do planeta foram muito importantes para a comunidade científica. No entanto, a sua missão vai chegar ao fim no dia 30 de julho, naquela que será o seu derradeiro objetivo: mergulhar na vasta atmosfera, recolhendo o máximo de dados possível, antes das elevadas pressões destruírem a nave.
5 - Luna 25: Rússia quer regressar à Lua
Data prevista: outubro 2021
Parece um déjà-vu dos tempos de rivalidade entre a Rússia e os Estados Unidos para colocar o primeiro Homem na Lua. Apesar da NASA manter os seus planos de regresso ao satélite na praça pública, a agência espacial russa Roscosmos tem mantido esta questão com maior discrição. O nome do Lander escolhido, Luna 25, representa uma homenagem ao programa soviético lunar dos anos 1970. O último a ser enviado foi o Luna 24, daí o nome da nova missão ser a sua continuação honorária.
O lander será enviado para o polo sul da Lua, e servirá para testar novas tecnologias de aterragem que a Rússia está a desenvolver para futuras missões espaciais robóticas. O lander vai também carregar cerca de 30 quilos de diversos instrumentos científicos para estudar o solo lunar, incluindo um braço robótico para recolher amostras do solo e uma solução de perfuração.
A missão está planeada para outubro, depois de mais de 20 anos de adiamentos sucessivos do envio da Luna. O lander vai viajar à boleia do foguetão Soyuz-2.1b.
6 - Os primeiros cidadãos privados a chegar ao espaço
Data prevista: outubro 2021
Todas as atenções estão voltadas para a Axiom Space 1, aquela que será a primeira viagem privada turística, com o transporte de pessoas privadas à Estação Espacial Internacional. A SpaceX aliou-se à Axiom Space, assim como à Space Adventures, para colocar turistas no espaço. Assim, em outubro, a empresa de Elon Musk, vai enviar o primeiro grupo de visitantes privados à ISS, a bordo da Crew Dragon.
Espera-se que o grupo, composto por quatro astronautas fique na Estação entre 8 a 10 dias. Um dos astronautas é Michael López-Alegría, ex-NASA. Mas segundo os rumores, há grandes possibilidades da estrela de Hollywood Tom Cruise e o realizador Doug Liman fazerem parte da comitiva, não para passear, mas para trabalhar num filme a ser filmado na ISS.
7 - Inauguração do telescópio especial James Webb
Data prevista: 31 de outubro 2o21
O telescópio espacial James Webb da NASA continua a superar os testes críticos de preparação para o seu lançamento, mas tem sido adiado constantemente, desta vez devido à pandemia de COVID-19. Depois de a equipa de engenheiros da agência espacial norte-americana ter testado o enorme espelho principal, os especialistas passaram mais de 15 dias, em julho de 2020, a verificar se o software do sucessor do Hubble está preparado para o lançamento.
Depois foi colocado num teste de “sobrevivência” às condições extremas semelhantes ao lançamento de um foguetão no espaço. O observatório espacial passou nos testes de ruídos, os chocalhos e vibrações associados ao lançamento. Estes testes simulam o dia do lançamento do telescópio ao espaço, assim como a sua operação em órbita.
8 - NASA testa cápsula Orion e foguetão SLS 1
Data prevista: novembro 2021
A missão Artemis tem três fases, correspondente a três naves, originando no envio da tripulação à Lua em 2024. O Artemis 1 está previsto para novembro deste ano e servirá para testar a cápsula Orion não tripulada e o seu foguetão SLS 1 (Space Launch System).
Em 2022 será lançado o Artemis II, desta vez tripulada para orbitar a Lua. Por fim, em 2024, está previsto a chegada dos astronautas ao satélite natural da Terra, e a partir daí, pelo menos uma visita por ano.
Relativamente à primeira missão da Artenis, que será lançada em novembro, prevê-se então um teste não tripulado da cápsula, o primeiro desde 2014, e para lá da órbita da Terra. Espera-se que a Orion faça um passeio de 25 dias na sua viagem à Lua e regresse a casa em segurança. Será um teste tanto ao veículo em si, e respetivo hardware, como o seu software, assim como o suporte de vida para os astronautas. Para testar a radiação, a cápsula terá manequins nos lugares sentados, equipados com sensores para medir o seu nível.
Já o foguetão SLS 1 já se encontra pronto há cerca de um ano, tendo realizado diversos testes. O foguetão foi transportado para a Stennis Space Center, perto de St. Louis, no Mississippi, a bordo da balsa Pegasus, percorrendo o mesmo percurso histórico do foguetão Saturn V para testes da Missão Apollo.
9 - Início da construção da estação espacial chinesa
Data prevista: início de 2021
Talvez se lembre a pequena estação espacial chinesa Tiangong-2, que foi lançada ao espaço em setembro de 2016, à boleia do foguetão March-2F. A estação serviu como base a cientistas chineses e testes de tecnologias espaciais, acabando por ficar mais tempo em órbita do que o esperado, cerca de mil dias. Em 2019, a estação foi conduzida para o seu destino final, desintegrando-se na reentrada da atmosfera da Terra.
Em 2021 a China pretende dar continuidade ao programa Tiangong, e a próxima fase é a construção de uma base espacial orbital modular, com cerca de um quinto do tamanho da Estação Espacial Internacional. A primeira parte está prevista para 2021, mas sem uma data específica ainda. Ao todo, a agência espacial chinesa tem 11 missões previstas para os próximos dois anos para montar este autêntico LEGO do espaço. Prevê-se que a base tenha uma vida de 10 anos, recebendo grupos de três astronautas que vão sendo rodados.
10 - Virgin Orbit regressa aos testes do LauncherOne
Data prevista: início de 2021
A Virgin Orbit, do grupo Virgin Galactic de Richard Branson, ainda não conseguiu completar um teste com sucesso do seu LauncherOne. Trata-se de um foguetão, que ao contrário de todos os outros que é lançado na vertical a partir do solo, este é lançado diretamente do ar, a partir do veículo Cosmic Girl, que já provou ser capaz de transportar e lançar os mesmos.
No último teste, em maio de 2020, foi detetada uma anomalia, que ditou o fim de missão logo no início do voo. O foguetão devia desacopolar-se do avião, para que seguisse em direção à entrada em órbita, mas isso não aconteceu. Felizmente não houve incidentes graves.
Espera-se agora uma nova data neste início do ano, depois de um adiamento de dezembro, mais uma vez devido à COVID-19. O sucesso desta missão é essencial para a Virgin manter o seu cronograma para o resto do ano.
11 - New Shepard e New Glenn da Blue Origin preparam-se para fazer ir ao espaço
Data prevista: 2021
A Blue Origin de Jeff Bezos está numa espécie de corrida, para já, a perder para a SpaceX de Elon Musk. Os planos da empresa espacial privada são muito ambiciosos e 2021 pode revelar-se crucial para concretizar o sonho de transportar astronautas para o espaço. Aliás, a empresa está bastante confiante de que será a escolhida pela NASA para a terceira fase do programa Artemis, no envio dos astronautas à Lua, no que diz respeito ao motor que vai alimentar a cápsula Orion da NASA.
A empresa compete com a SpaceX e Dynetics para a construção do motor, motivados por um investimento de mil milhões de dólares distribuídos pelas três, na preparação da missão tripulada Artemis 3.
A New Shepard já foi lançada 13 vezes, tendo os seus boosters provado que podem ser reaproveitados, depois de aterrarem verticalmente no solo. A empresa está também numa corrida ao negócio do turismo espacial e o próprio magnata, dono da empresa, poderá ser o primeiro passageiro privado.
Outro projeto que está a ser desenvolvido pela empresa chama-se New Glenn, e trata-se do verdadeiro concorrente do Falcon Heavy da SpaceX, afirmando que é maior e mais poderoso. A empresa quer começar os testes e lançar o foguetão até ao final de 2021.
12 - Astroscale inicia testes de limpeza de lixo espacial
Data prevista: março 2021
Lançado da base do Cazaquistão, o foguetão russo Soyuz vai dar boleia ao sistema ELSA-d da Astroscale. Trata-se de uma empresa japonesa que está a preparar-se para limpar os detritos espaciais, de forma segura e responsável. A empresa está a trabalhar com a JAXA, a agência espacial japonesa, nesta missão ecológica.
A organização passou no processo de seleção e vai participar na primeira fase de limpeza do projeto Commercial Removal of Debris Demonstation (CRD2).
A Astroscale vai construir, lançar e operar um satélite que recolherá informações acerca de componentes de um antigo foguetão japonês, o qual será removido na segunda fase do CRD2. De forma a preparar uma remoção segura e bem-sucedida, a empresa quer compreender quais são os movimentos realizados pelo equipamento, e perceber que detritos se encontram à sua volta. A JAXA espera completar o primeiro momento da missão de limpeza até o final de 2022.
Segundo o seu responsável, a Astroscale concentra-se na remoção dos detritos que já existem a flutuar pelo espaço, sendo que já se está a preparar para lidar com a “morte" dos satélites da SpaceX ou da Amazon.
Este artigo faz parte do Dossier O melhor e o pior de 2020. E as expectativas para 2021
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